O agronegócio brasileiro deve experimentar pelo menos mais uma década positiva. Em meio a um quadro de demanda crescente nos países emergentes, ganhos de produtividade no campo e perspectivas de que os preços das commodities permaneçam em patamares elevados, o Brasil pode ampliar sobremaneira sua participação no tabuleiro global da oferta de alimentos.
O cenário otimista é conhecido e praticamente consensual. Mas a efetivação plena desse quadro não se dará sem que o país enfrente seus gargalos logísticos, institucionais e gerenciais, bem como temas ligados à sustentabilidade social e ambiental. Essas são algumas das conclusões do seminário “Agronegócio do Futuro”, realizado ontem pelo Valor e pela Bayer CropScience, braço agrícola da multinacional alemã, em São Paulo.
“É a primeira vez que uma visão de fora para dentro estabelece uma meta de crescimento para o país”, afirmou o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, citando a importância dada ao Brasil por um estudo publicado no ano passado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Segundo a instituição, a produção global de alimentos deve crescer 20% até 2020 para fazer frente ao salto da demanda. Nesse quadro, a produção brasileira é a que mais deve avançar, em torno dos 40%. “As oportunidades são gigantescas e os desafios são da mesma magnitude. Mas não estamos nos preparando para isso”, alertou o sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa.
Na opinião do analista, importantes obras de infraestrutura que podem, por exemplo, facilitar o escoamento de soja pela região Norte do país, como o terminal ferroviário de Itiquira (MT), caminham lentamente não mais por falta de recursos, mas pela demora para conseguir as licenças ambientais.
Outra preocupação de Pessôa diz respeito à ausência de médios produtores na nova fronteira agrícola brasileira, a região conhecida como “Mapito”, confluência dos Estados de Maranhão, Piauí e Tocantins.
“O médio produtor é o responsável pela construção das boas cidades”, disse ele, citando o exemplo de municípios do Centro-Oeste, como Lucas do Rio Verde (MT), em que os agricultores ajudaram a dotar a cidade de infraestrutura, alcançando um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país.
“Não podemos esquecer da sustentabilidade social. Não vamos conseguir vender esse modelo para a sociedade”, alertou Pessôa. De acordo com o analista, a concentração em grandes propriedades tornará a região um vazio populacional, o que dificultará a agregação de valor, com a instalação de indústrias no entorno. “Se não tiver gente, não vamos agregar valor a essa produção numa segunda etapa”, afirmou.