A Marfrig subavaliou os desafios de integração dos ativos adquiridos da BRF, disse hoje Sérgio Rial, CEO da Seara Foods — principal divisão da companhia — e futuro CEO da própria Marfrig. “Claramente, nós subavaliamos o desafio da integração”, afirmou ele.
O problema com a integração dos ativos adquiridos da BRF no ano passado foi apontado com um dos principais motivos para o forte prejuízo da empresa no quarto trimestre, que totalizou R$ 284,2 milhões. Ao longo do ano passado, a Marfrig assumiu, por meio da Seara Brasil, dez fábricas de processados e oito centros de distribuição da concorrente. A BRF foi obrigada a vender esse ativos para que o Conselho Administrativo de Defesa Econômico (Cade) autorizasse sua criação, fruto da incorporação da Sadia pela Perdigão em 2009.
Segundo Rial, os ativos que pertenciam à BRF aumentaram a necessidade de capital de giro da Marfrig em cerca de R$ 350 milhões sem uma resposta esperada em faturamento. As fábricas adquiridas da BRF ainda trabalham com bastante capacidade ociosa.
O executivo diz, no entanto, que a situação vai melhorar neste ano. “Estamos quatro, cinco meses com esses ativos. Ainda não estão em sua [plena] capacidade, mas já não estão a 40%. Vamos para 55% a 65%”, disse Rial.
Ineficiência logística
Segundo o executivo, a Seara Brasil foi penalizada por um desalinhamento logístico decorrente do processo de integração dos ativos adquiridos da BRF. A elevação dos preços dos grãos usados na ração animal também pesou sobre a unidade. Diante disso, a Seara Foods, divisão que abriga a Seara Brasil, viu seu lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) desabar 55,1% no quarto trimestre na comparação com o mesmo período de 2011, para R$ 141,8 milhões. A margem Ebitda caiu de 8,9% para apenas 3,1%.
Na área de logística, o nível de entrega efetiva das encomendas (fill rate) no quarto trimestre ficou abaixo de 65%. “Significa que 35% das compras não foram entregues. Você tem o produto feito, ele se transforma em estoque, impactando o fluxo e a geração de caixa”, disse Rial. No acumulado de 2012, a Marfrig registrou um fluxo de caixa livre negativo de R$ 2,204 bilhões.
Outro problema logístico apontado pelo executivo é a sobreposição de centros de distribuição (CDs). Segundo ele, a empresa conta com um centro de distribuição em Cajamar (SP), com capacidade de armazenagem de 34 mil toneladas. “Mas não fomos capazes de trazer um nível de otimização que nos permita fechar ou redirecionar outros CDs, como os de Campinas e Santo André”, destacou.
Perspectivas
Para 2013, Rial está mais otimista com a Seara Brasil. A meta da companhia é atingir um nível de 75% de entrega efetiva de encomendas, disse Rial. “Em janeiro, foi superior a 70%”, afirmou ele. Aliado à acomodação dos preços dos grãos, a Seara Brasil pode, segundo comunicado da empresa, apresentar “melhorias em sua geração de caixa a partir do segundo trimestre de 2013”.
Em contrapartida, a divisão de bovinos da empresa (Marfrig Beef) dificilmente repetirá o bom desempenho verificado no ano passado em 2013, admitiu o executivo. “Historicamente, margens de dois dígitos não é que se vê em bovinos. Não vejo o final do [atual] ciclo, mas não teremos um ano tão bom quanto foi 2012”, disse ele.
No quarto trimestre do ano passado, a divisão de bovinos da Marfrig obteve uma margem Ebitda de 12,2%, acima dos 10,9% verificados em 2011. No acumulado de 2012, a área de bovinos da companhia registrou uma margem ainda melhor, de 13,4%, ante 9% em 2011.
Esse desempenho se deu graças à inversão do ciclo da pecuária no Brasil, com maior oferta de animais prontos para o abate, o que reduziu os preços do boi gordo. O animal é responsável por cerca de 80% dos custos de produção da divisão.