Há pelo menos dois anos sem anunciar grandes aquisições ou projetos no segmento de açúcar e etanol, a Raízen Energia, divisão sucroenergética da Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, vem restringindo seus investimentos ao campo operacional, na área agrícola e em ajustes industriais, visando ganhos de eficiência. Com capacidade para processar 65 milhões de toneladas de cana-de-açucar por safra, a companhia poderia, apenas com projetos de construção de usinas ainda engavetados, alcançar 100 milhões de toneladas por safra em moagem de cana, não fossem as condições ainda instáveis no mercado de etanol.
Mas a parcimônia com os investimentos na chamada primeira geração do biocombustível não deverá se estender à segunda geração. O vice-presidente da Raízen Energia, Pedro Mizutani, afirmou ao Valor que a empresa deverá finalizar no ano que vem as diretrizes de um grande projeto de produção de etanol celulósico a partir do bagaço e da palha da cana resultante do próprio processo do etanol de primeira geração.
Há cerca de três meses, a companhia começou a enviar sistematicamente matéria-prima (bagaço e palha) para a planta de demonstração da Iogen, empresa na qual tem participação. Segundo Mizutani, a unidade, com sede no Canadá, desenvolve há mais de 20 anos pesquisas em etanol celulósico, usando sabugo de milho e trigo. Os testes da Raízen em segunda geração, conforme ele, também envolvem a Codexis, empresa de pesquisa que foi herdada da Shell após a formação da joint venture, mas que tem foco principal no desenvolvimento de enzimas para produzir o biocombustível.
A planta de demonstração da Iogen tem capacidade para produzir 2 milhões de litros de etanol celulósico por ano. Após finalizados os testes, a Raízen quer implantar em suas unidades do Brasil plantas industriais para fabricar 40 milhões de litros anuais. Mizutani acrescenta que o projeto da Raízen para etanol celulósico também usará tecnologia do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), empresa brasileira de pesquisa na qual a companhia tem participação.
Os detalhes do projeto do etanol celulósico, bem como o valor do investimento na empreitada, ainda estão em fase de definição, mas as decisões devem ser tomadas mesmo no ano que vem, garante Mizutani. “Queremos sair na frente na produção em escala comercial do etanol celulósico no Brasil”, afirma o executivo.
Essas decisões serão tomadas em um contexto em que a produtividade do etanol de primeira geração está com crescimento estagnado, o que eleva os custos. Os preços do biocombustível seguem ainda deprimidos, espremendo as margens de lucros.
Nesta temporada, a Raízen deverá moer entre 55 milhões e 56 milhões de toneladas de cana e produzir 4,1 milhões de toneladas de açúcar e 4,1 bilhões de litros de etanol. Ainda assim a empresa ficará abaixo de sua capacidade instalada de processamento de cana, que chega a 65 milhões de toneladas por safra.
Todas as unidades industriais deverão concluir a moagem de cana na safra atual até 22 de dezembro. Se o clima do próximo mês for de pouca chuva – ou seja, favorecer a colheita -, a Raízen encerrará a safra com 400 mil a 500 mil toneladas de cana em pé. Se as precipitações forem mais constantes, esse volume de matéria-prima não processada poderá chegar a 800 mil toneladas, conforme Mizutani.
As 24 unidades industriais da Raízen Energia tendem a processar no próxima temporada, a 2013/14, um volume de cana cerca de 10% maior que o de 2012/13 – algo entre 59 milhões e 60 milhões de toneladas, conforme informações do vice-presidente.
Para Mizutani, a remuneração em 2013 para o açúcar – neste momento mais baixa do que há um ano – vai depender do que ocorrerá sobretudo com a produção da Índia e com a demanda chinesa. “Provavelmente os indianos terão uma safra menor e ajudarão a compensar a maior safra no Brasil. A demanda chinesa poderá fazer a diferença em 2013”. Mizutani aposta em preços internacionais do açúcar entre 18 centavos e 22 centavos de dólar por libra-peso, intervalo praticado atualmente.
Para Mizutani, haverá também uma produção maior de etanol no Brasil que, espera-se, seja em parte absorvida pela volta do percentual de mistura de anidro na gasolina de 20% para 25%. “O aumento natural do consumo de hidratado, proveniente da maior frota de carros flex, também deverá consumir um volume adicional, e o mercado externo deve trazer boas remunerações”.