O suinocultor catarinense Francisco Canossa recebeu ontem pela manhã a notícia de que os Estados Unidos deram “ok” à carne de porco brasileira. “Abriram novos mercados, o negócio tem que melhorar. Como Santa Catarina é livre de febre aftosa, deve sair na frente”, avaliou. Por coincidência, ele acabou de investir R$ 550 mil em sua produção, ampliando o número de matrizes em cerca de 20% – de 450 para 550 cabeças.
Canossa saiu na frente, mas os demais dos produtores de seu estado não vão ficar para trás. A produção de carne suína em Santa Catarina deve crescer os mesmos 20%, em função da abertura de novos mercado consumidores, até o primeiro trimestre de 2013, segundo o presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi.
“Já neste ano pode haver um crescimento de 10%, e no início do próximo ano, os demais [10%]”, afirmou Lorenzi: “É tempo de colocar as matrizes na propriedade e prepará-las”. Para o representante, a liberação da entrada de carne suína brasileira em território norte-americano “nos coloca quase no topo do mundo. Com esse aval, o Japão, a China e a Coreia do Sul estão na mira”.
Em 2011, a suinocultura de Santa Catarina produziu 750 mil toneladas de carne e exportou 140 mil toneladas. “As indústrias estão projetando aumento para 900 mil toneladas, e Santa Catarina exportaria algo em torno de 250 mil toneladas”, disse Lorenzi.Atualmente, as exportações vão principalmente para Argentina, Chile, Venezuela e Rússia.
Contudo, a expectativa dos criadores catarinenses é de que países orientais e da Europa, encorajados pela iniciativa dos EUA, também passem a importar do Brasil. “Até o segundo trimestre, outros países devem abrir suas fronteiras. Os Estados Unidos não são grandes importadores e não devem comprar muito do País, mas, em compensação, dão o aval [de qualidade]”, observou o presidente da ACCS.
O vice-presidente da cooperativa Aurora, também de Santa Catarina, Neivor Canton, é da mesma opinião: “Apostamos que o reconhecimento dos EUA irá se refletir em outros mercados, que poderão comprar mais do que os próprios EUA”.
Canton negou que haja qualquer movimento interno, na Aurora, em reação ao anúncio feito na terça-feira – quando o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, ligou para o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, e disse que os norte-americanos enfim aceitariam a carne suína brasileira. “Por ora, não tomamos nenhuma iniciativa. O que pode haver é um deslocamento da produção”, disse o vice-presidente da empresa.
Em Seara, SC
Morador do município de Seara, no sudoeste de Santa Catarina, o suinocultor Francisco Canossa – que até ontem não sabia da abertura de mercado dos EUA, mas havia investido na ampliação da própria capacidade produtiva – reclama da estiagem que afeta o preço dos grãos, que por sua vez encarecem o custo dos porcos. “Só nesta semana a bolsa do milho já encareceu R$ 2”, disse ele. “Esperamos que dê pra ganhar algo com o aumento das exportações, pois nos últimos dois anos não ganhamos nada. Eu já pensei até em desistir de criar porcos”, declarou. Com a reforma recém-concluída de seu criadouro, Canossa está com potencial produtivo para vender de 1.100 a 1.300 leitões. Seu principal comprador é o grupo Marfrig.
Nos últimos 12 meses, o suinocultor investiu mais de meio milhão de reais, com financiamento do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em equipamentos, matrizes e na ampliação e climatização do alojamento animal.
A abertura
A mudança que se deu nesta semana na relação entre o Brasil e os Estados Unidos, no segmento de carne suína, é uma decisão do Serviço de Inspeção e Segurança Alimentar dos EUA (FSIS, na sigla em inglês), responsável pelas normas sanitárias do país norte-americano. Fontes ligadas ao setor agropecuário, no Brasil, dizem que o vizinho é o mais exigente em questões de saúde alimentar – portanto, a decisão pode abrir inclusive as barreiras de outros países, como se espera.
“[A decisão] finaliza um longo processo de habilitação das exportações brasileiras. Cabe agora ao Ministério da Agricultura informar quais estabelecimentos frigoríficos se enquadram nas normas”, havia dito o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto. “Não esperamos exportar grande volume, porém, representa uma chancela de qualidade indiscutível.”