Após o recuo de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) na passagem do segundo para o terceiro trimestre, feito o ajuste sazonal, a maior parte dos primeiros indicadores de atividade e de expectativas referentes aos últimos três meses do ano aponta para um desempenho melhor da economia no período, embora o ritmo de recuperação esperado pelos analistas seja modesto.
Divulgada ontem pelo IBGE, a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF) mostrou que a produção industrial seguiu a trajetória positiva observada há dois meses e subiu 0,6% entre setembro e outubro, feito o ajuste sazonal, acima das projeções do mercado. Nas contas da Tendências Consultoria, essa alta já garante avanço de 1% da produção no quarto trimestre, caso a indústria fique estável em novembro e dezembro.
O ganho de fôlego da produção industrial foi disseminado em outubro. Dos 27 ramos de atividade pesquisados pelo IBGE, 21 se expandiram no mês. Entre as cinco categorias de uso analisadas, apenas a de bens de consumo duráveis reduziu a atividade no período, em 0,6%.
Já a confiança dos empresários do setor começou o trimestre em queda, aumentou em novembro, mas permanece em patamares historicamente baixos, segundo sondagens da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Calculado pela FGV, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) deixou para trás a série de cinco retrações consecutivas e subiu 1,2% em relação a outubro, para 99 pontos, ainda distante da média histórica de 103,6 pontos. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei), da CNI, teve alta de 0,7 ponto na mesma comparação, para 54,5 pontos, também abaixo da média histórica do indicador, de 58,5 pontos.
Rafael Bacciotti, da Tendências, acredita que a recuperação da confiança da indústria ainda é incipiente, dado que vem na esteira de “longos meses de fraqueza”, mas, mesmo assim, pode ser considerada um alento à atividade do segmento nos próximos meses. Bacciotti estima que a produção vai subir 1% de outubro a dezembro, dado que a perda de dinamismo da atividade industrial no terceiro trimestre parece ter sido suficiente para reduzir os estoques do setor.
Do lado negativo, o Índice de Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria, do HSBC, reverteu a melhora observada em outubro e passou de 50,2 para 49,7 pontos, enquanto as vendas de veículos medidas pela Fenabrave, entidade que reúne as concessionárias, encolheram 2,8% em novembro sobre o mesmo mês de 2012.
A LCA Consultores calcula que, feito o ajuste sazonal, a média por dias úteis de licenciamentos de automóveis e comerciais leves – mais relevantes para antecipar a evolução do consumo das famílias – aumentou 3% entre outubro e novembro, variação que o economista-chefe da consultoria, Bráulio Borges, considera pouco relevante.
Para Borges, o comportamento ruim da PMI da indústria em novembro reforça a expectativa de que a produção industrial deve ter voltado ao campo negativo no mês passado, mantendo a tendência de volatilidade registrada ao longo do primeiro semestre. Ele destaca, porém, que o setor manufatureiro deve encerrar o quarto trimestre em alta, influenciado principalmente por um processo conjuntural de ajuste de estoques, o que terá impacto positivo sobre o PIB. Por ora, a LCA trabalha com avanço de 0,9% da atividade no período.
Além da indústria, o economista-chefe da consultoria avalia que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil) será outro fator de impulso ao PIB no último trimestre, revertendo parte do tombo de 2,2% do trimestre anterior. Com base na expansão de 0,6% da produção de bens de capital em outubro e no aumento do volume importado desses itens, ele projeta que a FBCF vai crescer entre 1% e 1,5% nos últimos três meses do ano.
Já o economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, afirma que o aumento da produção geral e de bens de capital em outubro não sinaliza que a indústria e a formação bruta vão se recuperar no quarto trimestre. Para ele, tanto o ambiente externo quanto o interno têm dado sinais confusos às empresas e gerado dúvidas que pesam sobre as decisões de investimento – que são apostas de longo prazo, em resultados que serão colhidos um ou dois anos depois.
Combat também ressalta que, na passagem mensal, a produção de bens de consumo duráveis caiu 0,6%. Esse movimento, segundo ele, deve ser lido como um alerta de esgotamento do modelo de estímulo à demanda, adotado pelo governo, através de reduções de tributos como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e programas como o Minha Casa Melhor.
Para o último trimestre, a Concórdia prevê que a indústria mantenha o comportamento errático, com avanços sempre abaixo de 0,5% no dado mensal com ajuste. Combat projeta crescimento de 1,8% para a produção em 2013. Como, até outubro, o indicador acumula aumento de 1,6%, o setor industrial não deve ajudar o resultado do PIB no três meses finais do ano, com variação pouco superior à alta de 0,1% do terceiro trimestre, diz ele.
Bacciotti, da Tendências, ainda não fechou as estimativas para o desempenho dos componentes do PIB no quarto trimestre, mas aponta que o avanço acima do previsto da produção em outubro reforçou a perspectiva de ligeira retomada da atividade no período. Ele estima que o PIB terá alta de 0,4% nos três meses finais do ano, na comparação com o trimestre imediatamente anterior. “O número de outubro da indústria foi bom, principalmente por ter vindo depois de um terceiro trimestre bem fraco”, disse.