Nesta quarta (7), os russos anunciaram a suspensão da importação de matérias-primas de países que decidiram sancioná-la por causa do conflito no leste da Ucrânia. Adotada para “proteger os interesses nacionais”, a medida vale por um ano.
Mais cedo, o serviço sanitário russo ampliou de 30 para 90, aproximadamente, o número de frigoríficos brasileiros autorizados a exportar carne bovina, suína e de frango ao país. Isso mostra a intenção do governo de substituir as importações dos países com os quais está em crise pelas brasileiras.
Esse cenário começou a ser desenhado em Paris, há dois meses, quando o representante russo de defesa agropecuária, Dankert Sergey, disse ao ministro da Agricultura, Neri Geller, que a Rússia teria uma necessidade urgente de carnes e que daria um tratamento especial ao Brasil, como antecipou a coluna “Vaivém” no início de junho.
Oportunidades
A maior oportunidade para o Brasil está na carne de frango. O país poderia aumentar as suas exportações das atuais 60 mil toneladas para 210 mil em um ano, ao ocupar parte do espaço deixado pelos EUA. Ainda poderia abocanhar também parte das exportações da UE, estimadas em 40 mil toneladas.
Caso o Brasil consiga vender esse volume adicional de 150 mil toneladas, acrescentaria US$ 300 milhões de receitas à balança comercial.
Em 2013, o Brasil exportou 3,9 milhões de toneladas de aves no valor de US$ 8 bilhões. Para a Rússia, foram 60 mil toneladas.
No caso da carne suína, os produtores poderão não responder imediatamente ao apetite russo porque demanda e produção estão ajustadas internamente.
Um dos motivos da falta de produto são os próprios russos, que têm uma relação de altos e baixos com os exportadores brasileiros. É frequente a redução no número de frigoríficos habilitados a exportar à Rússia, o que acaba desestimulando o aumento da produção brasileira.
O grande embargo mais recente à carne suína brasileira ocorreu em meados de 2011. Diante de tantas barreiras, o setor agora quer diversificar mais os mercados para não ficar dependente de poucos.
Para a carne bovina, que tem a Rússia entre os principais importadores, a boa notícia é a abertura do mercado de miúdos. A necessidade russa poderá, aliás, provocar um aumento de preços, roubando o espaço de mercados que pagam menos, inclusive o consumidor brasileiro.
Como a medida russa ocorre em um momento de demanda fraca no atacado brasileiro, parte da produção pode ser direcionada para fora do país, pressionando ainda mais os preços internos.
Contexto
Na semana passada, a UE e os EUA anunciaram uma série de sanções a Moscou na área de finanças, tecnologia e defesa, como forma de pressão contra seu apoio aos separatistas do leste ucraniano.
A Rússia negocia o equivalente a R$ 6 bilhões anuais em frutas e vegetais de europeus. A importação de alimentos dos EUA é de R$ 3 bilhões.
A tensão na região começou no começo do ano, após a queda do então presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, aliado de Putin.