A produção argentina de grãos deste ano caminha rapidamente para se tornar uma frustração para o governo do país, que projetava uma colheita de 100 milhões de toneladas e contava com uma retomada expressiva das exportações de cereais e oleaginosas.
A previsão de 51,3 milhões de toneladas de soja, que ainda consta nas projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), já havia sido revista pela Bolsa de Cereais de Buenos Aires e pela Associação da Cadeia de Soja (Acsoja), no ano passado, para 48,5 milhões de toneladas, em função do atraso no plantio no ano passado. Mas já se duvida no mercado argentino que mesmo esse total seja alcançado.
“O rendimento está caindo à medida em que a colheita avança e atualmente está em 2,5 mil quilos por hectare, o que permite projetar uma produção de 45 milhões de toneladas”, afirmou Pablo Adreani, da consultoria Agripac. Na safra passada, afetada por uma seca, a produção ficou em 40,5 milhões de toneladas.
Além da colheita menor, há indícios claros de que o sojicultor argentino está cauteloso no ritmo de suas vendas, à espera de uma pouco provável desvalorização do peso. Mesmo com a produção um pouco maior do que na safra passada (2011/12), as declarações de compra registradas na Bolsa de Cereais de Buenos Aires caíram da faixa de 24,9 milhões de toneladas para 17,2 milhões, um dado que soma as vendas acumuladas relativas à safra atual (2012/13) e o volume remanescente do ano anterior.
“Há interesse em permanecer com a soja como proteção contra a inflação e o atraso cambial”, disse Adreani. Para pagar compromissos, o produtor argentino tem optado por acelerar as vendas de milho ao exterior, aproveitando a liberação de cotas para o governo.
“Houve uma grande antecipação nas vendas este ano para aproveitar o preço internacional e as licenças de venda concedidas pelo governo”, afirmou Martín Fraguío, diretor técnico da Maizar, a entidade patronal de milho e sorgo. Segundo Fraguío, a safra argentina de milho deve passar de 21,2 milhões para 24,8 milhões de toneladas este ano e as exportações devem crescer de 17 milhões para 19 milhões de toneladas.
Na Argentina, ao contrário do que ocorre com a soja, as exportações de milho são limitadas pelo governo. No fim de 2012, o governo autorizou exportações de 15 milhões de toneladas de milho para embarque no início deste ano, para atenuar na balança o colapso das exportações de trigo, que também são reguladas por cotas.
Na triticultura, o governo argentino autoriza a venda apenas do excedente de produção que supere as 7 milhões de toneladas reservadas para o mercado interno. Em uma situação análoga à que se passou no mercado de carne bovina, em que o pecuarista reduziu seu rebanho, o produtor de trigo migrou para outros cultivos, como cevada, e a área plantada em 2012 foi 31% menor que em 2011. A colheita caiu 37%, de 14,5 milhões para 9 milhões de toneladas.
Na última semana, o governo prometeu um estímulo para o segmento: devolver em dezembro US$ 600 milhões como reembolso do imposto sobre as exportações para os produtores que conseguirem gerar excedente de produção. Mas o anúncio não entusiasmou.
“A intenção de plantio este ano deverá apontar um crescimento de 6% e a situação climática melhor deve fazer com que o rendimento cresça e a produção chegue a 11 milhões de toneladas. Mas isso porque a redução da área plantada chegou a um piso abaixo do qual prejudica a rotação de culturas”, disse Santiago Labourt, presidente da entidade patronal Argentrigo. Segundo ele, “o que o segmento quer é o fim do regime de cotas”.