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Exportação

Instabilidade do câmbio reduz ganho de exportador

Forte oscilação do câmbio entre julho e setembro retirou do exportador parte das vantagens embutidas no dólar mais forte. Impacto foi imediato no preço dos insumos.

Instabilidade do câmbio reduz ganho de exportador

A alta volatilidade do câmbio nos últimos meses tirou do exportador parte das vantagens do real mais desvalorizado. No pico, o dólar chegou a ser cotado a R$ 2,45, mas esteve por mais de 40 dias acima de R$ 2,30. Esse movimento provocou reajuste de preço dos insumos importados, que representam quase um quarto do total da matéria-prima usada pela indústria de transformação, na média.

Na outra ponta, exportadores apostaram no dólar mais caro e reduziram preços para reconquistar mercados. Hoje, mesmo com o câmbio próximo a R$ 2,20, as indústrias dizem que os preços dos insumos ajustados no pico do dólar ainda não foram corrigidos e prosseguem pressionando custos.

Mesmo com o real um pouco mais forte do que em agosto, indústrias como Metalplan, de compressores, Zen, de autopeças, a têxtil Döhler, a calçadista West Coast e a fabricante de eletroportáteis Mondial conseguiram aproveitar para exportar e recuperar nível de vendas, mesmo que com ganhos modestos. Algumas conquistaram novos clientes e mercados.

Hoje, como decorrência dos efeitos da oscilação do câmbio, os empresários preferem um dólar mais barato às variações bruscas dos últimos meses, embora o dólar a R$ 2,40 ainda seja almejado por alguns exportadores. O atual patamar de R$ 2,20, que ainda acumula desvalorização de 6,5% desde o início do ano, é considerado “confortável”, porque gera ganhos de competitividade no mercado interno e externo. Persiste a incerteza em relação ao câmbio de 2014, variável importante para as indústrias definirem como irão aproveitar a vantagem. Já com prazos para desenhar os orçamentos de 2014, as empresas estimam desvalorização em relação ao patamar atual, para cerca de R$ 2,30 a R$ 2,40.

Edgard Dutra, diretor da Metalplan, diz que as fortes oscilações do câmbio prejudicaram a referência de preços. Ele conta que fornecedores de insumos reajustaram preços para se adequar ao dólar próximo a R$ 2,50, mas não fizeram descontos com a valorização recente. A expectativa, diz, é que a concorrência natural faça com que os preços voltem a patamares próximos aos anteriores. “É a inflação residual do câmbio.”

O real mais caro, porém, afirma Dutra, contribuiu para melhorar as exportações. Até setembro, a empresa exportou volume idêntico a todo o ano de 2012. A expectativa é terminar 2013 com elevação de 30% a 40% em relação ao ano passado, num patamar próximo ao que Dutra espera da evolução do faturamento total. A Metalplan, segundo ele, vendeu para um novo cliente americano, para o qual cotou preços no período em que o dólar custava R$ 2,10. Quando fechou o contrato de câmbio, a empresa foi beneficiada com um dólar a R$ 2,28, “Foi um ganho”, diz Dutra, que, no entanto, antevê dificuldades para as futuras negociações com o mesmo cliente. “Os meus custos ainda não tinham o reajuste dos fornecedores em razão do câmbio e agora precisarei manter preços compatíveis.”

A Döhler é outra empresa para a qual o câmbio fez diferença no custo e na exportação. Carlos Alexandre Döhler, diretor comercial da têxtil catarinense, explica que a exportação e as vendas físicas totais da empresa evoluíram até agora no mesmo ritmo, com alta de 10% em relação ao ano passado. A exportação mantém em 2013 fatia de participação de 8% da produção total da empresa.

A exportação foi uma estratégia na qual a empresa resolveu investir de forma mais intensa desde que o câmbio ainda era desfavorável para as vendas externas. A companhia instalou em 2011 um centro de distribuição na Flórida, Estados Unidos, com o objetivo de vender produtos fabricados em Joinville para países da América Latina e varejistas americanos. Para o próximo ano, o diretor espera continuidade da desvalorização do real, para um patamar próximo a R$ 2,30, e a exportação, estima, pode ganhar mais espaço e atingir 10% do faturamento. A expectativa dele é que o mercado doméstico não deve ter grande expansão em 2014. 

“A desvalorização do câmbio desde 2011 ajudou a melhorar o resultado de exportação, mas também trouxe elevação de custos dos insumos importados”, diz o diretor. Ele conta que, de 2011 até hoje, a participação dos importados no total de suprimentos da empresa dobrou, por causa do câmbio e do aumento de produção, que resultou em volumes maiores de importação de corantes, produtos químicos e fios. Apesar disso, Döhler considera o patamar de R$ 2,20 confortável, já que os efeitos nos custos devem ser amenizados com medidas para elevar produtividade.

Rafael Schefer, diretor de marketing da West Coast, tem análise semelhante para a calçadista. Para ele, o efeito do câmbio atual sobre os insumos importados, como o couro, pode ser superado com ganho de produtividade. Mesmo com câmbio longe do ideal, a empresa colhe a vantagem do real mais barato nas exportações. “O câmbio deu mais competitividade e ajudou a retomar mercados.”

Uruguai, Paraguai, Bolívia e Oriente Médio são alguns dos destinos que ajudaram a empresa a compensar o efeito Argentina, para onde os calçadistas voltaram a ter dificuldades para embarcar. O mercado argentino, principal comprador externo no primeiro semestre, diz Schefer, deixou de importar calçados da empresa na segunda metade do ano. Mesmo assim, a exportação terminará o ano com fatia de 15% do faturamento, patamar semelhante aos 17% do ano anterior. “Se não houvesse o efeito Argentina, a exportação teria fatia maior”, diz. A estratégia, segundo ele, é aproveitar o câmbio mais favorável e apostar na diversificação de destinos para aumentar as vendas externas.

A fabricante de eletroportáteis Mondial também tem planos de elevação da fatia exportada. Giovanni Marins Cardoso, diretor comercial da empresa, diz que a depreciação do real ajudou a elevar de 1% para 2% do faturamento a participação das exportações, direcionadas principalmente para o Paraguai, Espanha e Estados Unidos. A meta da empresa, afirma, é que as exportações atinjam 5% do faturamento nos próximos anos.

Com cerca de 80% dos insumos afetados pelo câmbio, seja por importação ou por preços que seguem cotações internacionais, a Mondial, diz Cardoso, sentiu fortemente o peso da oscilação cambial. Por conta disso, a empresa reajustou preços em setembro. Segundo ele, cerca de 70% do catálogo da empresa teve preços elevados entre em 2% a 19%. O reajuste de preços, porém, não deve ser revertido, diz, porque não englobou toda a perda de valor do real e houve redução de margens. Além disso, diz, os insumos continuam com preços mais altos.

O problema atual da indústria de manufaturados, diz o economista e professor da Unicamp Edgard Pereira, é a mudança estrutural sofrida nos últimos anos. Com a valorização do câmbio, as empresas deixaram de exportar e aumentaram a compra de insumos vindos de fora do país, o que diminuiu gradativamente a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB). “No arranjo atual, em que a empresa é majoritariamente voltada para o mercado doméstico, com penetração forte de importados, a margem de lucro tende a ser comprimida e gerar inflação quando o real perde valor”, diz. Para corrigir a distorção, a indústria precisa voltar a ser exportadora.

Pereira avalia que atualmente as empresas dependem de sinalização forte do governo de que o real forte ficou para trás, para poderem apostar em reinserção no mercado externo. Nelson Marconi, professor da FGV, também diz que as autoridades precisam emitir sinais mais claros de que a tendência é de câmbio mais desvalorizado. Por enquanto, diz, os sinais são confusos e há dúvidas se será permitido perda mais forte de valor do real em função da inflação.

Por enquanto, quem manteve as apostas na exportação, mesmo sem sinalização mais clara, já colhe resultados. Para a Zen, fabricante de peças para o mercado automotivo com sede no Sul do país, valeu a pena manter contratos pouco lucrativos com clientes externos nos anos de real forte. Atualmente, cerca de 50% de seu faturamento vem da parcela da produção que é exportada, enquanto pouco menos de 10% dos custos dependem de matérias-primas importadas.

“O balanço é muito favorável”, diz Gilberto Heinzelmann, presidente da empresa, que devido ao câmbio mais favorável e investimentos em produtividade estima fechar o ano com aumento de faturamento na casa dos dois dígitos.

Para o empresário, o atual câmbio é mais “realista” e permite que a empresa seja mais competitiva, tanto no mercado global como no interno. Heinzelmann conta que alguns projetos com montadoras nacionais, que haviam sido rompidos por causa dos preços mais atrativos dos produtos importados, começam a ser retomados. O executivo afirma que os clientes internos estão trabalhando com câmbio de R$ 2,30 a R$ 2,40 para 2014, o que torna os produtos da Zen mais competitivos.