Após os esforços em vão da indústria para a utilização de algas como biocombustíveis, os organismos vivos agora serão produzidos no país, pela primeira vez, para serem usados como aditivo na ração para animais. A americana Alltech, que já fornece leveduras e outros aditivos a grandes frigoríficos como JBS e BRF, está investindo US$ 60 milhões na ampliação de sua unidade de São Pedro do Ivaí, no Paraná, para fermentar algas e extrair um ácido graxo chamado DHA (ácido docosa-hexaenoico).
O DHA é uma espécie de gordura boa, tal como o Ômega 3, e será fornecido pela empresa em duas frentes. A primeira como aditivo para a ração de peixes e animais de estimação, em um mercado que já conhece os benefícios da substância como anti-inflamatório e para o coração. A segunda frente, mais complexa, porém com maior potencial de faturamento, é o uso do DHA como alimento funcional para humanos. “A intenção é que aumente o uso do DHA pela indústria de carne, leite e ovos, que fornecerão produtos enriquecidos sobretudo para crianças e pessoas na terceira idade”, afirma o vice-presidente da Alltech para América Latina, Guilherme Minozzo.
A Alltech vai fornecer o aditivo para que seja utilizado na ração de animais, como bovinos de corte ou de leite, frangos e suínos.
Alguns poucos fornecedores de ovos e carnes no Brasil já vendem produtos com o aditivo, que a própria Alltech traz de sua fábrica no Estado do Kentucky, nos EUA. Com a unidade da Alltech no país não será mais necessário importá-lo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a ingestão de cerca de 200 miligramas de DHA por dia e elenca, entre os benefícios, desde o aumento de memória e de capacidade de aprendizado, melhora da visão, até aumento da imunidade e de controle da pressão arterial. “Teremos um importante trabalho de marketing para mostrar os benefícios do DHA e como a indústria poderá usá-lo, mas é um processo com empresas que já são nossas clientes, o que torna tudo mais fácil”, diz Minozzo.
A expansão da fábrica da Alltech deve ficar pronta em 2016, e a capacidade de cultivo será de 5 mil toneladas de algas por ano. Com isso, a capacidade atual de produção da unidade aumentará 58%.
O mistério é a espécie de alga a ser produzida. Segundo o vice-presidente da empresa, serão utilizadas milhares de espécies com benefícios diversos. Minozzo afirma que a Alltech descobriu uma espécie em que o processo de autólise (autodestruição das células) permite a extração da substância. “É nosso segredo”. A única informação disponível é que se trata de uma alga heterotrófica, isto é, que não usa a fotossíntese para se alimentar e sim outro organismo vivo.
No Brasil, houve uma tentativa de utilização maior de algas nos anos 2000, mas para a produção de biocombustíveis. A falta de escala e, portanto, de preços competitivos fez com que empresas como a Solazyme, que apostavam no uso do organismo, optassem por fornecer o produto a outros setores.
A aposta da Alltech no mercado de algas é grande. Segundo Minozzo, a reestruturação da fábrica de São Pedro do Ivaí e a incorporação do DHA no portfólio de produtos fará o faturamento da empresa quase dobrar em dois anos. A previsão é que chegue a US$ 316 milhões em 2016 – desse total, cerca de US$ 70 milhões devem ser provenientes do negócio do DHA. Neste ano, a expectativa é que a receita da empresa some US$ 160 milhões na comparação com US$ 138 milhões no ano passado.
Além de atender o mercado nacional, a filial brasileira da Alltech, que já exporta para África do Sul, América Latina e até EUA, pretende vender o DHA para o Chile. “É um país que tem uma aquicultura importante”, diz o executivo.
Desde 1993 no Brasil, a Alltech tem outra fábrica no Paraná, em Araucária, para nutrientes líquidos e complexos minerais. Recentemente, adquiriu uma unidade para fazer misturas de aditivos, sobretudo nitrogênio não proteico destinado a ruminantes, em Indaiatuba, em São Paulo. O investimento nessa unidade foi de US$ 1 milhão. Em São Pedro do Ivaí, a Alltech diz ter a maior unidade produtora de leveduras vivas e minerais orgânicos do mundo.