O governo já sabe que a atividade econômica em julho foi fraca e admite a possibilidade de o 3º trimestre apresentar uma queda no ritmo de recuperação que vinha ocorrendo até o 2º trimestre. Os dados de produção e venda de automóveis, divulgados ontem pela Anfavea, decepcionaram e corroboram essa avaliação. A produção industrial, em grande volatilidade, não fixa tendência.
No mercado, há prognósticos de aumento de até 1 ponto percentual no desemprego nos próximos dois a três meses. O crédito ainda cresce nos bancos públicos, sobretudo na Caixa, mas de forma mais moderada. As instituições privadas fecharam as torneiras. Não está claro se julho foi um fato isolado ou se a recuperação do primeiro semestre está se esgotando.
Os fatores que penalizavam a indústria, como a valorização do câmbio, foram removidos. O dólar, que custava em média R$ 1,80 no início de 2012, está cotado a R$ 2,30. É fato que os efeitos da desvalorização do real demoram a aparecer, sobretudo no impulso ao comércio exterior. Há um prazo de seis meses a um ano até que os contratos de exportação do passado vençam e os novos sejam feitos a um câmbio mais favorável. O setor ainda foi beneficiado pelas desonerações de impostos e por reajustes salariais mais baixos. Os serviços também crescem a taxas mais modestas,
Não há, portanto, explicação para uma eventual redução da produção industrial no 3º trimestre a não ser a perda de confiança dos empresários. A descrença antecede as manifestações de protestos que tomaram as ruas do país em junho. Estas, porém, intensificaram o mau humor dos investidores. Esse é o quadro do lado da oferta. Já a demanda, que estava superaquecida, esfriou um pouco, mas não a ponto de comprometer um certo crescimento no ano, dizem economistas oficiais. As vendas no varejo reagem.
Agora parece que tudo conspira a favor da derrubada da inflação. A perda de fôlego da atividade econômica pode neutralizar boa parte do impacto da desvalorização cambial sobre os preços. Em tese, se incorporado às expectativas, isso diminuiria também o tamanho do aperto monetário necessário para conter o IPCA em um patamar ligeiramente inferior aos 5,84% registrados no ano passado.