O relatório divulgado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) na última quinta-feira (28) não convenceu o mercado de commodities agrícolas. Em sua primeira estimativa de intenção de plantio para grãos no país, o órgão norte-americano praticamente manteve o número referente à área cultivada com soja em relação ao ano passado – 31,2 milhões de hectares – e aumentou ligeiramente a projeção do terreno a ser ocupado pelo milho – de 39,3 milhões de hectares para 39,4 milhões de hectares. Os especialistas acreditam, no entanto, que os produtores do Hemisfério Norte vão plantar mais do que o apontado pelo Usda. Isso porque o país precisa recompor seus estoques urgentemente e também pelo fato de que os preços médios dos grãos seguem acima da média.
Com a quebra de mais de 100 milhões de toneladas ocorrida no ano passado e o crescente apetite internacional, as reservas internas de grãos caíram drasticamente. “Os preços atuais não justificam manutenção nem redução na área de soja”, argumenta o analista da consultoria Safras & Mercado Flávio França Júnior. Ele estima que a soja ganhe aproximadamente 400 mil hectares de área em relação ao ano passado. Para o milho, Júnior aposta num pequeno incremento em relação ao número oficial divulgado na semana passada.
O analista da Informa Economics FNP Aedson Pereira acredita que a rentabilidade prometida pelo cereal deve fazer com que os americanos “olhem com mais carinho” para o milho, embora a soja também deva abocanhar mais hectares. Os produtores de Illinois, segundo Pereira, terão uma receita equivalente a US$ 1,2 mil por hectare, considerando o preço do grão a US$ 5,20 por bushel. Para a soja, o valor deve cair para US$ 618 a US$ 740/hectare.
“Além do preço, da conjuntura, dos baixos estoques, os Estados Unidos são os maiores fornecedores globais de milho. E têm um mercado interno muito forte. Também são um importante player de soja. Neste ano, por exemplo, o Brasil mostrou que pode produzir mais ou tanta soja quanto os americanos”, lembra.
As duas culturas tendem a roubar espaço do algodão, que tem perdido área no verão norte-americano por conta de uma queda nos preços internacionais.
Tendência – Embora não haja previsão oficial de rendimentos e produção para os Estados Unidos, o mercado espera que o país se recupere do tombo do ano passado – o terceiro consecutivo – e colha uma safra de soja semelhante à de 2009/10, com potencial para 92 milhões de toneladas – 10 milhões acima do ano passado. O volume considera o terreno projetado pelo Usda e uma produtividade média de 2,99 mil quilos por hectare (49,8 sacas por hectare), que foi mencionada durante o Outlook Forum, em fevereiro, evento que abre oficialmente a temporada nos Estados Unidos.
A perspectiva de uma boa safra norte-americana já vem sendo precificada pelos traders na Bolsa de Chicago (CBOT). E a tendência é que haverá muito “estresse sobre os preços” até a colheita dos Estados Unidos. “Os preços apontam para baixo, mas ainda assim devem ficar acima das médias dos últimos cinco anos – a da soja está entre US$ 11,5 por bushel e US$ 12 por bushel e a do milho em US$ 5 por bushel”, afirma França Júnior.
Clima dá trégua, mas frio ameaça atrasar fase inicial do plantio – Depois de três frustrações consecutivas – a do ano passado foi a pior em mais de meio século -, os produtores norte-americanos devem ter uma trégua do clima. Mas isso não quer dizer que a safra está garantida. O ano de neutralidade climática deve ser marcado por um atraso no início dos trabalhos de plantio de milho e chuvas relativamente dentro da média histórica, aponta o agrometeorologista da Somar, Marco Antonio dos Santos.
Ele afirma que as temperaturas abaixo da média vão atrasar entre 10 e 12 dias a largada da safra 2013/14 de milho nos Estados Unidos. Santos diz que os termômetros estão marcando 0º a 5ºC negativos no país, quando o normal esperado para a primavera é que as temperaturas fiquem entre 10º e 15ºC.
Para a soja, as condições de semeadura devem ser melhores. “O frio continua até a primeira quinzena deste mês. Somente em julho as temperaturas médias ficarão acima do normal. De todo modo, não vejo grandes anomalias na safra”, diz.
Em seu boletim, o MDA, instituto de monitoramento do clima nos Estados Unidos, prevê que o verão norte-americano será novamente mais quente e seco do que o normal. “Nossas estimativas iniciais indicam mais um ano de produtividade de milho abaixo da linha de tendência”.