Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Insumos

Déficit de estocagem se agrava com safra cheia

Organização da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO) considera ideal que os países sejam capazes de armazenar 120% de sua produção agrícola.

Déficit de estocagem se agrava com safra cheia

Com o aumento da produção de grãos esperado para 2013, o Brasil deverá registrar um rombo de cerca de 40 milhões de toneladas em sua capacidade de armazenagem neste ano, aumentando a pressão sobre a infraestrutura de transporte e portuária e os custos da produção.

Segundo analistas e representantes do setor, indústrias, agricultores e governo precisariam investir até R$ 10 bilhões apenas para zerar o déficit atual e até R$ 28 bilhões para acompanhar o crescimento da produção ao longo da próxima década.

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os 176 armazéns públicos e privados do país podem estocar até 145 milhões de toneladas de grãos. Neste ano, porém, o Brasil deve colher 180 milhões, 14 milhões a mais que na safra anterior – anteontem, o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, projetou 185 milhões de toneladas.

A Organização da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO) considera ideal que os países sejam capazes de armazenar 120% de sua produção agrícola – no caso brasileiro, isso significaria uma capacidade de 216 milhões de toneladas. Mas, se as previsões se confirmarem, a correlação deverá ficar abaixo de 80%.

Representantes do setor afirmam que o déficit, na prática, é maior, porque muitos dos armazéns construídos nas últimas décadas não são adequados para operar com soja e milho, as culturas cuja produção mais cresceu nos últimos anos.

André Debastiani, sócio da Agroconsult, calcula que os armazéns de granéis são capazes de estocar até 120 milhões de toneladas, ou 77% da produção estimada de soja e milho. Trata-se da menor correlação desde 2003. “Nos últimos anos, esse número sempre oscilou perto de 85%.”

Só em Mato Grosso, maior produtor nacional de grãos, o déficit para este ano é estimado em quase 10 milhões de toneladas. Segundo relatório do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), 45 municípios do Estado possuem produção superior ao potencial de armazenagem estática, “o que pode trazer entraves no trajeto entre a lavoura e o armazém e do armazém para o porto”. Em meio à escassez de armazéns, parte da produção não escoada imediatamente é armazenada em silos-bolsa ou em estruturas precárias e mesmo ao ar livre.

A situação no Estado agravou-se nos últimos dois anos, quando a produção de soja e milho cresceu mais de 9 milhões de toneladas. Até então, havia um equilíbrio entre a produção e a capacidade estática dos armazéns.

Como resultado, o custo médio de armazenar soja por um mês quase dobrou entre 2010 e 2012 – de R$ 12,79 para R$ 25,15 a tonelada, segundo levantamento do grupo de pesquisa e extensão em logística da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz” (Esalq/Log). Conforme o mesmo levantamento, no período o custo de estocagem da soja subiu, ainda, 27,22% em Goiás, 46,5% no Paraná e 53,9% em São Paulo.

Apesar do forte aumento, o custo com a armazenagem ainda é relativamente baixo no Brasil – um dos fatores que, segundo especialistas, inibem o investimento privado. Em Mato Grosso, corresponde a menos de 3% do valor que o produtor recebe por uma tonelada de soja (cerca de R$ 830). Seu impacto se faz sentir ao longo da cadeia logística. Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil, Glauber Silveira, produtores de soja situados em municípios no leste de Mato Grosso chegam a desembolsar até R$ 80 por tonelada para levar a soja até o armazém mais próximo. “Existem produtores que transportam o grão por 300 quilômetros para conseguir estocar”, afirma.

Além disso, a necessidade de escoar um grande volume em um curto espaço de tempo sobrecarrega todo o sistema viário e a operação dos portos, o que impulsiona os custos em toda a cadeia logística. “A transportadora, o operador portuário, todos precisam rentabilizar em seis meses os custos de um ano inteiro”, afirma um empresário do setor.

Para Debastiani, o maior prejuízo ocasionado pela falta de armazéns não está na inflação dos custos. “O problema é a oportunidade. Se o produtor não possui armazenagem, sua estratégia de comercialização fica comprometida. Ele tem de vender para a trading ou a cerealista em um momento que pode não ser o melhor”. Ele observa que apenas 14% dos armazéns no Brasil estão localizados dentro das fazendas e o restante em áreas urbanas e portuárias. “Nos Estados Unidos, 42% da capacidade estática está na fazenda”.

Segundo Tadeu Vino, coordenador do grupo de armazenagem da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o Brasil precisa investir R$ 10 bilhões para zerar seu atual déficit de armazenagem – o cálculo é feito com base em um preço médio de R$ 250 por tonelada. Vino afirma que o problema não tem prazo para ser resolvido, mas vê um aumento dos aportes. Nos últimos cinco anos, diz, os investimentos em estruturas de armazenagem e equipamentos totalizaram de R$ 7 bilhões a R$ 8 bilhões, mas foram insuficientes para fazer frente à alta da demanda.

Segundo a Agroconsult, os investimentos necessários apenas para zerar o atual déficit de armazenagem em soja e milho chegam a R$ 9 bilhões. Contudo, pondera Debastiani, seriam necessários R$ 28,7 bilhões para que o Brasil chegasse a 2023 – com uma produção projetada em 236 milhões de toneladas – com armazéns suficientes para estocar toda a safra de soja e milho.

Segundo ele, há um ambiente favorável para o aumento dos investimentos no setor, mas o cenário ainda é cercado por incertezas. “Há uma interesse crescente por parte dos produtores, que estão muito capitalizados, mas tudo vai depender de como vão se comportar os preços nas próximas safras. Esse é um setor muito volátil e uma crise pode fazer os investimentos secarem”, afirma.