A exportação de grãos pelo Arco Norte se consolida como nova opção logística para o agronegócio brasileiro puxada por dois portos situados no Nordeste do país. Juntos, os terminais de Itaqui, em São Luís (Maranhão) e Cotegipe, em Salvador (Bahia), movimentaram 5,1 milhões de toneladas de soja em 2014. O volume equivale a 11,2% dos embarques nacionais, numa participação que tende crescer ainda mais com a conclusão de investimentos que pretendem alavancar a capacidade operacional da região no curto prazo.
Sozinhos, os dois terminais já respondem por metade da movimentação de grãos do Arco Norte. A liderança é do porto maranhense, que ganha novo fôlego a partir desta safra com o início das operações do Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram), no Porto de Itaqui. Financiada pelo setor privado, a estrutura terá capacidade para movimentar 2 milhões de toneladas de grãos em 2015, e a meta é chegar a 10 milhões de toneladas em menos de uma década, detalha o porta-voz do projeto, Luiz Claudio Santos.
O grande trunfo do Tegram será a integração com a ferrovia Norte-Sul, controlada pela VLI, braço losgístico da Vale, e que garante uma conexão direta entre a região produtora de Porto Nacional (centro de Tocantins) e a cidade Açailândia (Oeste de Maranhão). De lá as cargas seguem para São Luís pela Estrada de Ferro Carajás (EFC), também controlada pela Vale. No auge das operações, esse modal vai responder por 70% da movimentação do terminal, projeta Santos.
No contraponto, a estrutura de Cotegipe ainda é fortemente concentrada no modal rodoviário. As cargas mais próximas, oriundas do Oeste da Bahia, em praças como Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, precisam percorrer 700 quilômetros sobre rodas para serem encaminhadas à exportação, elevando os custos.
Para reverter esse cenário, o setor aguarda o avanço das obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), que deve abrir uma nova rota para a exportação de grãos via Porto de Ilhéus, no Sul baiano. O projeto deve ser concluído em 2018. “Quando essa obra ficar pronta vamos poder reduzir os gastos com transporte e ainda garantir o frete de retorno com cargas de fertilizante”, prevê o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Júlio Cézar Busato.
Enquanto esses projetos não avançam, o consórcio responsável pelo Tegram defende que será viável transportar cargas oriundas de toda a fronteira agrícola do Matopiba (formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), além do Oeste de Mato Grosso e Norte de Goiás. “O Porto de Itaqui não está restrito ao Maranhão. Cada vez mais, ele será uma estrutura focada em atender toda a região da nova fronteira agrícola”, defende o CEO da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), Ted Lago.
Novos terminais potencializam mercado de milho
O aumento na capacidade exportadora dos portos do Arco Norte promete dar novo fôlego à expansão das lavouras de milho na fronteira agrícola do Matopiba. Atualmente, a maior parte da produção regional é direcionada ao abastecimento das granjas avícolas locais, já que o alto custo com frente inviabiliza o escoamento do cereal para locais mais distantes. “Esse mercado doméstico compra um volume baixo. Isso impede que o agricultor produza em escala, já que o risco é alto. A partir de agora essa realidade tende a mudar”, defende o porta-voz do Tegram, Luiz Claudio Santos.
A janela de exportação aberta pelo Tegram ocorre em meio à expansão da oferta do cereal na região. Conforme estimativa da Expedição Safra Gazeta do Povo, o Matopiba vai colherá uma safra 3% maior neste verão, chegando a 4,85 milhões de toneladas, num movimento contrário ao observado no resto do país, que terá a primeira safra do cereal reduzida no ciclo 2014/15.
10,5 milhões de toneladas de soja foram exportadas pelos principais portos do Arco-Norte em 2014. Além dos dois terminais nordestinos, complexo logístico também contempla os portos de Barcarena e Santarém, no Pará, além estrutura instalada ao redor do rio Amazonas, que se concentra em Manaus (AM).