O presidente da Petrobras Biocombustível, Miguel Rossetto, afirmou que a divisão da estatal postergou, por prazo indeterminado, a duplicação de uma usina de etanol em Goiás, originalmente prevista para ser concluída na safra 2014/15. O baixo retorno projetado para o investimento explica a decisão, conforme o executivo.
A Petrobras Biocombustível havia anunciado com a parceira São Martinho investimentos de R$ 520,7 milhões para transformar a usina Boa Vista, em Quirinópolis, na maior unidade produtora de etanol do mundo. O plano era que a unidade, controlada pela joint venture Nova Fronteira Bioenergia, alcançasse 8 milhões de toneladas de moagem de cana no ciclo 2014/15, com 100% da matéria-prima direcionada à fabricação do biocombustível.
Desde o ano passado já vinha sendo sinalizado ao mercado que o ritmo de avanço do projeto seria mais lento, segundo o presidente da São Martinho, Fábio Venturelli. Neste ciclo 2013/14, a unidade de Goiás prevê usar toda sua capacidade industrial com o processamento de 4 milhões de toneladas de cana.
“O plano de expansão está mantido, no entanto sem data definida para acontecer. Estamos avaliando ano a ano a capacidade de suportar esse investimento. Tivemos dois anos ruins, com geração de caixa abaixo do esperado. O conselho de administração decidiu modular o ritmo de crescimento à capacidade de gerar caixa”, disse Rossetto.
A área de biocombustível da Petrobras vem registrando prejuízos praticamente desde que a estatal entrou no segmento, no início desta década. Em 2011, o resultado líquido negativo dessa área (que também engloba a produção de biodiesel) foi de R$ 157 milhões e, em 2012, de R$ 218 milhões. Em etanol, além da joint venture Nova Fronteira, a Petrobras tem participações minoritárias – da ordem de 49% – na sucroalcooleira Guarani (controlada pela Tereos Internacional) e na Bambuí Bioenergia (antiga Total).
“É muito difícil estabelecer um prazo para virar o resultado para o terreno positivo, por conta das condições de mercado. Além disso, trata-se de empresas novas que estão investindo muito e pagam elevada depreciação”, explica Miguel Rossetto.
A decisão tomada na Nova Fronteira não é isolada no segmento sucroalcooleiro. Diversos grupos mantêm engavetados projetos de construção de novas usinas à espera de condições mais transparentes de mercado.
Essa condição ameaça o equilíbrio do mercado de combustíveis no país, diz Rossetto. Em 2013, por conta da grande produção interna, o etanol será um dos responsáveis pela menor importação de gasolina pela estatal que também registrará neste ano crescimento da produção de gasolina A nas suas refinarias.
A expectativa da estatal é que 10% da gasolina consumida no mercado interno brasileiro venha de importações. Em 2012, esse percentual foi de 16%, compara Rossetto. Ele alerta, no entanto, que um novo gargalo no mercado de combustíveis está próximo, pois novas usinas de etanol não estão sendo construídas e a capacidade de refino da Petrobras é limitada.
A única medida de curto prazo capaz de provocar um alargamento de mercado – e de preços – do etanol a ponto de estimular investimentos é a redução do ICMS nos Estados produtores. “Não há mais tributos federais sobre o etanol. A redução da carga estadual também é uma discussão difícil. Mas é o que vislumbro como mais possível neste momento”, diz Rossetto.
Por meio das coligadas, a Petrobras Biocombustível deve registrar em 2013/14 uma moagem de 26,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e a produção de 1,06 bilhão de litros de etanol, aumentos de 18% e 29%, respectivamente, em relação à temporada 2012/13. “A safra vem se confirmando maior e melhor. A produtividade das coligadas está, na média, em 90 toneladas por hectare”, afirma. Ele acrescenta que as empresas estão “totalmente” focadas em redução de custos.
No Plano de Negócios e Gestão de 2013 a 2017, a Petrobras Biocombustível prevê investir US$ 2,9 bilhões em produção (etanol e biodiesel). No Plano 2012-2016, a companhia previa aportes nessa frente de US$ 2,5 bilhões.