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Economia

Preço de insumos em xeque

Em carta, Sarkozy alerta Dilma sobre ação contra instabilidade. Presidente francês reitera combate a fortes oscilações de preços.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, enviou carta à presidente Dilma Rousseff na qual reitera que o G20, sob sua presidência este ano, terá como uma de suas prioridades reduzir a volatilidade excessiva dos preços das matérias-primas, principalmente dos alimentos. Foi a primeira carta de Sarkozy à nova presidente brasileira desde que ela assumiu, em janeiro, e mantém o Brasil em alerta sobre o plano francês. Sarkozy também destaca em suas demandas a reforma do sistema financeiro internacional.

O presidente francês vincula os preços agrícolas à segurança alimentar e vem alertando para os problemas políticos decorrentes da alta da inflação, considerando que aumentos de preços e volatilidade podem perdurar nos próximos anos. Na busca de coordenação internacional para obter estabilidade nos mercados, Sarkozy viajará a alguns países para “convencer” chefes de Estado do G20, que representam 85% da produção mundial. O primeiro será o presidente da Turquia.

A França tenta influenciar estudos na FAO, o braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação (FAO), na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e em outras entidades internacionais a fim de reunir argumentos suficientes para pavimentar uma eventual proposta de intervenção direta nos mercados agrícolas. O Brasil já começou a combater as ideias francesas nas primeiras reuniões técnicas do G20. Para exportadores, é preciso um diagnóstico sério sobre a variação dos preços agrícolas antes de o grupo aparecer com soluções que possam provocar novas distorções em um setor já fortemente marcado por subsídios bilionários e barreiras de toda ordem.

A própria OCDE já publicou relatório preliminar mostrando que a alta excessiva de preços de commodities desde 2005, com destaque para a explosão de preços agrícolas em 2008, não é anormal em termos históricos. E constatou que a volatilidade dos alimentos é até moderada se comparada a outras commodities, como metais e energia.

Planos intervencionistas como a criação de estoques regionais de alimentos, por exemplo, também não se justificariam, conforme avaliação apresentada na OCDE pelo professor italiano Christopher Gilbert, da Universidade de Trento (Itália). Ele examinou acordos internacionais para estabilizar preços por meio de controles da oferta seja através de estoques, como nos casos de cacau e borracha, seja por controles de exportações, como em café e açúcar, e conclui que os resultados foram na direção oposta do que se esperava – a volatilidade aumentou – e não teria sentido retomar a ideia agora.

No G20, os países exportadores defendem que a volatilidade dos preços agrícolas pode resultar de fatores fora dos mercados agrícolas, como a alta de preços de petróleo e fertilizantes, o clima e fatores macroeconômicos. Sem esquecer o crescimento da renda das economias emergentes e a redução dos estoques internacionais de alimentos nos últimos anos.

Diante de reações de vários países, Sarkozy começa a colocar nuances em suas posições. “Eu vi num jornal que queremos fixar os preços de matérias-primas. Pode-se ter um raciocínio equilibrado sobre isso? Entre o liberalismo louco total e a gestão compulsiva, talvez exista uma regra média”, afirmou. Para o Brasil e outros exportadores, de fato há espaço para mecanismos que corrijam falhas dos mercados, mas sem intervenções diretas que seriam custosas em alocação de recursos e mesmo em eficiência no setor agrícola.

Sobre o combate aos especuladores, Sarkozy poderá ter mais apoio no G20. Mas no Fórum Global de Commodities, ontem em Genebra, analistas mostraram que, apesar do aumento do interesse de investidores por commodities, a parte de matérias-primas nos contratos de derivativos é inferior a 1% do total. E das commodities como ativos financeiros, os contratos agrícolas representam 12,2%, ante 72% da energia. Sarkozy antecipou em Davos que uma das propostas da França será exigir dos investidores em matérias-primas que bloqueiem uma parte da soma que representa o custo do volume de produtos agrícolas que compraram no mercado futuro.