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Economia

Desvalorização é solução, diz Tombini

Ao participar ontem da conclusão da reunião do G-20, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, disse que a desvalorização que o real vem sofrendo em relação ao dólar é "parte da solução" e "não do problema".

Desvalorização é solução, diz Tombini

Ao participar ontem da conclusão da reunião do G-20, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, disse que a desvalorização que o real vem sofrendo em relação ao dólar é “parte da solução” e “não do problema”. O ajuste cambial reflete o início da redução dos estímulos monetários nos Estados Unidos, uma mudança que, para Tombini, será boa para a economia mundial.

“Se temos déficit em conta corrente e o real se desvalorizou ao longo dos últimos meses, isso faz com que nossos produtos fiquem mais baratos no exterior e as importações um pouco mais caras. Isso ajuda no ajuste da conta corrente, milita no sentido de diminuir os desequilíbrios e não aumentar”, explicou Tombini, contestando indiretamente o Federal Reserve, o BC dos EUA, que colocou o Brasil entre os “cinco frágeis”, entre outras razões, por causa da perda de valor do real. “Desvalorização não significa vulnerabilidade, significa mudança de preços relativos.”

O G-20, que reúne as maiores economias do mundo, recomendou reforço das redes de proteção nessa transição, entre elas, maior flexibilidade cambial, e fixou meta ousada: agregar dois pontos percentuais ao PIB mundial em cinco anos.
 
G-20 pede que emergentes reforcem as suas defesas

O G-20, grupo que reúne as maiores economias do mundo, constatou que a normalização de políticas monetárias de países ricos pode conduzir a “excessiva volatilidade”, prometeu cooperação para gerir efeitos dessa situação, mas recomendou aos emergentes reforçarem suas redes de proteção.

“Embora várias economias estejam preparadas [para a transição], a nossa resposta principal é reforçar mais e refinar nosso arcabouço macroeconômico, estrutural e financeiro nacional” e “a flexibilidade da taxa de cambio também pode facilitar o ajuste de nossas economias”, diz comunicado do G-20. Países ricos se comprometeram a cooperar para administrar os efeitos globais de suas políticas.

O G-20 se comprometeu ainda com um objetivo tão ambicioso quanto vago: elevar o crescimento mundial em dois pontos percentuais a mais do que a tendência atual nos próximos cinco anos, o que poderia gerar US$ 2 trilhões a mais em termos reais.

Apesar das promessas reiteradas de cooperação, as fissuras ficaram evidentes. O presidente do banco central da Índia, Raghuram Rajan, chamou atenção para os problemas de se ter um sistema em que alguns bancos centrais agem nacionalmente, mas tem impacto globalmente. A consequência disso é que há dificuldades e limites na cooperação. Alguns países sugeriram que, nesse caso, o jeito mesmo é ter a rede de segurança funcionando, por exemplo, com o FMI preparado para socorrer países que eventualmente sofram mais com saída de fluxo de capital.

A diretora do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, notou que o “tapering” (a retirada gradual dos estímulos monetários pelo Fed, o BC americano) é resultado de melhora econômica nos EUA, mas que continuará a haver volatilidade nos mercados.

Já o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, disse que, embora os bancos centrais não devam ignorar consequências de suas políticas e possam comunicar mais, para ninguém ser pego de surpresa, eles são limitados por seus mandatos domésticos, e cabe aos emergentes resolver suas próprias fragilidades estruturais.

EUA e China, as duas maiores economias do mundo, trocaram farpas fora da sala de reunião, ilustrando as diferenças no grupo. Jack Lew, secretário de Tesouro dos EUA, sugeriu que emergentes procurem de fato o FMI se o fluxo de capitais menor provocado pelo “tapering” os afetar. Pouco depois, o ministro das Finanças chinês, Lou Jiwei, criticou os EUA por ter uma recuperação sustentada por política monetária e não pelo ajuste estrutural que cobra dos outros.

As maiores atenções estavam voltadas para a mensagem do Federal Reserve. A presidente do BC americano, Janet Yellen, disse que está “atenta” aos reflexos do “tapering” sobre os emergentes e que o Fed vai se comunicar da melhor maneira possível para dar previsibilidade aos mercados. Ela disse que o Fed está “atento” à situação dos emergentes, porque o que acontecer nesses países, com fatia cada vez maior na economia mundial, pode afetar também os EUA.

Yellen disse que não há relação entre o “tapering” e a possibilidade de aumento de juros nos EUA.

Ela reiterou que não é uma regra fixa de que o Fed vai reduzir a compra de ativos cada mês e sempre no mesmo volume. Ao contrário, o BC toma a decisão desde que não haja mudança fundamental do que está prevendo para a economia.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reagiu positivamente e disse que o Brasil está preparado para a transição. O secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Carlos Márcio Conzendey, que veio no lugar do ministro Guido Mantega, notou que “há fatores estruturais que não vão mudar. O Brasil sabia que seria um problema quando o quantitative easing [a política monetária ultraflexível dos EUA] entrasse e quando saísse. E ter se preparado para um ajudou ao outro”.