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Milho vai perder espaço para a soja em 2013/14 no PR

Melhor remuneração oferecida pela oleaginosa explica a tendência; plantio de feijão pode crescer.

Milho vai perder espaço para a soja em 2013/14 no PR

A poucas semanas do início do plantio de verão da safra de grãos de 2013/14 no Paraná, o perfil do novo ciclo começa a ganhar contornos mais nítidos. A expectativa dos produtores é que a área de soja avance sobre a de milho, já que em 2012/13 o cereal acabou “espremido” por uma oferta ampla, preços baixos e custos elevados para o escoamento da colheita.

Na safra de verão 2012/13, os agricultores paranaenses colheram 7,1 milhões de toneladas de milho, com a saca de 60 quilos negociada entre R$ 22 e R$ 23. Na safra de inverno, mais robusta, foram colhidas 10,9 milhões de toneladas, mas a cotação média caiu para R$ 17,50 por saca, patamar próximo do preço mínimo estabelecido pelo governo federal, de R$ 17,46.

Segundo Flávio Turra, gerente técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), a confirmação desse cenário de menor aposta no milho depende dos preços nas próximas semanas, mas o fato é que os ganhos mais polpudos da soja na última temporada serão o fiel da balança. “Na safra 2012/13, o preço da soja pago ao produtor ficou entre R$ 55 e R$ 56 por saca no Estado, enquanto o custo operacional variou de R$ 38 a R$ 40, o que resultou em uma margem bem razoável”, diz.

Conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a colheita brasileira de grãos totalizou cerca de 186 milhões de toneladas em 2012/13 – 37,3 milhões no Paraná, segundo maior produtor do país, atrás de Mato Grosso. A temporada 2013/14 já começou no Estado, onde a colheita de trigo está no início e a produção tende a ser cerca de 30% menor por conta das geadas de julho. Em todo o país, a expectativa é que a produção de grãos em 2013/14 alcance 200 milhões de toneladas, capitaneada pela soja.

Diferentemente de Mato Grosso, onde grandes produtores e empresas agrícolas são os protagonistas no campo, no Paraná esse papel cabe às cooperativas. Uma das maiores do Estado, a Cocamar, com sede em Maringá, prevê aumento de 2% no plantio de soja em sua área de atuação, para 636 mil hectares. Emerson Nunes, coordenador técnico de culturas anuais, explica que o avanço não será maior porque a Cocamar atua em áreas “bem estabilizadas”, sem tanto potencial de crescimento – o plantio de milho já representa menos de 20 mil hectares no plantio de verão da cooperativa.
 

A tendência, porém, é que os produtores também tenham margens menores com a soja. A Cocamar prevê uma rentabilidade de cerca de R$ 1.700 por hectare em 2013/14, ligeiramente abaixo dos R$ 1.730 da safra anterior – isso caso a oleaginosa permaneça em R$ 60 por saca, em média. Conforme Turra, da Ocepar, os preços talvez fiquem mais perto de R$ 50 do que de R$ 60 e os custos devem subir, mas nada capaz de impedir uma boa lucratividade.

Para o milho o cenário ainda é turvo, mas as perspectivas iniciais são pessimistas, especialmente após os resultados da safrinha de inverno de 2012/13, cuja colheita já está no fim. Para efeito de comparação, os ganhos contabilizados pelos cooperados da Cocamar com a segunda safra de milho vão recuar de R$ 1.030 por hectare, em 2012, para R$ 548,00 este ano.

Marcelo Garrido, economista do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura do Paraná, lembra que cresce também a expectativa que o plantio de feijão avance no Estado. “O preço do feijão no último ano tem se estabilizado em patamares elevados, o que pode fazer o grão concorrer por áreas antes ocupadas pelo milho”, previu. Na safra 2012/13, a colheita da primeira safra paranaense de feijão totalizou 300,6 mil toneladas, 14% menos que no ciclo anterior.

Além das disputas por área entre os grãos, questões relacionadas à infraestrutura seguem no radar dos produtores do Paraná. Embora o Estado tenha custos logísticos inferiores aos de Mato Grosso – uma vantagem competitiva importante, favorecida pelo porto de Paranaguá -, a escassez de armazenagem pode trazer transtornos na próxima safra.

A capacidade de armazenagem no Paraná é de 28 milhões de toneladas e o Estado tem déficit de 10 milhões, administrável em safras “normais”. “Mas, se houver uma retenção grande do milho da safrinha, podemos ter dificuldades para armazenar a safra de verão”, alerta Turra.

Não por acaso, a Coamo, maior cooperativa da América Latina, com sede em Campo Mourão, anunciou nesta semana investimentos de R$ 465 milhões até 2015 para modernizar e ampliar 67 unidades, para reduzir o déficit de armazenagem e agilizar o recebimento de produtos. Com os recursos, também serão erguidas quatro novas unidades.

Em recente entrevista ao Valor, José Aroldo Gallassini, presidente da Coamo, previu que esses investimentos elevarão em quase 10% a capacidade de armazenagem do grupo. Hoje, a cooperativa pode estocar 84 milhões de sacas. “Esse aumento é para evitarmos aluguel de armazém e remoção de produto na época em que o frete está nas alturas”.

Na comercialização, a lentidão é notória no Paraná. Além da baixa liquidez do milho, as vendas antecipadas de soja estão atrasadas. Até agora, a Cocamar negociou 10% do que deverá colher no início do ano que vem, ante 20% na mesma época de 2012. Em parte, o atraso reflete a possibilidade de os preços do grão subirem com as adversidades que marcam o fim do desenvolvimento das lavouras da safra 2013/14 nos EUA. Mas, para as próximas semanas e meses, a tendência é de baixa.

Já o clima tende a se manter “neutro” durante o plantio de grãos, sem influência de La Niña ou El Niño. “Os mapas não apontam secas prolongadas, de 50 ou 60 dias. Mas haverá períodos de estiagem, intercalados com chuvas de média a forte intensidade”, afirma Garrido, do Deral.