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Economia

AL ainda investe pouco em energia alternativa, apesar de potencial bom

Entre 2006 e 2011, os países latino-americanos receberam US$ 90 bilhões em novos aportes para o desenvolvimento de fontes energéticas limpas.

AL ainda investe pouco em energia alternativa, apesar de potencial bom

Nem mesmo o sol farto, os ventos fortes e o crescimento econômico dos últimos anos foram capazes de impulsionar a utilização de energias renováveis na América Latina e no Caribe nos últimos anos. Os investimentos ainda são tímidos perto do potencial de negócio para a região. Entre 2006 e 2011, os países latino-americanos receberam US$ 90 bilhões em novos aportes para o desenvolvimento de fontes energéticas limpas – menos de 5% do dinheiro destinado globalmente a este segmento. Desse total, 80% veio para o Brasil.

A informação está no primeiro mapeamento energético do continente focado em energias alternativas, encomendado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e que será divulgado oficialmente hoje na Rio+20. Denominado “Climatescope 2012”, o estudo cruza informações financeiras e de políticas públicas para mostrar deficiências e oportunidades. Logo de cara alerta: os 26 países da América Latina e do Caribe ainda estão muito atrás de Europa e Ásia em política energética, o que explica a atenção maior dos investidores nessa parte do mundo.

“A América Latina não teve o ímpeto para mudanças radicais [em sua matriz energética]”, disse ao Valor Gregory Watson, especialista em Mudança Climática do Fundo Multilateral de Investimentos (Fumin) do BID. “Mas agora novas políticas estão sendo aprovadas e algumas ações têm sido implementadas, então nossa expectativa é que esse quadro possa mudar”.

O relatório traz ainda um ranking do desempenho latino-americano para avançar nessa agenda. Primeiro do gênero, o índice será atualizado anualmente e tentará medir os progressos numa escala “granular”, país por país da região.

O Brasil aparece na liderança da lista de energias renováveis do continente. Para o BID não há surpresa. O que não era esperado é quem vem “colando” na primeira posição – a Nicarágua. “Muita gente não pensa na Nicarágua como um mercado interessante para investir”, diz Watson.

Com um PIB de US$ 18,9 bilhões em 2011, o país da América Central foi o que registrou a maior expansão em capacidade instalada em energia renovável e crescimento de geração elétrica nos últimos cinco anos. Também apresentou o maior investimento em energias limpas em comparação ao tamanho de sua economia.

A Nicarágua tem dado ênfase na transformação de uma matriz energética suja em renovável, cuja participação já chega a 30% do total. Com isso, deixou para trás países tradicionalmente mais relevantes na atração de investidores [ver gráfico].

O “Climatescope” leva em conta 30 indicadores analisados sob os aspectos de financiamento de projetos de baixo carbono e investimento em energia limpa, cadeias de valor de energia limpa, gestão de gases de efeito estufa e marcos propícios para investimentos. Eles são pontuados entre zero e cinco, e têm pesos diferenciados.

O Brasil recebeu boas pontuações em indicadores importantes, mas a entidade ressalta que o país precisa se dedicar ainda mais às energias renováveis. O que diferenciou o Brasil foram as políticas específicas de incentivo a energias renováveis e biocombustíveis – nove, ao todo, entre leilões de energia, linhas de crédito do BNDES e programas como o Proinfa.

Em contrapartida, o desempenho final do país foi puxado para baixo pela geração menor de energia a partir de fontes renováveis e a desaceleração na produção de bicombustíveis. “Isso indica que há uma ampla oportunidade de melhorar as condições para atração de mais investimentos para energias renováveis e de baixo carbono”, diz Maria Gabriela de Oliveira, analista da Bloomberg New Energy Finance e responsável pela elaboração do “Climatescope 2012”.

Segundo a analista, também influenciou negativamente o preço no mercado à vista da eletricidade, considerado muito baixo. Enquanto no Brasil o preço médio em 2011 foi de US$ 17/ MWh, no Chile pagou-se US$ 98/ MWh, e no Panamá US$ 247/MWh.

Apenas cinco países da região são produtores biocombustíveis. O Brasil puxa a fila com 24,7 bilhões de litros/ano, seguido pela Argentina (3 bilhões), Colômbia (0,85 bilhão), Peru (0,19 bilhão) e Paraguai (0,14 bilhão). Em relação ao crescimento da capacidade de produção, o Peru lidera, com uma taxa de 86% entre 2010 e 2011.

Apesar dos baixos investimentos em energias renováveis, o relatório tem um tom otimista. A capacidade instalada em energia renovável, diz, pode crescer em partes do continente sem a necessidade de subsídios, devido à combinação de queda nos preços da tecnologia, alta nos preços da eletricidade e na demanda por energia.

No campo do financiamento a pequenos investidores, também há evoluções. Hoje, 71 das 448 instituições de microcrédito na região já oferecem produtos financeiros verdes, com empréstimos totalizando US$ 75 milhões a 44 mil tomadores entre 2006 e 2010.