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Economia

Frigoríficos captam US$ 2 bilhões com títulos no exterior

Os três maiores frigoríficos brasileiros - JBS, Marfrig e Minerva - recorreram ao mercado internacional e levantaram quase US$ 2 bilhões que serão usados para reestruturar dívidas.

Frigoríficos captam US$ 2 bilhões com títulos no exterior

O primeiro mês do ano foi marcado por quase US$ 2 bilhões em emissão de bônus no mercado externo por parte dos três maiores frigoríficos brasileiros, todos em busca de boas condições para reestruturar suas dívidas. Juntos, JBS, Minerva e Marfrig captaram US$ 1,95 bilhão a taxas mais interessantes do que esperavam inicialmente. A demanda atingida pelo conjunto das três operações chegou perto dos US$ 12 bilhões.

O momento é de forte liquidez nos mercados externos. Outros emissores brasileiros, como BTG Pactual, Banco do Brasil e a estreante Tonon Bioenergia captaram em janeiro, juntos, US$ 3,3 bilhões lá fora a taxas interessantes.

Diante das boas condições de mercado, os três frigoríficos aproveitaram para reduzir as taxas pagas para colocar os novos papéis.

Na terça-feira, a JBS fechou uma captação de US$ 500 milhões com títulos de dez anos, cerca de duas semanas após Marfrig e Minerva captarem, respectivamente, US$ 600 milhões e US$ 850 milhões, com notas para 2017 e 2023.

A operação da JBS pode ser considerada a mais bem-sucedida, reflexo direto da maior diversificação e porte da empresa, além de seu perfil de dívida ser considerado mais equilibrado. A companhia pagará aos investidores rendimento de 6,5% ao ano, percentual conseguido após ver a demanda por seus papéis alcançar os US$ 2,3 bilhões. A ideia inicial da empresa era pagar juros de 6,75% ao ano.

Os títulos da Marfrig para 2017 saíram com retorno ao investidor de 9,875% ao ano, sendo que a perspectiva inicial era pagar rendimento de 10,5%. Os bônus da Minerva para 2023, por sua vez, foram emitidos com rendimento de 8% ao ano, mais baixo que a perspectiva inicial de 8,25% ao ano.

O montante total colocado pela JBS foi menor que o emitido por Marfrig e Minerva – poderia ser maior, ao se considerar a demanda. Mas a quantia de US$ 500 milhões foi considerada a ideal para reestruturar a dívida existente a um custo razoável.

“A empresa ficou bastante satisfeita. A preocupação principal não era com volume, mas sim com a taxa”, afirmou Leandro Miranda, diretor de renda fixa do Bradesco BBI, que participou da operação. Segundo ele, uma taxa ainda mais baixa do que a conseguida talvez fosse possível, mas prejudicaria o desempenho dos títulos no mercado secundário, o que não é interessante para a companhia. Títulos com taxas muito baixas acabam tendo poucos negócios no mercado secundário.

“O crédito da JBS é, de longe, o melhor entre os frigoríficos brasileiros, por ter uma operação global mais ampla e maior penetração no mercado americano”, disse uma fonte de banco de investimento que não participou de nenhuma das emissões e que prefere não ser identificado. “[Nos EUA] A empresa se financia por meio de diversos empréstimos garantidos e por estruturas a taxas muito mais baixas que seus concorrentes.”

Miranda, do Bradesco BBI, acredita que o mercado está aberto para empresas brasileiras de perfil de risco similar ao dos frigoríficos, e que novas emissões devem acontecer nas próximas semanas, com forte apetite entre investidores estrangeiros por empresas do setor de infraestrutura.

Segundo Jeremiah O’Callaghan, diretor financeiro da JBS, a captação permitirá que a dívida de curto prazo da empresa seja reestruturada a ponto de economizar entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões em juros que seriam pagos nos próximos anos. Ao fim de setembro passado, a empresa tinha R$ 15,2 bilhões em dívida, sendo que 27% desse total era de curto prazo. “A nossa meta é que esse percentual fique abaixo de 25%”, disse O’Callaghan.

A Minerva também emitiu dívida para melhorar o perfil de seus compromissos financeiros. Segundo a empresa, os recursos levantados em dólares serão usados em sua totalidade para comprar títulos de dívida emitidos no passado e com vencimentos em 2017, 2019 e 2022.

Na época da operação, o diretor financeiro da companhia, Edson Ticle, disse que a significativa diferença entre o cupom dos títulos que serão trocados e os papéis emitidos permitirá uma economia de R$ 45 milhões em juros por ano. Além disso, a empresa conseguirá alongar o perfil de sua dívida para um prazo médio de 7,5 anos.

A operação recente da Minerva no exterior faz parte de uma reestruturação financeira maior da empresa. No fim do ano passado, a companhia levantou R$ 400 milhões em uma oferta de ações e, posteriormente, anunciou que utilizaria R$ 200 milhões desse montante para fazer um resgate antecipado de debêntures.

Das três companhias que emitiram neste mês, a Marfrig é tida como a com perfil de dívida mais arriscado e, por isso, pagou a taxa mais alta das três pelo período mais curto de captação. A agência de classificação de risco Moody’s, que atribuiu nota “B2” aos títulos, escreveu que o rating da emissão reflete a alavancagem ainda elevada da empresa e o alto montante de dívida com vencimento nos próximos trimestres. Ao fim de setembro do ano passado, diz a Moody’s, a relação entre dívida bruta ajustada e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Marfrig era de 6,4 vezes.

O frigorífico realizou uma oferta de ações de R$ 1,05 bilhão no fim de 2012. Segundo o Valor apurou, a empresa considera que, com a captação em dólares e a oferta de ações, o processo de refinanciamento da dívida para 2013 e 2014 está bem avançado. A Moody’s espera que, com a oferta de ações e a emissão externa, a dívida da Marfrig seja reduzida em aproximadamente R$ 1,3 bilhão nos próximos trimestres.