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Análise

Desmitificando a carne suína

A carne suína representa hoje aproximadamente 50% das carnes consumidas no planeta. Produto brasileiro é produzido com o mais alto padrão de qualidade e as benefícios nutricionais da carne são grandes.

Um suíno na década de 60 possuía em média 35% de gordura, pois cada produtor se orgulhava em dizer que, o seu animal tinha produzido cinco latas de banha, já o outro, mais orgulhoso ainda, fazia menção que o seu suíno teria produzido dez latas de banha. Isto demonstra o quanto esta gordura era importante para a época, onde se transportavam carnes no meio de latas cheias de banha de um lugar distante do outro, pois recém nesta época, começavam aparecer os caminhões câmara fria. Portanto, até para conservar carnes a banha serviu.

A carne suína representa hoje aproximadamente 50% das carnes consumidas no planeta, sendo um consumo per capta desta proteína de 15 kg pessoa ano.

A banha foi o vilão até poucos dias atrás de todos os problemas de arteriosclerose nos seres humanos, onde juntamente com a carne suína, eram proibidas pela grande maioria dos médicos e principalmente os cardiologistas. Digo médico, porque há 29 anos atrás quando minha esposa engravidou, a primeira prescrição do seu ginecologistaobstetra, foi proibir consumo de carne de porco e seus derivados.

Os leitores não queiram imaginar o que aconteceu, pois eu estava presente no momento em que o médico fez tal recomendação. Fui à loucura.

Ainda hoje é comum, pessoas que não dispõem de dados atualizados, continuam difamando uma proteína de excelente qualidade que nada tem a ver com Verminose e muito menos com gordura. A carne suína jamais deve ser bem passada e seca como muitos indicam, de medo da verminose.  Deve sim estar cozida no ponto, onde poderemos sentir o prazer de seu gosto e a maciez sempre presente, em qualquer pedaço.

Os suínos hoje comem uma alimentação tão saudável que com certeza é a alimentação que a presidente Dilma almejaria a todos os brasileiros. Suínos de todo o Brasil hoje consomem milho e soja. Os leitores acham que existe comida mais saudável que esta?

Estou tentando esclarecer as pessoas que o suíno de hoje é totalmente confinado em galpões, com bem estar fantástico, comida processada e de alto valor biológico e água, sim água é sempre tratada, igual a do Demae de Porto Alegre ou da Corsan no resto do RS. 

A água é o fator número um de contaminação das populações humana e animal.

Os suinos de hoje tomam água de chupeta, sempre tratada. Seria um verdadeiro desastre se os suinos tomassem água de rios e fontes superficiais – morreriam de doenças entéricas mais que as pessoas, visto que estas doenças nos animais são altamente contagiosas e fatais. Quando você vai tratar o animal já está morto.

É preciso também deixar claro que a suinocultura no mundo inteiro não consome absolutamente nada de hormônio em sua dieta alimentar.  Existe este tabu sempre presente em artigos publicados e ou televisados, mostrando como as pessoas que possuem poder de informar, o fazem mal. Não existe nada de hormônios nas carnes brasileiras, nenhuma delas.

Pergunta-se então: Como que um suíno pesa 120 kg aos 150 dias? Uma vez um suíno pesava 60-70 kg com um ano de idade?

Nos últimos anos forçados pela indústria esmagadora de grãos, processadora de óleos vegetais, a suinocultura teve que virar a mesa e partir para a pesquisa científica em todos os segmentos.

Sem dúvida a genética é uma das variantes responsável por este avanço e, neste sentido, houve um salto tão grande que como já citei em outras oportunidades, nos anos 60 um suíno tinha 35% de gordura e nos dias atuais não chega a 6% de gordura.

Quanto à verminose, citarei apenas alguns dados impressionantes.

Nos anos 1960, uma zoonose chamada (teníase x cisticercose) graçava violenta na suinocultura, na bovinocultura e na ovinocultura. 

Isto era comum porque o homem fazia suas necessidades fisiológicas em qualquer lugar, não havia nenhum tipo de saneamento, principalmente onde se criavam bovinos, suinos e ovinos.  As águas das chuvas lavavam os campos e se contaminavam por fezes humanas cheias de ovos e de vermes, seguindo seu rumo às lagoas e aos rios. 

Os animais tomavam destas águas e assim se infestavam de vermes, inclusive ovos da Tênia, e assim adquiriam a temida Cisticercose. Ainda hoje muitos confundem que se comerem carne com esta larva, terão a cisticercose cerebral, ou neurocisticercose, da qual jamais poderá ocorrer.

A pessoa que tem cisticercose pode ficar tranquila que não adquiriu a larva de carne nenhuma, seja suína, nem bovina, e nem ovina, (mesmo sendo carne cru, sem cozinhar) mas sim muitas vezes de sua própria falta de higiene ao se limpar com papel higiênico (por estar com a tênia em seu intestino e esta expele 160 mil ovos por semana. 80 mil ovos cada proglote) e de repente rasgou o papel higiênico, contaminou sua mão, vai deixar ovos desta Tênia na torneira, na maçaneta da porta e ou a pessoa mesma poderá deglutir estes ovos passando a mão na boca, comendo uma fruta, cumprimentando alguém, que daí em diante se transformarão em cisticercos dentro de seu próprio organismo, podendo atingir o cérebro.
Portanto caro leitor, se você comer carne com cisticercose, você terá a solitária (tênia) em seu organismo e jamais a cisticercose.

Agora se você entrar em contato com os ovos desta Tênia (solitária) que ela mesma poderá estar parasitando teu intestino, e ou comendo verduras, frutas, irrigados com águas de esgotos, daí você terá a temida cisticercose que poderá se localizar no teu próprio cérebro. Mas é claríssimo que a carne dos animais é hospedaria intermediária deste verme e se você comer carne contaminada, irá desgraçadamente continuar o ciclo. Estas carnes devem ser eliminadas e não consumidas, nem mesmo bem cozidas como falam. Por isto as carnes devem passar pelos olhos e mãos de um veterinário.

Existe outro mito, que só o suíno alberga a larva da Tênia Solium, já caída por terra nos trabalhos de Gusso e colaboradores, (secretaria da saúde do PR) onde demostrou que bovinos infestados experimentalmente também se infestam desta mesma larva. 

No ano de 2010, o RS abateu 6.577.948 (milhões) suinos sob a Inspeção Federal e a notificação da doença foi de um animal. Em Percentuais, significa; 0,00001%. Sinal dos tempos, evolução.  E muitas vezes vemos na televisão, após falarem de lixo, mostram um “porco rolando e fuçando neste meio”, tentando apenas denegrir a imagem desta maravilhosa carne.

Hoje, 99,99% da carne suína vendida nos mercados do Brasil, passam por inspeção rigorosa nas linhas de abate. 

A procedência destes animais é de criações altamente tecnificadas. Isto significa verminose zero. Esta carne suína é segura.

Lamento não poder colocar neste artigo todos os progressos genéticos, nutricionais, sanitários e melhora no manejo dos animais conseguidos pela comunidade científica e produtores, mas alguns, porém, somos obrigados a citá-los:

– Precocidade dos animais – O animal diminuiu o tempo para atingir o peso de abate. De 365 dias para 145 dias.

– Prolificidade – significa que uma fêmea suína que criava 10-12 animais por ano, atualmente passa de 30 animais por ano por porca.

-Qualidade de carne, acredite caro leitor, que a pesquisa em suinocultura já mapeou o genoma do suíno e existem empresas que conseguiram retirar alguns genes que deixavam a carne pálida. Isto quer dizer que animais que transmitiam aos seus descendentes erros genéticos, hoje, estão excluídos do processo reprodutivo.

Do ano de 1963 até a presente data, um suíno que possuía 35% de gordura, hoje evoluiu para menos de 6%. Significa dizer que no mesmo animal de 100 kg, foram retirados 29 kg de gordura e adicionado 29 kg de carne.

Nos anos 60, 100 gramas de carne suína possuíam 413 calorias e hoje possui apenas 160 calorias.

Esta evolução, nada, mas nada mesmo tem a ver com o uso de hormônios e tudo, mas tudo a ver com o estudo científico, na genética, Nutrição, Saúde animal e o saber manejá-lo.

Os leitores imaginam que uma fêmea antes de ser fertilizada através de Inseminação Artificial, passa por exames e vacinas pré-nupciais, que com certeza grande parte das mulheres brasileiras não passam, por falta de condições e assistência.  E isto continua durante toda sua vida reprodutiva, se a fêmea tiver 2, 5, ou 10 crias, todas as vezes recebem vacinas para protegerem a cria dentro do útero e pós parto.

A leitoa (menina moça entrando na puberdade) é adaptada a sua nova hospedaria, por recomendação técnica, por mais de 50 dias, atingindo assim maturidade sexual, e neste período recebe vacinas contra doenças que podem causar perdas reprodutivas, reabsorção embrionária, abortos e ou descolamento de placenta. {sangramento nas mulheres}

Durante a gestação, conforme as doenças incidentes nas várias regiões produtoras do país, recomenda-se mais uma série de vacinas, que servem para proteger o leitão logo após o nascimento, sendo então o colostro desta fêmea o grande protetor dos recém nascidos, imunizando-os de várias micro-organismos daquele ambiente.

As mulheres durante a gestação são monitoradas pelo seu médico, principalmente com o cuidado especial para a gestante não engordar. Na fêmea suína não é nada diferente, apenas que nós da nutrição fornecemos diariamente as quantidades de proteína, energia, cálcio, fósforo, etc. no volume adequado para que ela possa se sentir feliz. Bem alimentada, mudando por vezes o volume e os níveis até os dias que antecedem o parto, para que este possa ser rápido e leitões com peso viável.

Esta evolução da suinocultura é motivo de orgulho para todos os envolvidos no processo, desde o mais humilde suinocultor ao mais graduado professor de Universidade ou Centro de Pesquisa do planeta. Já visitamos todos os continentes da terra e, sem exceção, os suinocultores e todos os segmentos envolvidos na criação desta espécie se orgulham demais desta fantástica evolução.

O produtor trabalha com coleta de sêmem e ele mesmo manipula e Insemina artificialmente as fêmeas, de acordo com sua programação, é uma metodologia até bem pouco tempo atrás, que poucos tinham acesso. Hoje, no entanto todo o bom produtor dispõe desta facilidade.

O chamamento do mundo para com o crescimento das populações, cada vez mais as classes C e D passam para uma faixa de poder aquisitivo maior. Portanto, a primeira coisa que fazem é exatamente colocar a mesa para sua família, mais fartura, isto significa mais gente precisando comprar alimentos, sendo a carne um dos ingredientes da dieta mais carente as populações de menor renda.

Na China, todo o ano, uma população do tamanho da cidade de São Paulo e Rio de Janeiro juntas, saem de um nível de vida “E” e passam para “D”. Aqui no Brasil, nos últimos 15 anos, não é diferente, significando que mais gente aumentou seu orçamento, sua renda e a suinocultura é um dos segmentos que com certeza conseguirá abrandar a fome das populações deste planeta, pelo rápido retorno que proporciona.

Portanto, os que continuam a denegrir esta carne, podem se dar por vencidos. O leitor depois de ler este artigo, deve tirar suas próprias conclusões, colocando ainda que os povos mais desenvolvidos (europeus), consomem em média 42 kg de carne suína por pessoa por ano, Americanos consomem 28 kg por pessoa ano, sem mortes e com o coração em perfeito estado de saúde e sem verminose, pois nós brasileiros consumimos 13 kg desta carne por pessoa ano.

Peço aos leitores que leiam o trabalho da Drª Vera Lagaggio, pesquisadora da UFSM, demonstrando de onde vem a neurocisticercose, que o suíno leva a fama, e o grande culpado mesmo é o homem.

Por Flauri Migliavacca. Médico Veterinário CRMV-RS-1367. Diretor Técnico da Mig-PLUS. Coordenador Conselho Técnico Acsurs.