A forte alta do dólar frente o real dos últimos dias tem ajudado a aquecer as vendas de soja da nova safra do Brasil, mas o estímulo tem sido limitado pela queda nas cotações do grão na bolsa de Chicago.
O dólar acumulou alta de 5,5 por cento nas últimas três sessões, principalmente, à apreensão de investidores com as perspectivas fiscais do Brasil.
Enquanto isso, o preço do primeiro contrato da soja na CBOT teve no mesmo intervalo perda de 2,7 por cento devido a uma melhora das condições climáticas para lavouras nos Estados Unidos, onde a nova safra está em pleno desenvolvimento.
“No início do mês, com Chicago em alta e o dólar em bom patamar, ainda que sem a escalada dos últimos dias, os negócios ocorreram em maior volume (do que recentemente)”, disse a analista Daniele Siqueira, da consultoria AgRural.
Até o fim de junho, as vendas da nova safra –que será plantada no Brasil no último trimestre do ano– saltaram para 17 por cento, ante 6 por cento ao fim de maio e 3 por cento no mesmo estágio da temporada passada, segundo a AgRural.
“Produtores estão aproveitando o momento pra fechar negócios, porém muitos ainda estão esperando uma alta adicional da moeda (norte-americana)”, disse o chefe da mesa de agronegócio do escritório de investimentos Lifetime, Vitor Carettoni, em São Paulo.
Segundo dados da Gama Corretora, de Santos, o preço da saca de soja em Lucas do Rio Verde (MT) com entrega futura está entre 16 e 16,50 dólares, contra 18,50 dólares recentemente.
Segundo o analista Luciano Marques, da Gama, produtores que não fazem a aquisição do pacote de insumos atrelada ao preço da soja ainda avaliam os efeitos da volatilidade das cotações do grão e do dólar.
“O problema da safra nova é que produtores fazem troca de pacote (de insumos) em dólar. Aí você vende a soja para abril a 76 reais por saca, o que é um baita preço, e chegando em abril de 2016 o dólar vai pra 5 reais, por exemplo. Aí o produtor quebra, porque tem que pagar o pacote dele com dólar elevado”, disse.
Na sexta-feira, os preços da soja disponível no porto de Paranaguá bateram o maior nível desde janeiro de 2014, a 75,19 reais por saca, segundo o Indicador Esalq/BM&FBovespa, que serve de referência para negócios fechados na bolsa brasileira.
Analistas ressaltam, no entanto, que os preços elevados da soja no mercado físico e no futuro não garantem a rentabilidade, uma vez que a safra 2015/16 será marcada pelos elevados preços de produtos como fertilizantes e defensivos, que estão atrelados ao câmbio.