Depois de mais de dois anos em busca de um sócio estratégico para se tornar uma empresa de porte nacional, a mineira Pif Paf, uma das maiores processadoras de aves e suínos de Minas Gerais, desistiu do projeto de expansão, refletindo um movimento que atinge companhias de médio porte no setor de carne de frango.
Em entrevista ao Valor, o presidente da Pif Paf Alimentos, Luiz Carlos Costa, afirmou que o plano de atrair um sócio estratégico – a empresa negociou com fundos de investimentos e chegou a fazer uma proposta pelos ativos que a BRF teve de vender por determinação do Cade – foi frustrado após a compra da Seara, que pertencia à Marfrig, pela JBS, em setembro passado. Segundo o empresário, o negócio “inibiu” os investidores potenciais da companhia, que prevê faturar R$ 1,5 bilhão neste ano, 23% mais do que em 2013.
“Estávamos tendo uma conversa boa [com investidores], mas o mercado teve tantas alterações, com a Marfrig repassando a Seara para a JBS, e isso esfriou a procura em relação à Pif Paf”, disse Costa.
Mas, ainda que admita que o negócio em torno da Seara afastou os investidores da Pif Paf, o empresário diz não entender a lógica por trás do desinteresse. “Não sei o que passa na cabeça desses investidores”, afirmou. Na avaliação dele, a Seara já era uma concorrente do setor quando estava sob o comando da Marfrig e, portanto, a JBS não criou uma nova “concorrente”.
Apesar dessa avaliação, analistas de mercado já notaram significativa diferença no desempenho da Seara. Quando a JBS assumiu as operações da companhia, a então Seara Brasil registrava margem negativa. No primeiro trimestre, a JBS Foods – unidade que agrega os negócios da Seara e JBS Aves – já atingiu uma margem Ebitda de 13,7%.
Além disso, a gestão da Seara foi marcada por momentos díspares na história de Marfrig e JBS. Enquanto a primeira estava às voltas com problemas financeiros oriundos de um pesado endividamento quando detinha a Seara, a JBS assumiu a empresa com melhor estrutura financeira e, também, experiência na reestruturação de negócios em dificuldades, como foram os casos das americanas Swif t e Pilgrim’s.
Para a Pif Paf, no entanto, o que ficou mesmo foi o fim do sonho de se tornar um grande ‘player’ nacional, reconhece Costa, que não vê com bons olhos a concentração de mercado na área de aves e suínos em torno de BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, e JBS. “O mercado está com dois gigantes e o resto está com tudo lá embaixo. É ruim ter dois grandes? Eu acho que é. Mas como não consegui ter crescimento à altura, procuro me fortalecer nas regiões em que estou”, resumiu.
De certo modo, o fortalecimento regional é uma alternativa ao avanço da própria JBS, que vem adquirindo uma série de empresas de pequeno e médio porte na área de suíno e frango no Brasil e já reconheceu que o movimento de compras no segmento deve continuar. No mercado, um alvo sempre citado é paranaense Big Frango, que tem faturamento anual de R$ 1,5 bilhão. No início do ano, a JBS adquiriu uma incubadora e três granjas de aves da Big Frango. O empresário Evaldo Ulinski, porém, já negou mais de uma vez que sua companhia está à venda.
Costa, da Pif Paf, também faz questão de negar o papel de noiva a ser cortejada pela JBS. “Não tem interesse da nossa parte na venda”, afirmou. Ele pondera ainda que não faz mais sentido para a JBS comprar uma empresa como a Pif Paf, já que o grande atrativo da empresa – a força da marca em Minas Gerais – tornou-se menos interessante após a compra da Seara, marca de amplitude nacional. “Com a marca que eles têm hoje, não se justifica. Lá atrás, quando eles não tinham uma marca, talvez se justificasse”, disse o empresário.
Diante desse cenário, a Pif Paf quer reforçar a aposta em sua força regional, notadamente em Minas Gerais, Espírito Santo e interior do Rio de Janeiro. Nessas regiões, a Pif Paf só fica atrás da marca Sadia nas vendas nos supermercados em categorias como pratos prontos congelados e pizza, conforme a Pesquisa Líderes de Vendas Abras/SuperHiper 2014. Em Minas Gerais, a Pif Paf lidera os abates de frango, de acordo com Luiz Carlos Costa.
Atualmente, a Pif Paf tem três unidades de abates – duas de frango e uma de suínos. Os abatedouros de frango estão localizados em Visconde do Rio Branco (MG) e Palmeiras de Goiás (GO). Juntas, essas duas unidades têm capacidade para abater 350 mil aves por dia. Hoje, porém, esse abate gira em torno de 300 mil aves por dia. Segundo o presidente da Pif Paf, a unidade goiana usa apenas 50% de sua capacidade porque os produtores integrados não têm número suficiente de aviários para atender a capacidade total da unidade.
Na área de suínos, a unidade da companhia fica em Patrocínio (MG) e tem capacidade para abater 2,1 mil animais por dia. Ao todo, 45% do faturamento da Pif Paf vem do segmento de suínos e 55% do setor de frango. Atualmente, as exportações de carne de frango da companhia mineira são pouco representativas.