Os preços dos alimentos caíram pela segunda quadrissemana consecutiva no município de São Paulo, indicando que esse item deve ter, no começo de 2012, um comportamento mais benigno do que o registrado no começo do ano passado. No primeiro bimestre de 2011, o grupo alimentação subiu 1,39% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Com base nos índices de inflação até agora conhecidos, as projeções para o bimestre apontam uma alta inferior a 1%.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) desacelerou na segunda prévia do mês, ao marcar alta de 0,24%, ante avanço de 0,42% na leitura anterior, principalmente por causa da alimentação. O grupo passou de queda de 0,34% para recuo de 0,67% no mês encerrado no dia 14. Embora não tenha sido registrada queda, o mesmo comportamento foi observado no IPC da Fundação Getulio Vargas (FGV), em que a alimentação passou de alta de 0,24% para avanço de 0,02% entre as leituras semanais.
.”Observamos, entre o fim de dezembro e o início de janeiro, uma forte alta de alimentação, mas agora o movimento é oposto. É um indício relevante do que vai acontecer no IPCA de fevereiro, em que alimentação deve ter alta de 0,08%”, afirmou Fabio Romão, economista da LCA Consultores. Em sua avaliação, o comportamento desse grupo será bastante importante para que o índice oficial de inflação do país desacelere de 0,56% em janeiro para algo em torno de 0,47% neste mês.
Bruno Brito, economista da Tendências Consultoria, colocou viés de baixa para a projeção de avanço de 0,54% do IPCA em fevereiro e reavaliou a estimativa para o IPC-Fipe diante do resultado apresentado ontem. “Com esse resultado, passamos a esperar alta de 0,2%, ante previsão anterior de 0,3%, principalmente por causa de alimentação”, afirmou. A Fipe também alterou a projeção do índice para o mês fechado de alta de 0,53% para aumento de 0,36%.
Para Brito, o grande destaque foram as carnes. Segundo o economista, o setor acumulou estoques no fim do ano passado e, apesar da demanda em alta, uma parte não foi vendida. Por isso, com excesso de oferta no mercado, os preços de produtos como frango e contra-filé recuaram com força nas últimas semanas. Apenas a carne bovina ficou 4,56% mais barata na segunda quadrissemana de fevereiro. Segundo Rafael Costa Lima, coordenador do índice da Fipe, a queda observada em apenas três itens – energia elétrica, frango e contra-filé – foi responsável por uma redução de 0,13 ponto da inflação observada na atual leitura.
Para Brito, da Tendências, a expectativa é que alimentação recue em fevereiro dentro do IPC da Fipe, porque além do comportamento das carnes, legumes e hortaliças também estão apresentando um ajuste de preços após janeiro, que costuma ter chuvas mais intensas, ter ficado para trás. “Esses produtos em que a oferta é mais sensível a fatores climáticos agora estão passando por normalização de preços”, afirmou.
Romão, da LCA, observa que também os preços no atacado para os produtos agrícolas estão sofrendo pressão menor, indicando continuidade da evolução benigna vista neste início do mês. “Já tínhamos expectativa de que o grupo alimentação e bebidas teria comportamento mais benigno neste ano do que em 2010 e 2011, mas os resultados até agora surpreenderam”, afirmou. Por isso, Romão projeta inflação de 4,9% para o grupo em 2012, ante estimativa anterior de alta de 5,3%. A revisão, no entanto, não trouxe mudança significativa para a variação de 4,9% esperada para o índice no ano.
Daniel Lima, economista da Rosenberg & Associados, considera que de fato houve uma queda sazonal de alguns itens mais forte neste ano, mas manteve a projeção de que o IPCA em fevereiro terá alta semelhante a observada em janeiro, de 0,56%, por causa do avanço esperado para educação. No IPC-Fipe, o grupo subiu 6,42% em janeiro, período que concentra o reajuste de mensalidades escolares. Para o IPCA, a sazonalidade é diferente, concentrada em fevereiro e, segundo Lima, o grupo irá puxar o índice para cima, enquanto a alimentação aliviará a pressão.
Fabio Romão, da LCA, ressalta, no entanto, que com a nova ponderação do IPCA, vigente a partir do mês passado, educação perdeu peso. “Não quer dizer que as mensalidades não irão subir, mas pesarão menos”, disse.