Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Saúde Animal

Opinões sobre o fim da vacinação contra aftosa no Paraná

O setor tem se mobilizado por meio de audiências públicas para colocar o tema em debate, visando sanar as principais dúvidas e buscar consenso sobre a questão.

Opinões sobre o fim da vacinação contra aftosa no Paraná

O Paraná concluiu há duas semanas o que pode ser a última campanha de vacinação contra a febre aftosa. O governo estadual vem agindo concretamente para pleitear junto à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) a conquista do status de área livre da doença sem vacinação, mas a medida ainda divide a opinião do setor. Os questionamentos vão desde o risco de reaparecimento da doença até o impacto econômico em feiras agropecuárias. No contraponto, a conquista do reconhecimento internacional é vista como ponte para a abertura de mercados maiores e mais rentáveis à proteína paranaense. O setor tem se mobilizado por meio de audiências públicas para colocar o tema em debate, visando sanar as principais dúvidas e buscar consenso sobre a questão. Em meio a essas discussões o Agronegócio Gazeta do Povo reúne dois pontos de vista diferentes que fazem ponderações sobre a questão.

Aftosa: a hora é agora para parar de vacinar
Ágide Meneguette, presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep)

O Paraná, livre de febre aftosa sem vacinação, é também a oportunidade de dizer ao mundo que somos um país com um sistema sanitário eficiente. Para chegar a esse estágio estão sendo respeitados os protocolos e normas internacionais, auditadas pelo Ministério da Agricultura e pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

O estado está cumprindo a agenda e se adequando às exigências, entre elas a nomeação dos técnicos da Agencia de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) no último dia 1º, e a construção das barreiras nas divisas com os estados limítrofes.

Por si só, isso já seria suficiente para defender a suspensão da vacinação, considerando que o Paraná pode se diferenciar ao oferecer ao mercado mundial, além da segurança alimentar, um produto com qualidade e valor agregado, que se traduzirá em lucro para o pecuarista.

Esse cenário gera um efeito multiplicador com benefícios econômicos e sociais na suinocultura, avicultura, bovinocultura de leite e de corte com seus derivados contribuindo para o desenvolvimento do Estado. Já estão confirmados investimentos das cooperativas paranaenses de R$ 1,5 bilhão em novos frigoríficos de suínos nos próximos cinco anos.

Um estudo sobre a retirada da vacinação da febre aftosa, realizado pela Universidade de Brasília, concluiu que no pior cenário possível a estratégia traz um retorno para a sociedade de mais de R$ 2 bilhões.

Na suinocultura, o Paraná é o terceiro maior produtor nacional de carne suína, a mais consumida no mundo, podendo atingir mercados como o Japão e a Coreia do Sul, em que a remuneração pode chegar a 40% a mais por tonelada na comparação com países importadores menos exigentes.

São 30 mil produtores comerciais, número que chega a 135 mil, se somados os produtores ocasionais ou de consumo próprio. A suinocultura paranaense gera em torno 200 mil empregos diretos e 300 mil indiretos. São 22 frigoríficos inscritos no Serviço de Inspeção Federal e 55 frigoríficos inscritos no Serviço de Inspeção Estadual.

A avicultura gera receitas de US$ 2,36 bilhões. São 60 mil empregos diretos e 600 mil indiretos. Mais de 18 mil produtores integrados e 35 mil pequenos agricultores que fornecem insumos.

Na bovinocultura de leite, temos 118 mil produtores e 318 indústrias. O aumento da produção e a melhoria da qualidade em breve nos levará a um excedente de leite que poderá abastecer o mercado internacional.

Independente de todos os benefícios citados, o Paraná livre de febre aftosa sem vacinação atende ao plano de ação de 2011 a 2020 do Programa Hemisférico de Erradicação da Febre Aftosa (PHEFA), que prevê a América do Sul livre da aftosa ao fim desse período.

Todos os estados sonham com essa possibilidade e estão trabalhando com esse objetivo. Entretanto nem todos reúnem as condições necessárias para atingi-lo nesse momento. A diferença é que hoje o Paraná reúne essas condições.

É importante ressaltar também que essa é uma história que vem de longe e culminou com o reconhecimento do Paraná como área livre de febre aftosa com vacinação na reunião da OIE, em maio do ano 2000.

Não é de hoje que estamos trabalhando para dar à nossa pecuária – bovina, suína e aves – as condições indispensáveis para garantir a sanidade de nosso produto, tanto no mercado doméstico como no mercado externo. Sem dúvida a erradicação é um processo lento e progressivo, porém não devemos retroceder.

Uma medida com efeitos incertos
Moacir Sgarioni, presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP)

A Sociedade Rural do Paraná (SRP) vem discutindo o Paraná como área livre de aftosa sem Vacinação, desde 2012. Já naquela época, tínhamos a posição, a favor, desde que ocorresse de forma simultânea com os estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Nos últimos meses, o governo do estado retomou as discussões sobre o assunto e a SRP ratificou a posição já aprovada em reuniões com os associados. Durante a ExpoLondrina 2015 , ouvimos outras Sociedades Rurais, Associações, Núcleos de Raças, Criadores, entidades representativas da indústria de carnes e elas concordam em manter o atual status de estado livre de aftosa com vacinação ou sem vacinação se for em bloco.

Todos se preocupam com o alto risco que podemos correr com o surgimento de focos da aftosa no Paraná, dada a complexidade no controle das nossas fronteiras. Apesar de se admitir que o estado possa montar estrutura de fiscalização em seus atuais 23 postos, a fim de coibir entradas de animais ou carne não- legalizada, nossas fronteiras são extensas. Podemos ficar vulneráveis e sujeitos ao risco de contaminação também através de outros veículos, como trânsito de pessoas e ou animais silvestres, que podem comprometer o status sanitário, uma vez que, sem a vacinação, a defesa imunológica dos animais fica reduzida.

O governo vai gastar milhões de reais anualmente para tentar controlar nossas barreiras. Questionamos se o alto custo que o Paraná vai ter que investir para montar e manter a referida estrutura necessária para uma eficaz fiscalização compensa possíveis benefícios para algum segmento da carne, já que o estado reduziu seu apoio para as exposições agropecuárias do Paraná.

Em maio o Ministério da Agricultura divulgou o relatório de Monitoramento Sorológico com a avaliação da eficiência da vacinação realizada em 2014 na zona livre da doença com vacinação. O relatório mostrou que o Paraná encontra-se com taxa inferior a 80% de imunidade, um índice inadequado , principalmente em regiões próximas das fronteiras.

Recebemos informações de Santa Catarina de que o resultado econômico aos criadores de gado de corte não justificou o status livre de aftosa sem vacinação e fontes ouvidas afirmaram que existe suspeita de entrada de reprodutores bovinos ilegalmente no estado. A inseminação artificial no rebanho de corte no Brasil ainda não passou dos 10%, portanto 90% das matrizes dependem de reprodutores de alto valor genético, muitas vezes produzidos em outros estados.

Pelo que temos conhecimento também, o Rio Grande do Sul já conquistou o mesmo status, mas recuou após a doença reaparecer em 2002, na cidade de Jóia. Falamos com destacados criadores, associações e técnicos a respeito, o que se confirmou.

Os efeitos comerciais desta mudança também são relativos. O Paraná não é autossuficiente em pecuária de corte e não vai ser. A nossa preocupação é restringir o comércio pensando só e exclusivamente na exportação. Um consultor de mercado internacional nos informou que o fato da Rússia ou outros países estarem dando preferência na compra de carnes suína do Brasil no momento, não garante mercado futuro, já que eles poderão se tornar mais independentes de importações e o Brasil não conquistará permanentemente esta garantia de mercado, de nenhuma carne.

Participamos de duas audiências públicas na Assembleia Legislativa do estado e expusemos nossa posição e documentamos com o apoio de 26 entidades representativas do setor no estado. Nenhum segmento deverá prosperar em detrimento de outros, com isto propomos a formação de um grupo de trabalho com entidades governamentais em conjunto com a iniciativa privada para melhor avaliar os prós e contras da mudança de status.