As boas perspectivas vislumbradas para o mercado de carne suína motivaram o investimento de mais de R$ 160 milhões nas instalações da Adelle Foods, marca pertencente ao Grupo Labema, cuja planta industrial será inaugurada nesta sexta-feira, em Seberi, no Noroeste do Rio Grande do Sul. A empresa foi constituída em 2011 e, no ano seguinte, deu início ao projeto de estruturação da indústria, que ocupa 26,37 mil metros quadrados de uma área de 450 mil metros quadrados cedida pela prefeitura de Seberi.
O investimento feito apenas na fábrica e nas instalações foi de R$ 130 milhões, garantidos com recursos dos sócios e de bancos. Os principais financiadores desse montante foram os bancos BRDE, com R$ 60 milhões, e Banrisul, com R$ 14 milhões, por meio de repasses do Bndes – ambos os créditos têm dois anos de carência e oito anos para serem quitados. O grupo está investindo R$ 30 milhões no campo, montante que será dedicado à aquisição de leitões, rações, medicamentos, insumos e assistência técnica para produtores parceiros. A empresa assinou, ainda, um convênio com o Banrisul para disponibilização de R$ 15 milhões em linhas de crédito para construção de granjas nas propriedades rurais parceiras.
Segundo o diretor financeiro da Labema, Carlos Fávero, a Adelle Foods já experimentou crescimento mesmo antes da inauguração: durante o processo de elaboração do frigorífico, negociações positivas somadas ao otimismo dos sócios com o setor fizeram com que o projeto dobrasse de tamanho, chegando à atual configuração. O primeiro ponto favorável foram as condições negociadas com o Fudopem, que financiará por cinco anos parte do ICMS devido a uma taxa de 3,5% ao ano. Já o segundo aspecto diz respeito ao próprio mercado consumidor interno e externo.
“Entre as proteínas, a carne que tem mais chance de crescer é a suína”, diz. No mercado interno, o consumo per capita varia de 15 a 16 kg, quantia baixa na comparação com outros países, como Espanha e Alemanha, com média de consumo de 70 kg, aponta o diretor. “Um quilo de aumento no consumo anual por parte dos brasileiros se transforma em um mercado muito grande”, avalia, pontuando que o cenário é propício para isso. A elevação no preço da carne bovina, motivada pela opção de produtores que trocaram a pecuária pela produção de soja, é um ponto favorável. “Com abertura do mercado chinês, o preço vai aumentar mais ainda, já que a oferta ficará ainda mais enxuta para a demanda”, sustenta.
A empresa vai produzir tradicionais cortes suínos, congelados e resfriados, e derivados, como embutidos industrializados, mas contará, também, com linhas industrializadas mais sofisticadas, como salames e defumados especiais. O marketing do grupo vai se amparar na apresentação da proteína suína como benéfica para a saúde. “Hoje, a carne suína é uma das mais saudáveis: na comparação com a carne bovina e com as aves, é a que menos tem colesterol”, defende.
O frigorífico inicia as operações absorvendo 50% da sua capacidade industrial, com 2 mil abates por dia, e deve atingir a totalidade da capacidade no início de 2018, quando os abates diários chegarão a 4 mil. Para a produção de um turno, com 2 mil abates, a fábrica dependerá de 600 funcionários. A perspectiva é chegar a mil empregados quando a operação chegar a 100% da capacidade industrial. “Para cada emprego direto, a projeção é de gerar dois indiretos, porque envolve também famílias produtoras e toda cadeia de infraestrutura necessária, como transportes”, detalha Fávero.
Somente neste ano, a Adelle Foods deve faturar R$ 100 milhões, ampliando esse montante para R$ 300 milhões no ano que vem. Em 2018, a projeção é de alcançar R$ 600 milhões. A marca aposta na distribuição para os estados das regiões Sul e Sudeste, que devem responder por 60% do faturamento do grupo. Os outros 40% devem vir do mercado externo. Os dois países prioritários para exportações são a Rússia e a China. “Nossa expectativa em relação ao consumo mundial da carne suína é positiva, principalmente com a elevação do consumo na China”, defende Fávero, sinalizando que a planta ainda depende de habilitação para exportação.
Fábrica gerará 100% da energia elétrica usando dejetos de propriedades rurais como combustível
O diretor da fábrica, Carlos Fávero, clássica a planta como uma das mais modernas do setor. Entre os diferenciais, destaca o tratamento de dejetos das propriedades rurais como o principal combustível. “Não teremos custo com fornecimento energético e temos o ganho ambiental”, evidencia, citando desconhecer outro frigorífico com a mesma prática.
A proposta do grupo é retirar os dejetos das propriedades rurais e concentrá-los em biodigestores que transformarão os dejetos em biogás. Este, ao ser canalizado para uma caldeira de alta pressão, é queimado e transformado em vapor, acionando uma turbina geradora de eletricidade. A perspectiva é de gerar 1 megawat de energia, suficiente para manter a necessidade fabril e ainda gerar excedente para injetar na rede da RGE.
Fávero conta que a empresa investiu em máquinas modernas, que reduziram em 40% a necessidade de mão de obra e possibilitaram os resultados socioambientais projetados. O diretor acrescenta que o procedimento de tratamento ambiental também prevê tratar 100% da água utilizada pela empresa.