A ressaca pós Rio+20 prevalece entre os eco radicais porque sua esperança era que fosse lançada ali a pedra-fundamental de um dito “futuro melhor”, e para convergência de uma governança global capaz de encarar o desafio de praticar o que foi combinado vinte anos atrás na Eco 92. Sobraram retórica e proselitismo e prevaleceram discursos ufanistas dos políticos descomprometidos durante os nove dias dessa Conferência das Nações Unidas.
Contudo, também foi flagrantemente percebido que a tomada de decisões empresariais cada vez mais leva em conta a sustentabilidade, assunto antigamente reservado ao clube dos ambientalistas.
A sociedade, apesar de mal informada – segundo pesquisa do Ministério do Meio Ambiente mais de 50% dos entrevistados nunca tinha ouvido falar do tal “desenvolvimento sustentável” – esperava o triunfo do multilateralismo que ficou mais uma vez só na esperança por causa da ausência dos principais chefes de Estado e governo dos Estados Unidos, União Europeia, Japão, China e Rússia acometidos da profunda miopia que os impede de correlacionar o caos econômico ao caos ambiental.
Tem faltado vontade política para erradicação da pobreza e garantia da biodiversidade e das minorias étnicas, para mitigação dos gases de efeito estufa e discussão do resgate dos oceanos, para diminuição da pegada de carbono fóssil e mobilização crescente da energia de fontes alternativas e revisão das referências sensíveis ao cenário geoeconômico-social que minam as políticas públicas locais, principalmente no caso dos países pobres.
É uma ousadia perigosa de grande consequência, desprezar o que não compreendemos, por isso, diligência e humildade não deveriam ter sido poupados para modificação dos métodos de produção e hábitos de consumo contemporâneos e atrelados ao modelo capitalista que vem exaurindo os ecossistemas essenciais à sobrevivência de pobres e ricos, indistintamente.
Pelo menos, durante a Conferência o tema “água” foi unificado ao saneamento e os líderes seguiram com o compromisso de cortar pela metade o contingente de aflitos sem acesso à água e esgoto nos próximos três anos, enquanto o consumo per capita global gira em torno de 1400 m3 e o cidadão norte-americano demanda o dobro.
É possível enaltecer também a iniciativa da ONU em lançar o Índice de Riqueza Inclusiva, complementar às tradicionais variações do capital da produção (riqueza oriunda do Produto Interno Bruto), do capital humano (educação, emprego e saúde) e do capital natural (estoque de recursos energéticos, minerais, florestais, área agrícola e de pesca) para medida do desenvolvimento sustentável. A ferramenta foi capaz de demonstrar que a China acumulou capital humano e econômico suficientes para superar a depreciação do seu capital natural, contabilizado pelas perdas do meio ambiente no período de 1990 a 2008 e ocupar o pódio entre 20 nações pesquisadas, dentre elas o Brasil que ocupa o 5o. lugar, ainda à frente dos Estados Unidos na 9o. posição.
Já o compromisso socioambiental incluído no texto final “O Futuro que Queremos”, assinado pelos líderes globais, foi ranqueado por unanimidade como afirmação mais importante porque incluiu a preocupação com a miséria na discussão que até então seguia viés notadamente econômico.
Ao contrário, a maioria considerou pouco ambiciosas as iniciativas aprovadas em consenso diplomático porque o documento de 49 páginas omitiu a polêmica dos direitos reprodutivos das mulheres, não tratou do fundo para proteção de águas oceânicas internacionais e nem sequer mencionou a criação do fundo de U$ 30 bilhões para financiamento do desenvolvimento sustentável, essa última notação aliviada pelo voluntarismo da sociedade civil e empresarial que redundou 700 compromissos e mais de U$ 500 bilhões de investimento nos próximos dez anos.
A cadeia de produção agropecuária nacional, representada pelos fornecedores de insumos e produtores de cereais, oleaginosas, carnes, etc., participou do pavilhão Humanidade 2012 e realçou o importante papel que o Brasil exerce atualmente como um dos líderes globais. Os modelos de produção bem sucedidos apresentados demonstraram ser possível idealizar uma economia verde contextualizada ao desenvolvimento sustentável e à erradicação da pobreza.
Afinal de contas, o crescimento demográfico contínuo pode levar nosso planeta até a metade do século abrigar 9,5 bilhões de pessoas que como nós, se alimentarão de comida e não de conceitos.
Ariovaldo Zani é vice-presidente executivo do Sindirações