A Rússia demanda equipamentos para estruturar o próprio parque frigorífico. No Brasil – em que mais de cinquenta exportadoras estão impedidas de vender carne ao país -, governo e iniciativa privada tentam levar fabricantes do ramo de refrigeradores a embarcar máquinas e até se instalar na antiga União Soviética.
O mercado em potencial é destacado, dentre outros, num projeto da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil). “As empresas brasileiras desconhecem esse potencial”, observa a gestora de uma associação que participa do programa, Leila Vasconcelos.
A Associação Brasileira de Refrigeração (Abrava) compila dados que mostram ainda não haver exportações de produtos do segmento à Rússia. Contudo, o Brasil embarca equipamentos de frigoríficos a outros países da Europa e da América Latina, de acordo com Leila.
“Esta é uma demanda grande da Rússia. Se falamos em BRICS [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul], esse é um mercado que o Brasil tem que trabalhar”, observa a especialista.
O governo russo empenhou o equivalente a US$ 523 milhões para desenvolver, entre 2013 e 2018, a cadeia pecuária do país, de acordo com informações de seu Ministério da Agricultura.
Em maio do ano passado, o serviço sanitário da Rússia (Rosselkhoznadzor) embargou a exportação de frigoríficos de carnes suína e bovina em Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul.
Mesmo assim, Moscou continua a ser o principal mercado externo de produtos bovinos do Brasil. Entre janeiro e abril, os embarques àquele país totalizaram 89,2 mil toneladas, retração de 10,4% sobre o mesmo período do ano passado. Na mesma comparação, os embarques para os russos renderam US$ 394,7 milhões, queda de 10,98%.
No ano do embargo, contudo, houve um explosão nos investimentos russos na pecuária de corte, segundo o executivo de uma companhia de origem dinamarquesa presente no Brasil.
Reciclagem animal – A multinacional Haarslev desenvolve plantas industriais destinadas à reciclagem animal – isto é, o trabalho executado pelas graxarias: transformar os restos da pecuária em óleos e farinhas.
Embora o Brasil tenha o maior rebanho bovino do mundo, com cerca de 210 milhões de cabeças, as vendas da filial russa da companhia equivalem, hoje, ao dobro das da brasileira.
“A Rússia passa por um boom. As vendas de equipamentos no país já representam 30% do faturamento mundial da empresa”, diz o diretor-comercial da Haarslev no Brasil, Orlando Guelfi.
Segundo ele, o crescimento do mercado de graxarias é puxado pela evolução da pecuária de corte russa. “Para fazer uma planta de subprodutos, é preciso saber quanto abatem de animais: 200 mil aves, por exemplo, geram 110 toneladas de vísceras”, explica.
A Haarslev deve encerrar este ano com dez projetos encomendados por investidores russos. No Brasil, a média de vendas é de cinco plantas por ano, avaliadas em torno de R$ 7 milhões e podendo chegar a R$ 24 milhões. “Fora do Brasil, exigências ambientais dobram o valor”, observa Guelfi.
Balança comercial – O Brasil é superavitário em relação à Rússia. Em 2011, nessa via, o País exportou US$ 4,2 bilhões e importou R$ 2,9 bilhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Até junho deste ano, a diferença entre os embarques ficou em US$ 1,5 bilhão, principalmente em função das carnes, a despeito do embargo russo a mais de cinquenta frigoríficos brasileiros, o que demonstra a dependência do país europeu dos cortes bovino, suíno e avícola.
Sem embargo – Há mais de 50 abatedouros de boi habilitados a exportar para a Rússia, hoje, no Brasil, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).Os que perderam esse direito encontraram mercados substitutos, por exemplo, no Oriente Médio.
Perderam-se 2,5% do volume de exportações no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2011.