Nos últimos meses, tem sido frequente o noticiário, em tom de euforia, sobre o espetacular desempenho das exportações brasileiras de soja e de milho.
Segundo dados do Ministério da Agricultura, entre janeiro e agosto os embarques do complexo soja somaram 41,2 milhões de toneladas, com crescimento de 14%, propiciando receitas cambiais de US$ 21,4 bilhões, 20% acima do verificado no mesmo período em 2011.
No caso do milho, os embarques de agosto foram recordes: 2,7 milhões de toneladas, mais de 80% acima do registrado em agosto de 2011. No acumulado do ano, o Brasil já destinou ao mercado internacional 6,2 milhões de toneladas, com crescimento de quase 37%, e obtendo uma receita cambial de US$ 1,6 bilhão, com incremento de 33%.
Tal desempenho foi favorecido principalmente pela seca que assolou a agricultura americana, diminuindo a oferta desses grãos, e fez disparar as cotações. Como são duas commodities, têm os preços fortemente influenciados pelo mercado internacional, sobretudo pelas negociações na Bolsa de Chicago.
Uma conjuntura que estimula duas das mais importantes lavouras brasileiras, e amplia de forma espetacular a receita com as exportações, poderia ser considerada bastante positiva. Mas trata-se, infelizmente, de um equívoco.
O milho e a soja constituem a base da ração utilizada para alimentar os frangos. São os principais insumos e, portanto, o grande custo da produção avícola. E a disparada das cotações provocou aumentos, desde janeiro, de mais de 90% nos preços da soja e de 40% nos preços do milho.
Agroindústrias e produtores avícolas se viram sem condições de arcar com esse brutal aumento de custos. E as consequências negativas — para não dizer dramáticas — vêm se acumulando nos últimos meses.
Diversos frigoríficos tiveram de recorrer à redução ou paralisação da produção. Em muitos casos, a única alternativa foi também apelar para a recuperação judicial. Afinal, da noite para o dia o setor se viu sem acesso a crédito nos bancos, tanto privados quanto oficiais. Nem mesmo para participar dos leilões realizados pelo Ministério da Agricultura.
Mais de 6 mil trabalhadores de agroindústrias já perderam o emprego. Considerando que a avicultura é a principal fonte de emprego e renda de diversos municípios do interior do Brasil, ao lado da suinocultura, é possível imaginar o impacto social.
Outro reflexo negativo dos ganhos com as exportações de soja e milho está no bolso do consumidor. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o produto teve um aumento de 7,96% em agosto e foi o “vilão” do Índice de Preços ao Consumidor.
É bom destacar que em 2011, primeiro ano do governo Dilma Rousseff, o brasileiro consumiu, em média, 47,4 quilos de carne de frango, superando pela primeira vez até mesmo os norte-americanos. É a proteína animal mais consumida em nosso país.
Por fim, a combinação de redução da produção e aumento de preços, além de greves, também prejudicou o desempenho do Brasil, maior exportador mundial de carne de frango, no mercado internacional. Em agosto, a receita com as vendas caiu quase 16%.
Não estivesse nosso principal concorrente, os Estados Unidos, sofrendo dos mesmos problemas de custos de produção, seria de se esperar que perdêssemos esse honroso primeiro lugar no ranking, conquistado com tanto sacrifício.
A avicultura brasileira vive hoje a maior crise de sua história. E tem apontado a falta de acesso ao milho e à soja, em quantidades e custos compatíveis; a ausência de acesso a crédito; e a impossibilidade da renegociação de dívidas de avicultores integrados e de agroindústrias, por exemplo.
As medidas oficiais têm sido, até o momento, apenas um paliativo. Por seu lado, as informações sobre a disposição dos produtores brasileiros com relação à safra 2012-2013 já indicam, de forma preocupante para nossas agroindústrias, que o mercado internacional continuará sendo prioritário.
No caso da avicultura, é bom frisar, dois terços da produção são destinados ao mercado interno. E a carne de frango é um produto de maior valor agregado para nossas exportações, fruto de uma atividade muito intensiva em emprego.
O país tem o direito de optar por aumentar o superavit comercial em função de uma conjuntura internacional benéfica para determinados produtos. Mas isso não pode ser feito em troca da sobrevivência de um dos principais setores do agronegócio nacional.
FRANCISCO TURRA
Presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef)