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Economia

UE quer acordo amplo mesmo sem Argentina

Para europeus, ou país acompanha Brasil, Paraguai e Uruguai ou deve ficar fora de acordo.

UE quer acordo amplo mesmo sem Argentina

A União Europeia (UE) não aceitará que a Argentina se comprometa com menos abertura de mercado que Brasil, Uruguai e Paraguai, na troca de ofertas para avançar no acordo de livre comércio com o Mercosul. Foi o que disse ao Valor um alto representante da UE, avisando que só há duas possibilidades para o Mercosul: a Argentina se compromete com oferta ambiciosa como os outros países do bloco, ou então fica de fora e a oferta do Mercosul vem por parte do Brasil, Uruguai e Paraguai.

“Não há alternativa intermediária”, afirmou, jogando por terra o plano do Brasil de dar margem de manobra para a Argentina ter mais prazo para abrir seu mercado, na negociação birregional.

Ao ser lembrado de que a própria UE já fez acordo de livre comércio com países da América Central, no qual alguns parceiros tiveram diferentes velocidades de liberalização, o representante europeu foi enfático: “Com a América Central, países com menor nível de desenvolvimento, sim; com a Argentina não”.

O representante europeu disse que a oferta do bloco comunitário está sendo preparada, mas quer ter a segurança de que a oferta do Mercosul será suficientemente ambiciosa. Para ele, isso significa cobertura de pelo menos 90% das importações originárias do bloco europeu. No caso especifico da oferta que o Brasil submeteu para harmonização no Mercosul, a cobertura ficou em 87%.

Amanhã, em Bali, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, vai se encontrar com o comissário europeu de Comércio, Karel De Gucht, para discutir uma data para troca de ofertas. Isso pode ocorrer até o fim deste mes, na expectativa brasileira. O plano já foi atrasado por causa da relutância de Buenos Aires.

A postura europeia ilustra as dificuldades da política comercial do Brasil. De um lado, a maior aposta do país, num acordo na Organização Mundial do Comércio (OMC), é uma frustração que já dura 12 anos. De outro lado, o único grande acordo birregional que pode eventualmente desenvolver é com a União Europeia, mas a situação se complica por causa do vizinho argentino.

Algumas fontes envolvidas nas negociações no Mercosul dizem que, no momento, a ideia é que a Argentina vem junto com o resto do Mercosul, ou então o Brasil vai de todo jeito avançar a negociação com os europeus. A paciência brasileira com a Argentina diminuiu tanto quanto o superávit comercial do país com o vizinho. Da mesma maneira, a impaciência da presidente Dilma Rousseff com práticas argentinas parece ter aumentado recentemente, por causa de barreira aos sapatos brasileiros.

Uma fonte acha, em todo caso, que governo de Cristina Kirchner pode querer não alimentar a ideia de que não tem condições de acompanhar os parceiros. “Eles estão no precipício’, diz uma fonte. Em todo caso, os europeus têm ambição não só de obter mais acesso para suas indústrias, como também em setores de serviços, de compras governamentais. E querem um mínimo de proteção de investimentos, por causa de confrontos recentes com a Argentina.

Negociadores notam que, além do problema crítico da Argentina, persiste o confronto de interesses muito grandes na agricultura entre o Brasil e a UE.

Em um evento à margem da conferência da OMC, o diretor da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Abijaodi, disse que a busca de acordos bilaterais se torna estratégica, ainda mais com as cadeias globais de valor que demandam maior abertura dos mercados e maior integração das companhias nessas cadeias. Ele destacou que a expansão da China leva países a assegurar novos mercados e criar novas regras por meio dos acordos regionais de comércio. “A competitividade chinesa tornou as tarifas de importação um instrumento obsoleto de política comercial”, disse.