Preocupação inflacionária neste segundo semestre, os preços das carnes tendem a permanecer em níveis elevados no Brasil, e até recordes, em alguns casos. No entanto, analistas consultados pelo Valor veem sinais de que essa valorização está próxima do limite, de forma que não haveria mais espaço para novas altas significativas em 2015.
Fortalecidas pela demanda externa, as cotações das carnes bovina e suína também não devem sofrer pressão de uma grande oferta no próximo ano. O cenário é de restrição de boi gordo no Brasil e nos Estados Unidos, os maiores exportadores globais. Ainda, há a expectativa de que um surto do vírus da diarreia suína epidêmica (PED) volte a atingir o plantel americano.
Nesse contexto, a carne de frango sai em vantagem na competição com as proteínas concorrentes. Com isso, tendem a ser diluídos os impactos do aumento de oferta esperado para o próximo ano. Esse incremento na produção de frango tende a ocorrer devido ao “estímulo natural” vindo de preços mais baixos dos grãos usados na ração animal. No front externo, a demanda por essa fonte de proteína do Brasil deve seguir firme, de acordo com analistas.
“A carne de frango ficaria com preços mais baixos neste ano, mas como as outras estão muito valorizadas, ela acaba sendo influenciada”, diz José Carlos Hausknech, sócio da MB Agro. Conforme números da consultoria, o diferença de preços entre as peças do dianteiro bovino e a carne de frango está em 93%, ante uma distância de 55% registrada há um ano. É essa diferença que incentiva o consumo de carne de frango e, no mínimo, limita a queda no preço.
De fato, o preço médio mensal da carne de frango no atacado paulista ficou abaixo do registrado em 2013 na maior parte deste ano, mas começou a ganhar força no segundo semestre, o que se refletiu nos índices de preços ao consumidor de outubro – em novembro, o IPCA-15 para o frango inteiro até desacelerou, mas ainda assim subiu 0,47%, de acordo com o IBGE.
Conforme cálculos elaborados pelo Rabobank, o preço médio do frango resfriado em outubro, deflacionado pelo IGP-DI, ficou em R$ 3,56 o quilo, a segunda maior média mensal do ano. Apesar disso, ainda é 0,8% inferior ao preço médio de R$ 3,59 do mesmo período de 2013.
Mas, a despeito do impacto sobre a inflação no segundo semestre, o comportamento dos preços do frango é bem mais favorável ao consumidor, quando comparado com o das carnes bovina e suína. De acordo com o Rabobank, o preço médio da carcaça bovina atingiu R$ 8,60 por quilo em outubro, aumento de 6,5% na comparação com a média de setembro. Na comparação com igual período de 2013, a alta é de 22,3%.
No caso da carne suína, a alta também é expressiva. Conforme o Rabobank, a carcaça especial suína subiu, em termos reais, 12,7% em outubro ante o mês imediatamente anterior, para uma média mensal de R$ 7,85 por quilo. Em relação ao mês de outubro de 2013, quando a média foi de R$ 6,48 o quilo, a alta é mais significativa, de 21,1%.
Na avaliação de Adolfo Fontes, analista do Rabobank, a indústria produtora de carne de frango conta com o cenário mais favorável para 2015, ao passo que a indústria de carne bovina pode sofrer com margens pressionadas pelas cotações mais altas do boi gordo. “Uma das proteínas que deve se beneficiar desse vai-e-vem de preços é o frango. Como o preço da carne bovina e da suína não deve se reduzir, o frango deve se beneficiar em volume”, diz ele, enfatizando o efeito de substituição. Apesar disso, Fontes considera que, diante do aumento moderado da oferta de frango, não há grande espaço para que os preços subam, a não ser que as exportações ganhem fôlego adicional.