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Economia

Rabobank vê câmbio e algodão como as 'commodities do medo' em 2012

Guilherme Melo, analista sênior do departamento de pesquisa e análise setorial do Rabobank Brasil, estima preços mais baixos, mas ainda elevados.

Rabobank vê câmbio e algodão como as 'commodities do medo' em 2012

“Commodity do medo”. Assim Guilherme Melo, analista sênior do departamento de pesquisa e análise setorial do Rabobank Brasil, definiu o algodão durante entrevista ao Valor sobre as perspectivas para o agronegócio brasileiro em 2012. “A commodity do medo é o câmbio”, rebateu Robério Costa, economista-chefe da instituição.

Bem-humorada, a breve “disputa” expôs aquela que é, para o banco de origem holandesa, a cadeia produtiva do setor mais vulnerável a turbulências este ano no país e o fator que pode aprofundar os reflexos dessas turbulências na cotonicultura e nos demais segmentos do campo.

“Câmbio é o que mais interessa ao produtor. Se apontar para a direção correta, já é uma ajuda”, diz Costa. Em sua análise, o Rabobank sinaliza que, apesar das incertezas no cenário internacional, o influxo de capital estrangeiro no Brasil continuará excedendo, com folga, as saídas, ao mesmo tempo em que a balança comercial do país tende a seguir rendendo superávits.

Nesse contexto, e esperando que “o cenário internacional em 2012 trafegue em terreno nebuloso”, o banco acredita que a volatilidade da taxa de câmbio seja motivo de cautela, mas não de desespero. Mas “o risco de valorizações do real ao longo de 2012 é superior ao de fortalecimento do dólar em relação à moeda brasileira”, afirma estudo do banco.

Talvez não seja a direção preferida pelos exportadores, mas vale notar que o dólar fraco tem sido um fator de suporte às cotações internacionais das commodities nos últimos anos. E, segundo Costa, não há espaço, pelas condições macroeconômicas externas e domésticas atuais, para mudanças bruscas no patamar cambial.

“A produção mundial de algodão deverá ter forte aumento [para 27 milhões de toneladas de pluma, maior volume dos últimos três anos], mas os estoques estão baixos. Mas o cenário macroeconômico é que vai determinar o comportamento dos preços”, diz Renato Rasmussen, analista do banco especializado na área de grãos e fibras.

Exatamente por isso nenhuma outra commodity agrícola importante caiu tanto no mercado internacional em 2011 como o algodão. Após registrar máximas históricas em Nova York, o produto encerrou dezembro nos mais baixos patamares do ano na bolsa.

Para a soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, e para o milho, que vem ganhando destaque nas exportações do setor, o horizonte traçado pelo Rabobank é “menos positivo” para preços e margens, como sinalizam a maior parte dos analistas e consultorias. Mas, em ambos os casos, as contas e estimativas terão de ser revistas por causa das quebras de safra provocadas pelo La Niña às lavouras dos Estados do Sul.

“Para a soja, o último La Niña severo foi em 2005. Se for registrada nesta safra 2011/12 uma quebra como aquela, terá grande impacto no mercado”, afirma Rasmussen.

“No caso do milho, uma quebra será uma pena para o produtor. Com o aumento do consumo doméstico nos Estados Unidos e a China começando a importar, abriram-se boas possibilidade para as exportações da Argentina e do Brasil”, observa o analista.

Como aconteceu com a soja, cuja produção global aumentou na safra passada (2010/11), provocando um aumento da ordem de 15% nos estoques, a oferta de café também deverá crescer este ano, com retomadas no Brasil, na Colômbia, na América Central, no Vietnã e na Indonésia. Assim, prevê o Rabobank, os preços deverão recuar um pouco em 2012, para níveis ainda bastante acima das médias históricas.

No segmento sucroalcooleiro, diz Andy Duff, gerente da equipe de pesquisa em agroeconomia do Rabobank Brasil, haverá aumento da produção global de açúcar e será mais um ano de oferta apertada de etanol. “As apostas de expansão estão no hidratado, mas este tem seu teto de preço atrelado à gasolina”.

Entre as carnes, Guilherme Melo vê um cenário favorável para a bovina, apesar do aumento da oferta para abate no Brasil e na Austrália – ele acredita que nos EUA haverá queda a partir do segundo trimestre -, e mais dificuldades para frango e suínos, por causa do peso dos grãos nas rações. “Mas as exportações devem crescer e as vendas de produtos processados no mercado doméstico também devem aumentar”, diz.

Uma boa notícia para agricultores em geral é a estimativa do Rabobank de aumento da oferta global de fertilizantes em 2012. O analista Jefferson Carvalho lembra que, como o Brasil depende de importações, poderá haver pressão sobre os preços no segundo semestre e as relações de troca de produtos agrícola pelo insumo seguirão vantajosas.