Na primeira semana do ano, a balança comercial brasileira fechou com déficit de US$ 486 milhões, reflexo de uma leve retração nas exportações e de forte alta nas importações, quando feita comparação com os resultados de janeiro de 2010. O detalhamento da balança comercial relativo ao período entre os dias 1 e 9 de janeiro, com cinco dias úteis, foi divulgado ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) e destaca a pressão do aumento de importações de itens como adubos e fertilizantes, aeronaves, máquinas e equipamentos, borrachas, plásticos e produtos químicos e inorgânicos. Com tais resultados, a balança comercial brasileira registrou uma média diária negativa de US$ 97,2 milhões, logo no início do ano.
Conforme informa o Mdic, a média diária de importações nesta primeira semana de 2010 atingiu US$ 653,4 milhões, 13,8% maior que a média diária de US$ 574,1 milhões de janeiro do ano passado. Já a média diária de exportações da primeira semana de 2010 caiu a US$ 556,2 milhões, o que representa queda de 1,6% em relação à média diária de US$ 565,3 milhões de janeiro de 2010. Em números totais do período, as exportações da primeira semana de janeiro alcançaram US$ 2,781 bilhões e importações somaram US$ 3,267 bilhões, gerando o déficit de US$ 486 milhões.
Na comparação com janeiro de 2010, considerando as médias diárias, houve aumento de gastos com importações de adubos e fertilizantes (104,3%), aeronaves e peças (51,9%), máquinas e equipamentos (35,7%), borrachas e suas obras (27,6%), plásticos e obras (14,4%) e produtos químicos orgânicos e inorgânicos (13,8%). Em relação ao mês passado (quando a média diária de compras foi de US$ 676,1 milhões), as importações do começo de janeiro apresentaram queda de 3,4%. Houve redução nas compras de produtos farmacêuticos (-21,8%), siderúrgicos (-19,9%), automóveis e suas partes (-18,1%) e combustíveis e lubrificantes (-16,4%).
A queda das exportações da primeira semana do ano, na comparação com janeiro de 2010, foi provocada pelos desempenhos mais fracos nos segmentos de produtos manufaturados (-15,5%, de US$ 259,9 milhões para US$ 219,6 milhões) e semimanufaturados (-0,9%, de 85,8 milhões para 85,0 milhões), mas houve aumento das exportações de produtos básicos (18,3%, de 203,8 milhões para US$ 241,1 milhões). Os básicos, portanto, representaram o segmento mais importante da balança comercial brasileira na primeira semana de 2011. O cálculo considera as médias diárias da primeira semana de janeiro deste ano e as médias diárias de todo o mês de janeiro de 2010.
Entre os manufaturados, a retração, em relação a janeiro de 2010, envolveu principalmente óleos e combustíveis, açúcar refinado, automóveis, calçados, óxidos e hidróxidos de alumínio e aviões. Entre os semimanufaturados, houve diminuição de receitas com remessas de madeira serrada, borracha sintética e artificial, catodos de níquel e de cobre e alumínio em bruto. Nos básicos, o crescimento foi impulsionado por minério de ferro, carne de frango, bovina e suína, farelo de soja, milho em grãos e minério de cobre.
Na comparação com dezembro de 2010, quando a média diária de exportações foi de US$ 909,5 milhões, o resultado das vendas brasileiras no mercado internacional nesta primeira semana de janeiro caiu 38,8%, para US$ 556,2 milhões. Houve queda em todas as categorias de produtos: básicos (-42,4%, de US$ 418,9 milhões para US$ 241,1 milhões), manufaturados (-37,9%, de US$ 353,8 milhões para US$ 219,6 milhões) e semimanufaturados (-27%, de US$ 116,4 milhões para US$ 85,0 milhões).
A corrente de comércio, que é a soma das exportações e importações, somou US$ 6,048 bilhões na primeira semana de janeiro, o que representa média diária de US$ 1,209 bilhão. A média diária do começo deste ano é 6,2% maior que a de janeiro de 2010 (US$ 1,139 bilhão) e 23,7% menor que em dezembro do ano passado (US$ 1,585 bilhão).
Fundo Soberano dá sinal verde para a volta de swap reverso
Sinal verde para o governo retomar o swap reverso. Na avaliação de especialistas, a decisão do Ministério da Fazenda, publicada ontem no Diário Oficial da União, de usar o Banco Central (BC) para comprar dólares para o Fundo Soberano do Brasil (FSB), sobretudo no mercado futuro, visa à volta de tais operações, que não ocorrem há pelo menos um ano e foram questionadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
“Como havia insegurança jurídica em relação ao BC atuar no mercado de câmbio com derivativos, como manifestou o TCU recentemente, o Ministério da Fazenda chamou para si a responsabilidade da atuação no mercado futuro de câmbio”, comentou o professor José Márcio Camargo, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Na avaliação do economista e sócio-diretor da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, o governo quer atacar na origem os fatores que promoviam a valorização excessiva do câmbio.
De acordo com Nehme, a intenção é atacar o movimento especulativo que ocorria livremente até o fim de 2010, quando grandes bancos assumiam elevadas posições vendidas em dólar, o que forçava a valorização cambial. Estas posições atingiram US$ 16,8 bilhões no fim de dezembro. “A adoção do depósito compulsório para posições vendidas superiores a US$ 3 bilhões foi um aviso do BC: parem com a especulação, pois essa movimentação do câmbio para uma única direção pode acabar logo.”
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que não há risco para o FSB caso o governo decida utilizá-lo em operações no mercado de derivativos. “Eu considero que fazer operação com swap no mercado de derivativos não tem risco. O BC tem ganhado dinheiro com essas operações. Temos certeza de que não haverá uma valorização do real. Então, se não houver valorização e nós fizermos swap reverso, não haverá perda. Pode até haver ganho.”