O enxugamento na estrutura e o corte de custos promovidos pela JBS na Seara têm levado a unidade, adquirida da Marfrig em junho do ano passado, a resultados superiores aos previstos na época da operação, afirmou ontem o presidente da JBS Wesley Batista, durante teleconferência com analistas para comentar o balanço da empresa em 2013.
“Enxugamos bastante a estrutura da Seara, houve redução expressiva de custo”, afirmou, sem mais detalhes. Mais tarde, a jornalistas em Nova York, no “JBS Day”, Batista disse que houve “alguns enxugamentos” de pessoal na Seara depois da aquisição, mas não mencionou números.
Segundo ele, a JBS está conseguindo capturar as sinergias da Seara mais rápido do que o previsto. “Houve reposicionamento de preços, a captura de sinergias está vindo mais rápido. (…) O mercado vai se surpreender com a rapidez do turnaround” da Seara, disse. Gilberto Tomazoni, CEO da JBS Foods, unidade criada após a compra da Seara e que reúne as operações de aves e suínos da JBS, lembrou, na mesma teleconferência, a estimativa de sinergias de R$ 1,2 bilhão com a Seara e reforçou: “Estamos à frente do plano de sinergias”.
Os números referentes à Seara no quarto trimestre de 2013 não estão abertos no balanço divulgado pela JBS, mas o próprio Wesley Batista admitiu a analistas que a margem da Seara superou os 6% nos últimos três meses do ano passado. Ele disse ainda que os resultados da Seara são crescentes e que a margem “será bem superior a 6% no primeiro trimestre deste ano”.
Conforme balanço, a JBS teve lucro líquido atribuído ao acionista de R$ 926,9 milhões em 2013, alta de 28,9% sobre o ano anterior. A receita líquida consolidada em 2013 alcançou R$ 92,902 bilhões, 22,7% mais que no ano anterior. No ano de 2013, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi de R$ 6,130 bilhões, alta de 39% em relação a 2012. A margem Ebitda ficou em 6,6% no período ante 5,8% no ano anterior. Segundo a JBS, o resultado refletiu a melhora do desempenho de todas as unidades de negócios. Além disso, a JBS Foods “registrou um forte turnaround em seu primeiro trimestre em operação” e permitiu à JBS crescer em segmentos de maior valor agregado.
Questionado sobre a diferença ainda existente entre os preços dos produtos da Seara e de seus concorrentes, Tomazoni voltou a mencionar a questão da qualidade. “Precisava melhorar a qualidade, precisa merecer vender mais caro “, afirmou, cutucando a Marfrig, ex-controladora da Seara.
Também houve investimento em marketing para alavancar a marca Seara. “O foco é investir no reposicionamento, não vamos vender barato”, afirmou Wesley Batista, na teleconferência.
A jornalistas, em Nova York, o presidente da JBS disse que depois da compra da Seara, a empresa não deve partir para uma nova grande aquisição no Brasil neste ano. “Vamos focar em digerir a Seara”, afirmou, enfatizando o foco da JBS no processo de desalavancagem. Não descartou, porém, a compra de ativos menores. Com a aquisição da Seara, R$ 5,8 bilhões de dívida entraram no balanço, sem que isso ocorresse com o resultado, observou ele.
A JBS terminou o ano com alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) de 3,7 vezes, considerando todo o débito da Seara e apenas um trimestre de Ebitda. No trimestre anterior, a alavancagem da JBS havia ficado em 4,03 vezes.
Mas Batista admitiu a possibilidade de aquisições por parte Pilgrim’s Pride, a companhia da JBS nos EUA que atua em aves. “A Pilgrim’s gerou muito caixa e tem dívida praticamente zero. Poderemos assistir algum movimento da Pilgrim’s”, disse. A Pilgrim’s foi adquirida pela JBS em 2009 e passou por uma forte reestruturação antes de dar resultados, assim como a Seara.
Durante o JBS Day, o presidente da JBS disse que a perspectiva de um dólar mais forte no mercado global ao longo dos próximos anos é “espetacular” para a empresa, uma vez que 75% das receitas da gigante de proteína animal são em dólar. Hoje, os EUA são responsáveis por 60% da receita e por metade do resultado da JBS, segundo ele, enquanto o Brasil responde por 30% da receita e 45% do resultado.
Batista acredita que a economia americana deve passar a crescer com mais força. A médio e longo prazo, deverá haver um fortalecimento global do dólar, com a valorização em relação a uma cesta de moedas. “Não acho que o real vai ter um solavanco significativo”, disse ele, que vê a moeda brasileira acompanhando outras divisas.
Ele também está otimista com a China, que deverá impulsionar a demanda por proteína animal. Para Batista, um crescimento de 7% na China é bastante positivo. É menos que os 12% de alguns anos atrás, mas ocorrem sobre uma base muito maior, observou, destacando o esforço das autoridades chinesas para fazer com que o país cresça mais baseado no consumo do que no investimento. A notícia é positiva para JBS que exportou US$ 2,4 bilhões em 2013 para a China a partir de suas operações no Brasil e no exterior. O montante equivale a 21% do total exportado pela companhia.
Sobre o Brasil, Batista ressaltou que o crescimento do país continua a ser importante para o JBS. “A empresa se internacionalizou e tem uma operação expressiva fora do país, mas não quer dizer que não ligamos para o Brasil crescer bastante. Queremos o Brasil crescendo mais do que 2%, embora 2% não seja um desastre, como alguns pintam. Ainda assim, nós gostaríamos de ver o Brasil crescendo 5%, 6%, 7%”, disse.