Não causou exatamente surpresa a notícia de que a Braskem poderá, no futuro, produzir polietileno (PE) nos Estados Unidos a partir de gás de xisto, matéria-prima que derrubou os custos de produção de petroquímicos naquele país e marcou a retomada da indústria americana de resinas plásticas. Segundo interlocutores, a maior petroquímica das Américas “não poderia deixar de olhar essa alternativa, ainda em tempo de acompanhar a nova onda de investimentos”.
O que mais surpreendeu foi o modelo que poderá ser adotado para o investimento. O grupo Odebrecht, que controla a Braskem, já deu início a estudos de viabilidade para a implantação de um complexo petroquímico nos Estados Unidos, baseado em gás de xisto, por meio da Odebrecht Ambiental. A essa controlada caberá a análise de viabilidade econômica, o financiamento e a construção do empreendimento, enquanto a Braskem será a operadora, caso se decida por levar adiante o investimento.
Dessa forma, a Braskem, que tem a Petrobras como acionista relevante, não comprometeria seu balanço financeiro com mais um projeto de grande porte e fora do território brasileiro. Há tempos a companhia insiste no discurso de que o mercado brasileiro tem prioridade em sua estratégia e que a parceria no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) está no topo da lista – junto, é claro, com o complexo petroquímico em sociedade com a Idesa que está em construção no México.
Porém, não olhar as alternativas relacionadas ao gás de xisto poderia ser um erro estratégico, na avaliação de uma fonte do setor. A possibilidade de reduzir drasticamente os custos de produção a partir dessa matéria-prima levou à retomada dos anúncios de novos projetos nos Estados Unidos, cuja indústria petroquímica encolheu na última década.
O país, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), é dono da quarta maior reserva mundial de gás de xisto. Diante desse potencial, até meados deste ano, segundo dados do Conselho Americano de Química (ACC, na sigla em inglês), havia 110 empreendimentos planejados nessa área, com investimento conjunto de cerca de US$ 77 bilhões.
Se sobreviver à etapa dos estudos de viabilidade, o projeto da Odebrecht será erguido no Estado de Virgínia Ocidental e compreenderá uma central petroquímica para obtenção de etano integrada à produção de polietileno. Hoje, a Braskem já tem produção de polipropileno (PP) nos Estados Unidos e é líder nesse segmento no país.
De acordo com a Braskem, um elemento crítico do projeto será a disponibilidade de matéria-prima. Na região onde o complexo pode ser erguido, há mais de 30 potenciais fornecedores e duas grandes reservas de gás: Utica e Marcellus.