Apesar da queda dos preços dos grãos exportados pelo Brasil, o aumento das vendas externas de carnes – notadamente as de carne bovina – e o melhor desempenho em segmentos como de celulose e couro devem garantir uma evolução – ainda que modesta – na receita externa do agronegócio em 2014. O comportamento do câmbio, porém, é uma variável que pode alterar esse quadro de tímido crescimento.
Projeções da Tendências Consultoria indicam que os embarques do setor devem gerar US$ 102,5 bilhões neste ano, alta de 2,6% sobre o ano passado. “No geral, serão volumes um pouco melhores, preços iguais ou um pouco piores, resultando em receitas modestas, mas com acréscimo”, afirmou a economista Amaryllis Romano, da Tendências. Em suas estimativas, a consultoria trabalha com um dólar médio de R$ 2,42.
A expectativa dos analistas é que 2014 seja marcado por um choque positivo de oferta, após recentes quebras de safras no mundo. Na dianteira da balança, a soja é o retrato desse cenário. Após os sérios problemas climáticos que derrubaram a produção na América do Sul, em 2011/12, e dos EUA, em 2012/13, o atual ciclo tem sido marcado pela recomposição da oferta nessas regiões. A colheita 2013/14 nos EUA foi expressiva e a de Brasil e Argentina caminham na mesma direção.
A Tendências estima uma queda de 1,1% na receita com as exportações de soja em grão, para US$ 22,55 bilhões, e alta de 3,3% no volume, a 44,2 milhões de toneladas. “Começamos 2014 exportando bem e temos que aproveitar esses primeiros meses para colocar nossa soja lá fora, já que ainda não há volumes fortes do grão americano”, afirmou Amaryllis. O cálculo da consultoria aproxima-se do divulgado pela Abiove, associação que representa as indústrias de óleos vegetais, que prevê embarques de 44,5 milhões de toneladas.
O milho, por sua vez, deve enfrentar perdas mais sensíveis. Para a Tendências, a retração no volume exportado pode chegar a 9,7%, para 24 milhões de toneladas, e em receita, a 20,7%, para US$ 5 bilhões. Segundo Alysson Paolinelli, presidente da Abramilho, que representa os produtores do grão, os gargalos logísticos impedem um maior avanço no exterior. “Pelo Mississippi, rio que leva o milho do Corn Belt ao golfo do México, o custo de escoamento é de US$ 6 a US$ 12 por tonelada. No Brasil, é mais do que US$ 45”, afirmou.
Mas, a despeito da menor receita oriunda dos grãos, o segmento de carnes deve ajudar a sustentar o aumento dos embarques do agronegócio. Líder global nas exportações de carne bovina, o Brasil tem tudo para repetir o desempenho de 2013, quando as exportações cresceram 13% em receita, para US$ 6,6 bilhões.
Para 2014, a Abiec, que representa os exportadores de carne bovina, estima que os frigoríficos brasileiros terão uma receita de US$ 8 bilhões, alta de 20%. No tabuleiro global, o Brasil é o país com melhores condições de suprir a crescente demanda da Ásia, puxada pela China. Concorrentes como EUA e Austrália sofrem com restrição de oferta de bovinos.
“A demanda é excepcional e nossos concorrentes estão menos ofertados”, afirma o analista da MB Agro, César de Castro Alves. O único senão, avalia, é o menor envio de vacas para o abate. “Mas vamos exportar tudo que nossa oferta permitir, sobretudo com câmbio favorável”, afirmou.
Para a carne de frango, a perspectiva também é de avanço, ainda que menos intenso. Maior fornecedor global do produto, o Brasil deve exportar 1,6% mais em 2014, para US$ 7,57 bilhões, estima a Tendências. Para o presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra, o Brasil já está consolidado – exporta para 155 países – e o espaço para avanços expressivos é menor.
O cenário é mais turvo no mercado de carne suína, que sofre com a instabilidade em importantes importadores, caso de Rússia e Ucrânia. Mesmo assim, a Abipecs, que representa a indústria exportadora do setor, estima que as vendas crescerão 3%, para cerca de 590 mil toneladas.
Para o café, a projeção é otimista, diante de uma recuperação moderada nos preços e aumento do volume embarcado. O diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CeCafé), Guilherme Braga, diz que, sem problemas climáticos e políticas que incentivem a contração da oferta interna, as exportações cresçam 10%, para US$ 5,7 bilhões.
No caso da celulose, a perspectiva é que o volume exportado cresça mais de 10%, segundo a Bracelpa, associação que representa o segmento. A demanda da China e o início de operação de uma fábrica da Suzano Papel e Celulose devem contribuir para o aumento dos embarques.
Já as exportações de açúcar em 2014 tendem a repetir o resultado de 2013, tanto em volume (27 milhões de toneladas) quanto em receita (US$ 11,8 bilhões). Há dois anos, a produção brasileira está praticamente estável e não há indicativos de que esse quadro vá mudar. O preço médio do açúcar exportado pelo Brasil em 2013 foi 17,4% mais baixo que em 2012 e nesse patamar tende a permanecer em 2014.
Com a menor rentabilidade do milho neste ano, a área plantada com algodão deve voltar a crescer no Brasil, o que trará impacto direto aos volumes exportados da pluma. Na visão da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), a quantidade embarcada pode dobrar na próxima temporada, para 800 mil toneladas, com efeito semelhante na receita – que, em 2013, somou US$ 1,1 bilhão.