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Exportação

Câmbio mantém atrativas as exportações do agronegócio

O Agronegócio Brasileiro iniciou 2014 com avanço das exportações e, no primeiro trimestre, o valor dessas vendas representou 45% do obtido com tudo que foi exportado pelo País.

Câmbio mantém atrativas as exportações do agronegócio

O Agronegócio Brasileiro iniciou 2014 com avanço das exportações e, no primeiro trimestre, o valor dessas vendas representou 45% do obtido com tudo que foi exportado pelo País.

Segundo cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, o faturamento das exportações do agronegócio em moeda nacional aumentou 9% no comparativo do primeiro trimestre deste ano com o mesmo período de 2013. O impulso veio da combinação de desvalorização cambial (IC-Agro/Cepea) de 11% com aumento do volume exportado (IVE-Agro/Cepea) em pouco mais de 2%. Em dólares, contudo, o faturamento baixou 1,4%, já que os preços, também em dólares, recuaram 4,8% no comparativo dos primeiros trimestres. Da combinação entre valorização do Real e queda dos preços internacionais em dólar (IPE-Agro/Cepea) resultou a elevação de 6% do índice de atratividade das vendas externas (IAT-Agro/Cepea).

De 2000 a 2014, os preços em dólares (IPE-Agro/Cepea) dos produtos exportados pelo agronegócio brasileiro quase dobraram, um crescimento de 92,25%. A tendência de avanço é observada em quase todo o período, com pico de valorização no ano de 2011 e leve reversão de tendência a partir de então. Especificamente no primeiro trimestre de 2014, os preços externos caíram quase 5% frente à média do ano de 2013.
A taxa de câmbio efetiva real do agronegócio (IC-Agro/Cepea) se valorizou praticamente em todo o período, apresentando valorização de 47,24% na comparação de 2014 com 2000. Observe-se, a propósito, que a moeda nacional se manteve mais estável em termos reais nos últimos quatro anos, mas, na média do primeiro trimestre 2014, o câmbio se desvalorizou 8,6% em comparação à média do ano de 2013.
Os preços em reais, que representam a atratividade das exportações nacionais (IAT-Agro/Cepea), tiveram aumento de aproximadamente 1% no perído de 2000 a 2014. No primeiro trimestre de 2014 especificamente, houve recuperação da atratividade das exportações brasileiras de quase 4% comparativamente à média do ano 2013. O volume exportado (medido pelo IVE-Agro/Cepea), por sua vez, cresceu 165,73% entre 2000 e 2014, apresentando forte crescimento das médias anuais de 2000 a 2013 e reversão de tendência no início de 2014 (Figura 1).

Desempenho das exportações do agronegócio brasileiro nos últimos dois anos (2013 e 2014)

Em março de 2014, comparativamente a março de 2013, o volume exportado pelo agronegócio apresentou crescimento de 10%. Na comparação trimestral, janeiro a março de 2014 comparado com janeiro a março de 2013, o crescimento foi de pouco mais de 2% (Figura 2).

Já os preços em dólares dos produtos exportados pelo agronegócio (IPE-Agro/Cepea) abriram o ano na trajetória de queda iniciada em maio de 2013. A partir de fevereiro, no entanto, passaram a se recuperar (Figura 2). Especificamente na comparação dos valores observados em março de 2014 e em março de 2013, ainda há queda de 1,9%. Na média do primeiro trimestre de 2014 frente ao primeiro trimestre de 2013, a redução foi maior, em torno de 5%.

Quanto ao Índice de Taxa de Câmbio Efetiva Real do Agronegócio (IC-Agro/Cepea), o movimento foi de queda de janeiro a julho de 2013. A partir de então, o Real passou a se desvalorizar diante das moedas dos principais parceiros comerciais, sendo que, de agosto de 2013 a março de 2014, houve maior oscilação, mas em torno de um nível superior ao observado no período anterior. Na comparação entre trimestres (1º. 2014/1º. 2013), o Real se desvalorizou mais de 11% em relação à cesta de moedas de seus principais parceiros comerciais; no comparativo específico de março/14 com março do ano passado, a desvalorização foi de 12%.

Do balanço entre esse comportamento do câmbio e o dos preços em dólares, as cotações em reais (IAT-Agro/Cepea) subiram quase 10% em março de 2014 com relação a março de 2013 e, na comparação trimestral, aproximadamente 6%.

Quando a análise se volta para o conjunto dos últimos 12 meses (abril de 2013 a março de 2014) em relação aos 12 meses anteriores, constata-se que a taxa de câmbio efetiva real do agronegócio (IC-Agro/Cepea) teve desvalorização mais amena, de 2,7%. O volume exportado pelo agronegócio brasileiro (IVE-Agro/Cepea) aumentou 10,7% e os preços em dólares recebidos pelos exportadores do agronegócio diminuíram mais de 6% (IPE-Agro/Cepea). Assim, a desvalorização do câmbio foi inferior à queda dos preços externos e, como consequência, a atratividade caiu mais de 4% naquele período.
Exportações Setoriais

No primeiro trimestre de 2014, quando comparado ao mesmo período de 2013, a soja em grão foi o produto que apresentou maior crescimento nos embarques: 101,27%. Outros setores que também tiveram aumento de volume foram: carne bovina (21,92%), óleo de soja (20,79%), café (10,5%), farelo de soja (12,20%), madeira (10,76%) e celulose (5,43%). As carnes de aves se mantiveram estáveis no período, apresentando crescimento de apenas 0,24%. O destaque negativo em termos de redução nos embarques foi o setor sucroalcooleiro (queda de 46,45% no etanol e de 8,71% no açúcar). O milho também teve diminuição expressiva no período, de 37,19%. Suco de laranja, frutas e carne de suínos tiveram o mesmo comportamento nesse período.  

Vale destacar que o crescimento dos embarques dos produtos do complexo da soja no primeiro trimestre de 2014, em comparação com 2013, foi possível devido ao avanço da produção interna do grão que, mesmo com a seca ocorrida nos primeiros meses do ano, deve ser recorde na temporada 2013/2014. Paralelamente, o setor nacional conta com a boa demanda da China, que tem favorecido o crescimento dos embarques.
O café também deve ter resultado melhor em 2014, comparativamente a 2013, devido à recuperação dos preços externos. Em 2013, o setor viveu a pior crise dos últimos cinco anos em termos de preços, quando a saca de 60 kg do arábica tipo 6, posta na capital paulista, chegou a US$ 104,53 em novembro de 2013. 
Ainda em termos de preço em dólar, as frutas apresentaram o melhor desempenho no trimestre, com aumento de 12,5% nos valores recebidos pelos exportadores. Já o farelo de soja e as carnes de suínos se mostraram relativamente estáveis no período, apresentando crescimento de apenas 0,93% e redução de 0,64%, respectivamente. Por outro lado, milho, café, óleo de soja, açúcar e as carnes de aves apresentaram forte redução de preços no primeiro trimestre de 2014: de 30,14%, 24,85%, 21,71%, 18,35% e 12,72%, respectivamente. Soja em grão, suco de laranja, carne bovina, madeira, celulose e etanol tiveram reduções mais fracas em seus preços: de 6,84%, 6,42%, 5,13%, 3,30%, 2,94% e 1,48% respectivamente.
 
Apesar da redução nos preços dos principais produtos exportados pelo agronegócio nacional, a desvalorização do Real em torno de 11% no primeiro trimestre de 2014 contribui para amenizar o impacto sobre os preços internalizados em reais (IAT-Agro/Cepea). Assim, apenas as carnes de aves, açúcar, óleo de soja, café e o milho apresentaram perda de atratividade nesse início de 2014.  

CONCLUSÕES

Desde o ano 2000 (início dessas análises) o agronegócio brasileiro vem aumentando sua participação no comércio internacional, o que se evidencia pelo aumento crescente do volume exportado. No primeiro trimestre de 2014, a participação do setor foi de 45% no valor (faturamento) das exportações totais brasileiras.
 Na comparação dos primeiros trimestres de 2014 e 2013, registraram-se aumento de 2,3% no volume exportado, redução de 4,8% nos preços em dólares, desvalorização de 11% na taxa de câmbio efetiva real do agronegócio e alta de 6% na atratividade (IAT-Agro/Cepea) das exportações nacionais. Como resultado, o valor exportado em dólar caiu 1,4% nesse período, mas em Real, aumentou 9%.
 Destacaram-se pelo crescimento de volume embarcado a soja em grão, carne bovina, óleo de soja, café, farelo de soja, madeira e celulose. Em termos de preços, apresentaram ganhos apenas frutas e o farelo de soja. Com a forte desvalorização da moeda nacional observada nesse início de ano, em torno de 11%, mesmo vendendo a preços menores em dólar, a maioria dos setores conseguiu manter atratividade positiva, com exceção das carnes de aves, açúcar, óleo de soja, café e milho.
 Para os próximos meses espera-se aumento nas quantidades exportadas, principalmente dos produtos da soja, uma vez que, com o final da colheita da oleaginosa esperado para o segundo trimestre do ano, haverá maior disponibilidade do produto para embarque. Quanto aos preços de exportação, há maiores incertezas, pois, de um lado, a demanda por alimentos deve continuar firme mesmo com a redução no ritmo de crescimento da economia chinesa, principal parceiro comercial do Brasil. Do lado da oferta, eventos climáticos já impactaram a safra brasileira no início de 2014, provocando redução na disponibilidade dos produtos exportados pelo agronegócio. Ainda há perspectivas de que a safra norte-americana também seja afetada por adversidades climáticas em 2014, o que pode diminuir a oferta mundial de produtos agrícolas para este ano e impactar positivamente os preços externos. 

GeraldoSant´Ana de Camargo Barros, PhD
Professor Titular USP/Esalq e Coordenador do Cepea

Andréia Cristina de Oliveira Adami, Dra.
Pesquisadora do Cepea

Nicole Ferro Zandoná
Estagiária; Graduanda Cc. Econômicas USP/Esalq
[email protected]