A produção de soja no Brasil deverá aumentar em 8,2% nesta safra (2013/2014), com previsão de novo recorde com 88 milhões de toneladas. Este potencial agrícola poderia ser ainda maior, não fossem as falhas no manejo sustentável da cultura, com base num planejamento a longo prazo. O tema foi discutido na última quinta-feira, dia 19/09, durante o treinamento sobre a cultura da soja, realizado pela Embrapa Trigo e Emater/RS-Ascar, em Passo Fundo, RS.
Para o pesquisador da Embrapa Trigo, Paulo Bertagnolli, a produção brasileira de soja poderia chegar a 130 milhões de toneladas com o adequado uso da tecnologia associado ao manejo mais eficiente da lavoura. “O rendimento das cultivares disponíveis no mercado não apresenta muita variação, enquanto que nas lavouras vemos o uso da mesma cultivar chegar a 100 sacos numa propriedade e não passar de 30 sacos em outra. O segredo está no manejo para potencializar o rendimento”, explica Bertagnolli.
Contudo o pesquisador Paulo Bertagnolli alerta: “a soja sozinha não se sustenta. O lucro a curto prazo pode virar prejuízo ao longo do tempo, porque o rendimento acaba caindo ano a ano com a monocultura”. A afirmação é respaldada pelo pesquisador Mércio Strieder: “Não bastasse queda no rendimento, o cultivo de soja sobre soja durante anos consecutivos acaba trazendo novos problemas de pragas e doenças. Vejamos o caso recente da lagarta Helicoverpa, uma praga do algodão que está atacando a soja, e a esclerotínia, uma doença de soja que estava restrita a regiões frias do sul do Brasil e agora espalhada pelo Brasil Central”. Na prática, a pesquisa sugere dividir a área de cultivo em 1/3 de gramíneas (como milho, sorgo ou pastagens) e 2/3 de soja, num planejamento para três anos. O produtor pode, por exemplo, fazer a seguinte rotação: 1º ano – soja/milho/soja; 2º ano – sorgo/soja/soja; e 3º ano – soja/soja/pastagem. “Esta rotação pode e deve ser empregada tanto em áreas pequenas, de 10 hectares, quanto em propriedades com grandes extensões”, enfatiza Strieder.
De acordo com Paulo Bertagnolli “não existe fórmula milagrosa, nenhum produto vai recuperar a estrutura do solo na pré-semeadura da soja. Vemos no mercado enraizadores, aminoácidos, nitrogênio na base, micronutrientes e outras soluções que não tem o devido embasamento científico. Na maioria das vezes, uma boa análise de solo e monitoramento da lavoura para avaliar o que a planta está necessitando naquele momento resolve grande parte dos entraves para maiores rendimentos nas culturas”.
Na avaliação da pesquisa, uma tecnologia barata, mas pouco utilizada pelo produtor é o uso de inoculantes na soja, prática que pode aumentar a produtividade de 4 a 20%. A formulação dos inoculantes consiste em bactérias que, associadas às raízes, formam nódulos que ajudam na fixação do nitrogênio do ar utilizado pela planta. A prática se torna ainda mais importante com a redução das chuvas na época de semeadura, quando diminui a atividade biológica do solo e a disponibilidade de nutrientes. O custo da inoculação na soja é de, aproximadamente, R$ 2,00 por hectare, com o uso de produtos granulados que devem ser misturados à semente antes da semeadura. Mas, diferente do adubo mineral, o inoculante contém organismos vivos, que tem prazo de validade, pouca tolerância ao sol e podem perder o efeito quando associados a alguns fungicidas. “Com este investimento de dois reais, a planta pode fixar cerca de 200 kg de N ou 1.400 kg de ureia por hectare de soja, considerando rendimento de grãos de 3 toneladas por hectare”, explica Mércio Strieder.
A capacitação em soja faz parte de uma série de atividades que vêm sendo realizadas em parceria entre a Emater/RS-Ascar e a Embrapa Trigo na região norte do Rio Grande do Sul, visando à aproximação entre pesquisa e extensão.