Há duas semanas, o empresário argentino Gustavo Grobocopatel, do grupo de trading e produção de grãos Los Grobo, escutou uma provocação em um debate sobre o agronegócio no auditório da embaixada brasileira em Buenos Aires. Da plateia, perguntaram por que a classe empresarial do país não tinha ânimo em investir. Grobocopatel respondeu de maneira informal: “Não empreendemos porque não temos grana, estamos ‘secos’ (duros, sem dinheiro, em português)”.
Anteontem, Grobocopatel disse ao Valor que a sua referência à falta de dinheiro era uma brincadeira. Ao longo do mês passado, o empresário cuidava dos últimos detalhes para inaugurar sua primeira fábrica de sementes, que será aberta em Tandil, fechava a aquisição de outra fábrica de fitossanitários, a Agrofina, de Zárate, e concluía a venda de sua participação na Ceagro, o seu principal negócio no Brasil em sociedade com a Vinci Partners, para a japonesa Mitsubishi. A gestora de recursos tem fatia de 50% da operação da Los Grobo no Brasil (esvaziada com a venda da Ceagro) e 22% na holding global.
O investimento na industrialização de sementes e defensivos, que incluirá ainda mais duas plantas em Córdoba e Guanimi, na província de Buenos Aires, vai consumir US$ 75 milhões até 2015, valor que não considera a compra da Agrofina, cujos montantes estão sob sigilo.
A venda da Ceagro para a Mitsubishi, conforme informou a agência japonesa Nikkei, foi fechada por 50 bilhões de ienes, ou cerca de US$ 500 milhões. Grobocopatel não confirmou nem desmentiu o valor, que equivale ao faturamento anual previsto para 2013, de R$ 1,030 bilhão.
“A venda no Brasil não aconteceu para capitalizar investimentos na Argentina. Decidi fazê-la porque a oferta era excelente. O grupo Los Grobo vai voltar a investir no Brasil. Só não sei onde, quanto e quando”, disse Grobocopatel. Segundo ele, o investimento na Argentina será custeado por empréstimo sindicalizado por quatro bancos.
Segundo Grobocopatel, o grupo vai faturar este ano US$ 760 milhões, em uma conta que já exclui a Ceagro. Serão US$ 500 milhões das operações na Argentina e US$ 250 milhões do negócio de soja e trigo no Uruguai. Do Brasil, sobrarão só US$ 10 milhões, de um moinho de trigo que Grobocopatel decidiu manter em Jundiaí (SP).
“Íamos comercializar 3 milhões de toneladas de grãos este ano. Com a venda da Ceagro, vamos vender 2,1 milhões de toneladas”, afirmou. Grobocopatel insistiu que seu modelo de negócio não mudou com a venda da Ceagro, mas admitiu que fez um desinvestimento em uma empresa com margem líquida estreita (3,2% este ano) para atividades com margem líquida maior, como é o caso da agroindústria argentina.
“Os fundamentos da Argentina no agronegócio são muito sólidos. Quando o país resolver seus dramas políticos e econômicos, a Argentina vai crescer muito mais rapidamente que os outros países”, disse Grobocopatel, acrescentando que ” no futuro, o centro de nosso negócio voltará a ser o Brasil”.
O empresário afirmou que a venda da Ceagro poderá não ser o seu único negócio com a Mitsubishi. “É muito possível que façamos novas transações, há outros negócios a fazer”. Grobocopatel estava no Brasil desde 2007, atuando na produção de grãos e comercialização da safra de terceiros. Este ano, 20% do total que a Ceagro venderá será de produção própria.