O ritmo de vendas antecipadas da segunda safra de milho do Brasil nesta temporada é lento, com produtores apostando em eventual repique de preços e com compradores esperando queda nas cotações a partir da entrada de um colheita recorde nos próximos meses, disseram analistas nesta terça-feira.
A colheita da chamada “safrinha” da temporada 2014/15 já começou em regiões isoladas do Paraná, segundo principal Estado produtor, atrás apenas de Mato Grosso. A projeção de algumas consultorias é de uma produção recorde de mais de 50 milhões de toneladas no país neste ciclo.
A consultoria Safras & Mercados avalia que a comercialização em Mato Grosso esteja entre 25 e 30 por cento do total esperado, ante cerca de 40 por cento no mesmo período de 2014 e mais de 60 por cento em 2013.
“O produtor fica esperando, fica olhando… Eles plantam muito, mas esquecem da comercialização”, afirmou o analista de grãos da Safras, Paulo Molinari. “Já teve preços excepcionais (no início do ano) para as características de Mato Grosso, e vendeu-se muito pouco.”
No Paraná e em Mato Grosso do Sul, as vendas estão entre 20 e 25 por cento, ante 30 a 35 por cento na mesma época da temporada passada, estimou Molinari.
“É baixa a comercialização. Nem a safra ‘normal’ (de verão) o pessoal está vendendo bem”, relatou João Cláudio Pereira da Silva, da Zairam Corretora de Mercadorias, de Maringá (PR).
Segundo o Cepea, os preços do milho estão 6 por cento abaixo dos registrados um mês atrás e 13 por cento abaixo de dois meses atrás, quando as cotações na bolsa de Chicago estavam mais altas e o dólar estava mais valorizado ante o real, tornando os preços mais elevados na moeda brasileira.
“Está devagar porque o preço não está muito atraente para o vendedor”, destacou o diretor de inteligência de mercado da corretora Cerealpar, Steve Cachia.
Ao mesmo tempo que o Brasil colhe sua maior safra de milho, os Estados Unidos –maior produtor e exportador do grão– realizam o plantio, com colheita prevista para outubro.
“É um jogo de pôquer… Os produtores apostaram que possa ter algum problema na safra americana, e com isso se salve a pátria”, disse Molinari.
Por outro lado, a perspectiva de entrada de um volume gigantesco de milho no mercado brasileiro coloca os compradores, principalmente as indústrias processadoras, numa posição confortável para esperar cotações mais baixas.
“É natural que o comprador do mercado interno não tenha pressa para comprar milho”, destacou o analista da Safras.
A projeção oficial da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é que o Brasil tenha oferta total de um recorde de mais de 93 milhões de toneladas de milho nesta temporada, somando produção de cerca de 79 milhões e estoques iniciais de mais de 14 milhões.
Neste cenário, o Brasil deverá consumir um recorde de 55 milhões de toneladas do cereal e exportar um grande volume, de 21 milhões de toneladas, na estimativa do governo.