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Infraestrutura

Desafio da BR-163 está em seus extremos

Parte da lição de casa está feita. O sucesso no leilão da BR-163 no Mato Grosso confirmou o interesse da iniciativa privada em assumir um dos principais eixos rodoviários de escoamento de grãos do país.

Parte da lição de casa está feita. O sucesso no leilão da BR-163 no Mato Grosso confirmou o interesse da iniciativa privada em assumir um dos principais eixos rodoviários de escoamento de grãos do país. Com uma proposta de pedágio 52% inferior ao teto proposto pelo governo, a Odebrecht Transport vai cuidar, por 30 anos, dos 850 km daquela que também é conhecida como a “rodovia da soja”. O desempenho pleno dessa concessão, no entanto, depende agora de dois passos fundamentais.

O que o governo privatizou ontem é a parte mais nobre da BR-163. O trecho parte de Sinop, coração da produção de grãos do país. Falta agora resolver a situação das extremidades.

A partir de Sinop, a BR-163 avança sentido Pará, até chegar a Santarém. São cerca de 1,5 mil km de estrada, dos quais boa parte ainda não tem asfalto e, em épocas chuva, fica absolutamente intransitável. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), responsável por tocar as obras neste trecho, tem renovado todos os anos a promessa de pavimentação da rodovia. Não se trata de um projeto novo. Faz 30 anos que o produtor rural e a população da região ouvem do poder público que um dia chegará asfalto para toda a “Cuiabá-Santarém”.
No início deste ano, a reportagem do Valor percorreu o trecho da rodovia que liga Sinop a Santarém. No caminho, encontrou atoleiros, caminhões tombados, pontes por fazer e cerca de 500 km de estrada de terra. O Dnit prometia concluir tudo até o fim de 2014, mas o governo já admite que a obra só deve ficar pronta mesmo em meados de 2015, por conta de dificuldades atreladas aos contratos firmados com empreiteiras. Alguns lotes de obras ainda estão em fase de rescisão, para depois serem relicitados.

A saída de cargas pelo norte da BR-163 é uma das rotas mais esperadas pelos ruralistas. A partir de Miritituba (PA), os caminhões de grãos poderão acessar a hidrovia do Tapajós em terminais de carga que já começaram a sair do papel. Aqueles que avançarem mais 300 km, chegarão à Santarém, no rio Amazonas, onde um porto já estruturado se prepara para o aumento de demanda. A conclusão desse trecho, portanto, guarda um impacto importante para o trecho concedido pelo governo.

A influência no futuro da BR-163 MT também é grande quando se olha para o sul da rodovia. A melhoria das condições da estrada neste trecho favorece o tráfego que tem como destino o porto de Paranaguá (PR). Cabe ao governo, no entanto, garantir o sucesso do leilão da BR-163 MS, marcado para o dia 17 de dezembro. Neste trecho, que avança da divisa entre o MT e o MS até chegar à divisa com o Paraná, a situação é bem diferente daquela encontrada no trecho que foi privatizado. No MS, são 850 km de estrada em condições ruins, dos quais mais de 820 km ainda precisam ser duplicados em até cinco anos.

Para atrair interessados, o governo acabou de aumentar em 17% o preço do pedágio estimado. Entre as nove praças de pedágio previstas para a BR-163 MS, duas tiveram o preço-teto estipulado em R$ 10,30, um preço que causa calafrios entre os usuários da estrada. Ontem, a Odebrecht sinalizou que pode apresentar uma proposta para o trecho. Faz sentido. Ela passaria a ter controle total da rota rodoviária dos grãos do maior celeiro do país. A empresa, no entanto, preferiu não cravar sua posição.

No curto prazo, não há preocupação com demanda. O trecho concedido chega até Rondonópolis (MT), ponto onde a carga de grãos que veio pela estrada é despejada em vagões e segue por ferrovia até o porto de Santos. No longo prazo, porém, o incremento de tráfego da BR-163 MT dependerá, essencialmente, do destino que será dado às suas duas pontas, seja aquela executada pelo poder público, seja a que passar para as mãos da iniciativa privada.