A nova estrutura da Marfrig, que separa as operações de carne das atividades ligadas a aves, suínos e alimentos processados, agora reunidas na Seara Foods, pode significar a preparação da empresa para a entrada de novos sócios com a venda de fatia nessa divisão.
Em teleconferência na segunda-feira, Ricardo Florence, vice-presidente de finanças e diretor de relações com investidores da Marfrig, afirmou a um analista que, na nova estrutura, haveria mais flexibilidade “para uma operação financeira que venha a ser feita no futuro”.
Ao Valor, Florence afirma que não há nada em negociação no momento e diz que as decisões estratégicas serão da holding.
“Nosso objetivo foi evidenciar os dois segmentos de negócio. Embora já divulgássemos informações sobre cada um deles, a Marfrig não era percebida no mercado como uma empresa que tinha avançado tanto nos segmentos de aves, suínos e processados”, diz o executivo.
Após o anúncio da reestruturação, em dois pregões as ações da Marfrig sobem 9,43%.
A reformulação foi bem recebida pelos analistas. No entanto, o mercado segue atento ao papel. Nos últimos meses, o fundador da Marfrig, Marcos Molina, comprou ações da empresa na bolsa, por meio da Um Investimentos. No pregão de segunda-feira, essa corretora liderou as operações de compra e venda dos papéis. Ontem, dia de giro acima da média da ação, que somou R$ 75,8 milhões, a Um ficou em segundo lugar no ranking, que foi liderado pela corretora do J.P. Morgan. Em março, a empresa divulgará se o controlador fez novas compras. Até janeiro, a fatia de Molina era de 47,5%.
Thiago Duarte, analista do BTG Pactual, destacou que a empresa espera sinergias entre R$ 230 milhões e R$ 330 milhões ao ano, acima das estimativas do banco. Ele ressaltou que a Marfrig disse o que o mercado queria ouvir: após o crescimento dos últimos anos, o desafio agora é integrar culturas, capturar sinergias e racionalizar custos, enquanto lida com altos níveis de alavancagem. No entanto, o BTG afirma que, após vários trimestres de performance fraca, prefere esperar que os resultados pretendidos pela empresa de fato apareçam antes de rever seus modelos. Assim, o BTG mantém recomendação de manutenção para as ações.
Na mesma linha, Luis Miranda, analista do Santander, diz que vai esperar ter mais clareza sobre a evolução dos ganhos de sinergia.
O Itaú BBA reiniciou a cobertura de Marfrig com recomendação acima da média do mercado. O analista Alexandre Miguel destaca que a companhia possui um valor “escondido” que poderia vir de monetização de ativos fiscais, integração mais eficiente de operações e entrega de sinergias.