“Eu gosto de comer frango com quiabo, mas os dois estão caros. Antes comprava um quilo de quiabo, mas agora só compro 50 gramas”, disse Carlos Alberto Fragoso, de 58 anos. O caminhoneiro, mais conhecido como Billy Paul, contou que deixou de comer temporariamente um dos pratos preferidos por conta da alta dos preços dos ingredientes, mas talvez nesta semana ele consiga fazer o prato. Segundo pesquisa divulgada pela Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) o quilo do frango caiu 7,73%. Além disso, o total do valor da cesta básica na primeira quinzena de janeiro foi de R$ 358,26, ou seja, sofreu queda de 1,35%. No bolso do consumidor isso significa mais R$ 4,89.
Para o economista Lúcio Flávio Dantas, a queda é reflexo da alta que os preços sofreram nos últimos meses de 2010. “O mercado testa o consumidor, ou seja, o preço aumenta até as pessoas pararem de comprar determinado produto. Quando há uma queda de faturamento existe essa baixa de preço”, explicou o assistente de coordenação do IPC (Índice de Preço do Consumidor da USCS – Universidade Municipal de São Caetano do Sul).
No entanto, o profissional disse que os preços tendem a aumentar com o passar dos meses e os alimentos mais perecíveis vão sofrer altas por conta das chuvas. “ O setor de hortifruti é o que tem mais sensibilidade nessa época. Se chover intensamente as pessoas não conseguirão comprar alface, por exemplo. Ao longo do ano os preços vão pressionar muito o custo de vida.”
Em 2010, o setor de alimentos foi o grande vilão da inflação. No ABCD o setor foi responsável por quase 34% da taxa de aumento e passou da média de outros segmentos, como educação e vestuário. No geral, o valor dos alimentos não cai desde julho do ano passado.
Na periferia /O BOM DIA foi até um dos bairros mais carentes da região, o Jardim Cristiane, para saber como as famílias estão fazendo suas compras. O local fica na divisa das duas maiores cidades do ABCD, Santo André e São Bernardo (Ver mais histórias na página ao lado). Uma das moradoras do local é Maria de Lourdes dos Santos, de 53 anos. Uma de suas ocupações é cuidar de uma senhora de idade. A atividade lhe dá R$ 200 por mês e para completar a renda faz trabalhos para fora como lavar e passar. “Aqui moram meus seis filhos e minha neta. Eu gasto R$ 400 por mês em compras, mas como só eu trabalho às vezes falta a mistura para colocar no prato.”
Para morador, o segredo é variar nas compras
O Billy Paul do Jardim Cristiane, Carlos Alberto Fragoso, de 58 anos, mora no bairro há 32 anos. Sua casa fica na Viela 8, número 251. Na residência moram suas duas netas de 7 e 11 anos e sua esposa carinhosamente apelidada por ele de “princesinha do agreste”. Segundo o morador, hoje é preciso variar nas compras por causa dos preços. “Em vez de você comprar dois quilos de carne ou dois frango tenho que comprar meio quilo de cada. A linguiça, o feijão e o arroz estão muito caros.” Ele é quem fica encarregado pelas compras e afirma que chega a gastar cerca de R$ 600 por mês.
Açúcar caro e arroz barato só em promoção
A corintiana Maria de Lourdes da Silva, de 44 anos, gasta cerca de R$ 450 por mês com as compras de casa. No local moram as duas filhas e um cachorro de estimação. A doméstica diz que este ano não sentiu diferença no valor da cesta básica. “para mim, R$ 5 não é nada. Na soma total não vai fazer diferença.” Para ela, o item que subiu mais na cesta básica foi o açúcar.
“A última vez que fiz compras paguei R$2,09 no pacote de um quilo. É muito caro! Deixei até de fazer bolos por causa disso.” Ela também lembrou que só consegue comprar arroz barato nas promoções dos supermercados.
Trabalho fixo e vários bicos para completar renda de casa
Dona Maria de Lourdes dos Santos, de 53 anos, tem que trabalhar muito para conseguir comprar tudo o que precisa para casa. A moradora reside com seis filhos, uma neta, um cachorro e um gato. A renda fixa é de R$ 200 com o trabalho de cuidar de uma senhora de idade que mora no mesmo bairro. O restante é conseguido com bicos. “Às vezes cuido de outro senhor que me paga R$ 60 o dia e também lavo e passo roupa para fora. O problema é que esse serviço é muito pesado e já não estou aguentando mais.” Segundo dona Maria, às vezes falta a mistura e é preciso correr atrás, mas hoje a família recebeu uma boa notícia para ajudar. “ Meu filho de 12 anos está todo feliz, pois arrumou um trabalho no lava-rápido onde vai ganhar R$ 15 por dia. Mas, não pode descuidar dos estudos que é o mais importante.”
“Hoje, a situação está melhor, graças a Deus”
Na casa de Rosilda Vieira Damasceno, de 56 anos, os tempos são bons. Hoje, no almoço, a família comeu arroz, feijão, macarrão, abóbora e frango. A dona de bar e artesã do bairro mora há 24 anos no local. “A gente não tem muito, mas sempre que outra pessoa aqui da comunidade precisa nós ajudamos. Se alguém perdeu tudo na chuva, pego coisas da minha dispensa para ajudar.” Na casa da moradora residem quatro filhos e o marido. “Hoje, graças a Deus meu marido e três dos meus filhos trabalham. Isso faz a situação ficar melhor.”