Os preços dos alimentos, que vinham sendo a principal fonte de pressão sobre a inflação, devem atuar em sentido contrário neste mês, revertendo o movimento de alta do Índice Geral de Preços (IGP), da Fundação Getulio Vargas (FGV). A expectativa dos economistas consultados pelo Valor é que o indicador se situe próximo a zero em fevereiro, podendo até mesmo voltar a ficar negativo.
A desaceleração já foi captada pelo IGP-10, o primeiro indicador da família dos IGPs a ser divulgado a cada mês, que subiu 0,04% em fevereiro. No mês anterior, o IGP-10 havia avançado 0,08%. O ritmo de aumento se acentuou no decorrer de janeiro, chegando a 0,25% no IGP-M e a 0,30% no IGP-DI.
A trajetória descendente que começa a ser desenhada reflete principalmente a queda de 0,19% no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) – recuo de 0,36% no preço dos produtos industriais e forte desaceleração dos agropecuários. Entre a divulgação do IGP-DI de janeiro e a do IGP-10 de fevereiro, o IPA agropecuário registrou desaceleração de 1,07% para 0,29%.
“Não esperávamos descompressão tão acentuada em um período tão curto de tempo”, diz Thiago Curado, da Tendências Consultoria. Diante desse comportamento, Curado espera deflação nos produtos agropecuários no atacado já no IGP-M. “Além disso, os alimentos processados, que têm participação significativa no IPA industrial, continuarão caindo.”
Entre o IGP-DI de janeiro e do IGP-10 de fevereiro, a retração nos preços dos alimentos processados se aprofundou, passando de 0,28% para 2,15%. “Isso é reflexo da queda nas carnes”, explica Curado. Os preços das aves no atacado recuaram 11,25% neste mês, enquanto a carne bovina ficou 5,34% mais barata.
Os dois itens estão entre os que mais contribuíram para a desaceleração do IPA, que responde por 60% dos IGPs. Com isso, o efeito das altas de 8,33%, no milho, e de 22,27%, no feijão, em fevereiro, decorrentes das secas no Sul, foram minimizadas.
“Início de ano é um período típico de pressão sobre alimentos, mas como as carnes têm grande peso no IPA, teremos deflação”, diz Fabio Romão, da LCA Consultores, que projeta retração de 0,15% nos preços agropecuários no IGP-M. “A transmissão dessa queda ao varejo será rápida”, observa Flavio Serrano, do BES Investimento.
Os aumentos nos preços dos alimentos no varejo já perderam força – passaram de 0,47% no IGP-DI para 0,17% no IGP-10. A desaceleração, segundo Serrano, é reflexo da deflação nos produtos agropecuários no atacado em dezembro, que só agora chega ao consumidor. “No final do ano passado, os produtos que mais caíram foram soja, trigo e milho, que influenciam toda a cadeia alimentícia, com uma certa defasagem.”
O movimento de desaceleração dos preços dos alimentos, avalia Curado, acontecerá este mês e, a partir de março, haverá uma acomodação. “Não há nada que indique uma nova rodada de pressão sobre os alimentos”, afirma.
Para Serrano, até maio os alimentos devem contribuir para uma inflação menor. “A partir daí, teremos a sazonalidade de inverno.” O economista, entretanto, alerta para a falsa sensação de queda da inflação no período. “Os núcleos de inflação, que desconsideram os preços dos alimentos, mostram que a inflação continua pressionada, devido aos serviços. É preciso lembrar que os alimentos são voláteis, podendo subir ou cair rapidamente.”
A partir de meados do ano, Serrano avalia que os indicadores de preços deverão voltar a subir, com a menor contribuição dos alimentos para segurar a inflação e a expectativa de maior pressão sobre os serviços.