Se no Brasil a economia está cada vez mais dependente do agronegócio, nos Estados Unidos é o agronegócio que depende cada vez mais da maior economia do planeta. Com a renda em queda, por conta das cotações em baixa, a contribuição do campo na geração de riquezas não apenas diminui como cria uma forte e nociva dependência do poder público norte-americano. Não por acaso, a nova Lei Agrícola, que entrou em vigor em 2014 e vai regular a concessão de subsídios até 2019, concentra o apoio basicamente na equalização dos preços.
Quanto mais a cotação internacional das commodities cai abaixo de um patamar mínimo estabelecido pelo governo, mais aumentam a ajuda ou os subsídios do governo ao produtor. Nesse sentido, a se confirmarem as grandes safras previstas para América do Sul e a depender do tamanho da aposta dos Estados Unidos no cultivo deste ano, o ciclo 2015/16 será o grande teste à nova Lei Agrícola. A reforma da legislação chega exatamente num momento em que os preços estão em baixa histórica no mercado internacional. Em um ano a cotação da soja, por exemplo, perdeu perto de 30% do seu valor.
Na semana passada, durante abertura do Agricultural Outlook Forum, o economista chefe do USDA, Robert Johansson, explicou que os preços das commodities têm sido negociados para baixo nos últimos 60 anos. “Em termos reais, os ganhos de produtividade resultaram em tendência de queda nas cotações desde a 2.ª Guerra Mundial.” Para 2015 e nos próximos 10 anos, Robert prevê um “crescimento da produção igual ou acima da demanda, refletindo em declínio ou manutenção dos preços no período”. Ele acredita que a produção mundial vai continuar a crescer, mas a taxas mais adequadas, mais de acordo com o ritmo da demanda, dos preços e da rentabilidade.
O agronegócio representa menos de 10% do chamado Gross Domestic Product (GDP), o Produto Interno Bruto (PIB) da economia americana. Com uma participação relativamente pequena na economia nacional, o que justifica o forte apoio ao setor é o lobby que vem do Congresso Nacional. Ao lado da União Europeia, os produtores norte-americanos têm um dos maiores lobbies protecionistas do agronegócio mundial.
Já no Brasil, onde o PIB cresce perto de zero, apesar de reduzir faturamento e renda o agronegócio continua dando suporte à economia. Com crescimento estimado para este ano próximo de 2%, o PIB do agronegócio assume o papel de protagonista e a responsabilidade de evitar uma possível recessão. Em 2015 o setor deve crescer a uma taxa menor que a verificada em 2014, que foi menor do que em 2013. Entretanto, apesar de os preços das commodities seguirem pressionados, a variação no PIB do setor continua a ser positiva. O fôlego vem do câmbio, que descola para cima o preço pago pela produção brasileira.
Eugenio Stefanelo, professor da FAE Business School e analista da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) lembra que em 2013 o PIB do agronegócio brasileiro cresceu acima de 3%, no passado um pouco mais de 2% e em 2015 deve ficar entre 1,5% e 2%. “Um crescimento menor, mas uma responsabilidade maior”, disse o economista. “No contexto da economia nacional é o setor que pode evitar a recessão ou então conter uma taxa maior de retração no país.”
Previsão de area menor para soja divide opiniões
Outro sinal de que o agronegócio perde fôlego na economia dos Estados Unidos é a previsão de área menor, inclusive para soja e milho, em 2015. Projeções iniciais apresentadas pelo USDA no Outlook Forum apontam para um recuo de 1,3% na extensão cultivada, puxada pelo algodão (-12,1%), trigo (-2,3%), milho (-1,8%) e soja (0,2%). Mas esses índices não são definitivos e não há consenso entre os especialistas.
Para Daniel Basse, da consultoria AgResource, de Chicago, os números estão subestimados e o plantio, principalmente de soja, deve ter uma área maior.
Já para Thomé Luiz Freire, que acompanhou o evento nos EUA pela Superintendência de Gestão da Oferta da Conab, a considerar o atual nível dos estoques mundiais e dos preços das commodities, não será nenhuma surpresa se os números vieram ainda menores. O primeiro relatório oficial de intenção de plantio nos Estados Unidos será conhecido em 31 de março.
Menos de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos são compostos pelo agronegócio, enquanto no Brasil o índice passa de 20%, números que mostram a força da economia norte-americana e a dependência da brasileira.