Com a lição de casa já feita – safra em pleno desenvolvimento – resta ao produtor mato-grossense confirmar a boa produção e manter cativa a demanda de países populosos como China e Índia. Se as boas perspectivas traçadas se confirmarem, Mato Grosso tem tudo para se consolidar, por mais um ano, como um grande gerador nacional de divisas com base nas exportações agropecuárias. A avaliação é do analista do departamento de Pesquisa e Análise Setorial do Rabobank Brasil, Renato Rasmussen. Na semana passada, o banco divulgou as “Perspectivas para o Agronegócio Brasileiro 2012”, estudo anual sobre as principais commodities agrícolas brasileiras.
Sobre Mato Grosso, Rasmussen explica que o cenário atual indica boas oportunidades de negócios, seja pela quebra da safra de grãos no Sul do país e na Argentina como também pelo maior processamento interno do milho nos Estados Unidos, maior produtor exportador mundial do grão, o que pode abrir brechas no mercado mundial. Além disso, existem ainda apontamentos que asseguram cotações à soja e ao milho bem acima das médias históricas dos últimos cinco anos.
Como explica, os preços para soja e milho devem se manter bastante acima das médias históricas de longo prazo em 2012. “Apesar de acreditarmos que os picos de preços observados em 2011 não voltem a se repetir tão cedo, a remuneração do produtor deverá seguir bastante positiva para àqueles que conseguirem contornar problemas climáticos e garantir uma boa safra”.
Mesmo que haja comprometimento da produção por fatores climáticos, Rasmussen frisa que em função da precificação acima das médias de longo prazo, há boas chances de remuneração. “Àqueles produtores que conseguirem manter perdas abaixo dos 20% a 30% deverão ser capazes de evitar margens negativas. Se o Brasil conseguir ainda recordes de produção, o que no momento parece bastante difícil, o cenário é particularmente positivo para o avanço sobre novos mercados, como o chinês”.
Além da importante variante para a soja, chamada China, há um fator chamado Estados Unidos para o milho. Como destaca o analista, o maior exportador mundial do grão está alocando pela primeira vez na história, 50% da sua produção para usos industriais (como a produção de etanol), em detrimento do destinado para consumo humano e animal. “Com este cenário, o Brasil teria condições para se tornar o principal exportador ‘incremental’ do produto para o mercado internacional. Porém, uma quebra de safra afeta essa perspectiva de conquista de mercados”, afinal, o maior produtor nacional de milho é o Paraná, estado com sérios problemas climáticos. Mais uma fenda se abre para a produção de milho segunda safra no Estado, que nesta temporada tem estimativas recordes, 8,90 milhões de toneladas.
“O carro-chefe por traz dos consecutivos aumentos ano a ano da demanda mundial por grãos tem raiz na mudança dos hábitos alimentares em populosos países em desenvolvimento, como China e Índia, que vem ocorrendo devido a uma melhor remuneração da população e que passa a buscar alimentos de maior conteúdo protéico, como carnes e alimentos processados”
Desafios – No entanto, desafios também deverão ser enfrentados e eles ficam difíceis de serem previstos: crise, câmbio e apetite China. Se fosse no Brasil, se acrescentaria o fator clima, mas, até o momento, não é preocupação em Mato Grosso.
Para Rasmussen, a demanda chinesa vem, em consecutivas safras, provando ser um dos elementos de previsão mais difíceis. “O desempenho da economia chinesa deverá influenciar diretamente a performance das aquisições de grãos deste país, afetando os totais mundiais”. Junto a isso, como destaca, há a taxa cambial “outro elemento de difícil previsão”. O desempenho econômico dos Estados Unidos e dos países europeus neste início de ano deverá impactar a taxa de câmbio da moeda nacional e poderá afetar, diretamente, a remuneração do produtor que não procurou mecanismos de travamento de preços e custos, como o mercado futuro de derivativos. “Portanto, a recomendação é a de que o produtor esteja atento aos mecanismos de travamento de preços que permitam garantir a cobertura dos seus custos. Entretanto, àqueles produtores que desejam especular, devem também ter atenção à elevada volatilidade do mercado”.
Rabobank – O Rabobank atua no Brasil como banco comercial e tem quatro agências no Estado (Cuiabá, Rondonópolis, Tangará da Serra e Lucas do Rio Verde). O foco é atender aos principais setores empresariais e sustentáveis do agronegócio brasileiro.
Sem regionalizar números, a Instituição admite que a carteira de negócios do Rabobank Brasil, especialmente da divisão rural no Mato Grosso, evoluiu muito nos últimos anos. A expectativa é aplicar em 2012 algo próximo de R$ 12 bilhões no agronegócio brasileiro.