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Economia

Guerra do câmbio

Banco Central amplia arsenal na guerra do câmbio e anuncia leilões de moeda estrangeira com liquidação a termo.

O Banco Central (BC) criou um novo instrumento para intervir no mercado de câmbio: leilões de moeda estrangeira com liquidação a termo, ou seja, com prazos definidos para pagamento no futuro. Essa prática, bastante comum entre empresas e bancos, para que as companhias saiam do risco cambial, nunca havia sido feita antes entre as instituições financeiras e o BC.

Com a medida, o BC passa a ter três instrumentos para operar no câmbio: intervenções diretas no mercado à vista (spot); leilões de swap cambial reverso, equivalente a uma compra de dólares no mercado futuro; e agora os leilões de moeda com liquidação a termo. No início do ano, o BC também criou o recolhimento compulsório para limitar as posições vendidas das instituições financeiras.

Não há data para o BC começar a operar o novo instrumento. Mas fica claro que a autoridade monetária está ampliando o arsenal para tentar conter a apreciação do real ou, ao menos, reduzir a volatilidade da moeda americana.

A Circular 3.484, divulgada ontem após o fechamento do mercado, abriu essa possibilidade para o BC. De acordo com o texto, os leilões de moeda estrangeira no mercado interbancário de câmbio, para liquidação a termo serão realizados por meio eletrônico, com participação exclusiva de instituições credenciadas pela autoridade monetária (dealers). O anúncio dos leilões será feito por meio de comunicado a ser publicado no Sisbacen (sistema do BC de comunicação com o mercado financeiro).

Esse tipo de operação é bastante comum no mercado. As empresas que captam recursos no exterior ou que vão fazer oferta de ações com participação de investidores estrangeiros, costumam antecipar o recebimento desses recursos nos bancos, já convertidos em reais. A instituição financeira, então, se compromete a comprar os dólares na data futura (a termo), quando de fato houver a concretização da captação.

Para se proteger, os bancos costumam anular esse risco cambial com operações no mercado futuro. A novidade agora é que, para sair desse risco cambial, os bancos terão a oportunidade de negociar diretamente com o BC, adquirindo moeda nos leilões a termo da autoridade monetária.

As únicas operações que o BC fazia diretamente no mercado à vista tinham liquidação em dois dias (D+2). A autoridade monetária entendeu, no entanto, que a circular de 2002 (3.083), que regulamente o mercado, já dava condições para a realização das operações a termo. Mas elas nunca foram feitas até agora.

A grande diferença em relação ao swap cambial reverso, que o BC retomou há duas semanas, é que o leilão a termo tem troca efetiva de principal. Nos leilões de swap, o BC liquida a operação em reais por diferença de taxas (dólar e Selic). Essa operação é conhecida no mercado internacional como non-deliverable forward. Já os leilões a termo envolvem a troca de principal, com a liquidação na moeda estrangeira (deliverable forward).

Segundo uma fonte, essa operação pode ter um efeito colateral. Como há a entrega da moeda estrangeira, o BC poderia voltar a estimular os bancos a tomar recursos no exterior, o que ampliaria mais uma vez a posição vendida e pressionaria mais a cotação.