Nas três últimas décadas a suinocultura acumulou e vem acumulando ganhos significativos em produtividade, fortemente sustentados pela evolução da genética cada vez mais ajustada à demanda do mercado, com técnicas e métodos de melhoramento que permeiam toda a pirâmide de produção, trazendo ganhos expressivos em prolificidade, em eficiência de crescimento e em qualidade de carne.
Paralelamente à genética, a ciência da nutrição animal vem desenvolvendo dietas para que os animais possam expressar todo o potencial genético, considerando os diversos desafios presentes na produção de suínos, dentre eles, a grande variação de clima no Brasil, caracterizada por larga amplitude térmica dentre as estações nas diversas regiões do país, sem a contrapartida em investimentos em instalações para adequá-las a essas situações.
A adequada alimentação não se resume a dietas bem elaboradas e ajustadas aos ingredientes disponíveis regionalmente, buscando o melhor o custo, ela vai além e é fundamental considerar toda a operação de escolha dos ingredientes, respeitando os padrões de qualidade e o armazenamento de forma segura. É importante que todo o trabalho de processamento seja realizado sob orientação de um especialista no setor industrial, para garantir que a ração oferecida aos animais esteja de acordo com a formulação elaborada pelo nutricionista e na forma correta, possibilitando que eles se desenvolvam conforme a expectativa de cada fase.
Outros fatores de produção, tais como: saúde animal, ambiência, instalações etc., tiveram também grandes evoluções tecnológicas e contribuíram sobremaneira para os ganhos em produtividade. No entanto, quando falamos sobre gestão e gerenciamento, raramente encontramos evolução do modelo e do método de gerir os negócios, sendo esse, provavelmente, um ponto crítico e limitante para a melhoria do resultado econômico da atividade.
A definição do Prof. Vicente Falconi sobre o que é gerenciar resume e destaca a importância dessa função. Para ele, gerenciar é o ato de buscar as causas (meios) da impossibilidade de se atingir uma meta (fim), estabelecer contramedidas, montar um plano de ação, atuar e padronizar em caso de sucesso.
A partir dessa definição, fica claro que tudo decorre da meta ou das metas, e caso elas não estejam muito bem claras, as ações podem até ser eficientes, porém, não necessariamente para alcançar algo que esteja alinhado com as diretrizes do negócio.
Um método longamente utilizado para a prática do controle e o atingimento de metas é o PDCA:
P (Plan): Planejar:
O padrão é instrumento básico do gerenciamento da rotina do trabalho diário. É o instrumento que indica a meta (fim) e os procedimentos (meios) para a execução dos trabalhos, de tal maneira que cada um dos envolvidos tenha condições de assumir as responsabilidades de sua função. Como exemplos da aplicação desse procedimento padrão, podem ser citados: métodos de inseminação artificial, cuidados com o leitão recém-nascido, programa de vacinação dos animais, etc. O padrão é o próprio planejamento do trabalho a ser executado pelo indivíduo ou pela organização.
Ainda, para se atingir novas metas ou novos resultados, é necessário modificar a “maneira de trabalhar”, ou seja, modificar os procedimentos operacionais padrão. Assim, é preciso identificar a nova meta ou o problema em questão, reconhecer as características do problema, descobrir as causas principais ou pontos de melhoria e estabelecer as contramedidas às causas principais ou para as melhorias. Tais contramedidas deverão ser estruturadas em um “Plano de ação”.
Em resumo, o segredo está na observação da seguinte sequência durante o processo de planejamento:
1. Estabelecer com clareza aonde você quer chegar (meta, resultado, oferta) com o seu item de controle;
2. Levantar informações sobre o tema em questão;
3. Verificar as causas que estão impedindo de chegar ao objetivo (análise);
4. Propor ações ou contramedidas para cada causa importante (isto é o Plano!)
Importante: toda meta de melhoria gera um Plano de Ação.
D (Do): Executar
Ideia e criatividade são formidáveis, importantes, mas só valem 20% do trabalho. Se não houver 80% do tempo dedicado à execução, implementação, muito provavelmente não se conseguirá realizar o que foi planejado.
Elaborado o planejamento, será necessário treinar e capacitar a equipe para que o trabalho seja executado. Talvez resida nessa fase – treinamento e capacitação – a origem de grande parte das causas de insucesso, tanto nas metas de melhorias quanto nas metas de manutenção.
C (Chek): Avaliar
É preciso verificar os efeitos do trabalho executado e ficar atento às análises dos dados e das potenciais melhorias do processo. Além disso, ter um painel de controle (gestão à vista) para as etapas críticas dos processos é essencial para o sucesso da atividade. Não se consegue realizar uma boa gestão sem realizar análises dos indicadores e dos principais dados. Todo processo de implementação está mais focado em acompanhar e avaliar do que simplesmente revisar indicadores. Análises e revisões diárias, semanais, mensais, de acordo com o nível de importância e a frequência dos resultados das operações, deverão ser realizadas.
Nessa etapa, é necessário estabelecer os itens de controle para monitorar aquelas características que estão causando problemas ou estão fora da meta. O melhor é começar com poucos itens e somente os prioritários. E, posteriormente, desenvolver junto com o grupo outros indicadores que também poderão ser importantes.
A (action): Atuar
A atuação nos processos deverá ocorrer sempre em função dos resultados obtidos. Quando o plano de ação não for efetivo, deverão ser retomadas as observações buscando o reconhecimento das características do problema, para análise e descoberta das causas principais, de modo a ajustar o plano e executá-lo novamente. Quando o plano de ação for efetivo, deve-se padronizar os procedimentos e estruturá-los, caso seja um processo crítico.
Considerações finais:
A gestão é um elo entre os recursos e os objetivos (metas) de uma empresa. Na suinocultura não é diferente: a gestão é um ponto crítico e o profissional responsável pelo gerenciamento precisa a todo momento combinar os meios na proporção adequada, sendo, para isso, necessário tomar decisões constantemente num contexto de restrições, pois, nenhuma organização dispõe de todos os recursos, e, além disso, a capacidade de processamento de informações do ser humano é limitada.
No entanto, por que então quase ninguém planeja? As respostas mais comuns são: “estamos ocupados demais trabalhando”, “não dá tempo”. Chegou o momento de incluir uma nova pergunta: “Para onde estamos indo”? Quando não se tem bem claras as suas metas, qualquer caminho servirá.
A grande maioria das pessoas está focada em trabalhar no negócio, quando deveriam trabalhar o negócio. É nesse contexto que esse artigo se propõe a auxiliar a iniciar na prática da gestão. Muitas outras ferramentas já existem nesse sentido, mas o primeiro passo pode ser dado com o apresentado até então.
*Edmo Carvalho, Gerente Nacional de Suínos da Agroceres Multimix