A Arábia Saudita compra do exterior cerca de US$ 10 bilhões em alimentos e bebidas por ano. Com clima desértico, o país produz menos da metade do que consome. Como a população cresce a passos largos e o governo desestimula a produção agrícola local, para economizar água para consumo humano, a tendência do mercado de importados é sempre crescer.
“A Arábia Saudita não só é um grande mercado, como é nosso maior cliente”, disse o diretor do núcleo de mercados da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Ricardo Santin. “O consumo lá é muito alto”, acrescentou.
Para se ter uma ideia, o Brasil exportou 550 mil toneladas de carne de frango aos sauditas em 2010, ao passo que o segundo maior mercado, que é o Japão, importou 385 mil toneladas, de acordo com dados do Ministério da Agricultura.
O frango é o produto brasileiro com mais histórias de sucesso no mercado saudita. Marcas como Sadia e Perdix, como a Perdigão é conhecida no país, são líderes de mercado há anos e é possível encontrar marcas “made in Brazil” em qualquer supermercado.
Nesse setor, o Brasil está muito na frente de outros países exportadores, pois, segundo Santin, tem participação de 90% no mercado saudita de frango importado. “Temos [na Arábia Saudita] um mercado forte, consistente e sem nenhum problema”, declarou o executivo.
Além do frango, outros produtos alimentícios que a Arábia Saudita importa em grandes quantidades do Brasil são açúcar, carne bovina, milho e soja. Os exportadores brasileiros sabem que o mercado demanda produtos agropecuários a granel.
Desafio – O desafio é ampliar as vendas de alimentos e bebidas industrializadas. “Temos que buscar os desafios”, destacou o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby.
Nesse sentido, a Câmara Árabe, em parceria com o Itamaraty, vai participar pela primeira vez de uma feira do ramo de alimentos em Jeddah, na Arábia Saudita. “O objetivo é buscar a diversificação [das exportações brasileiras] na área de alimentos”, ressaltou Alaby.
Para o trader Fábio Chalita, que trabalha com exportação de alimentos industrializados para o Oriente Médio, o mercado saudita é “muito bom e muito grande”, mas introduzir produtos acabados não é tão simples como vender itens básicos.
Em primeiro lugar, de acordo com ele, há forte concorrência, principalmente de fornecedores europeus. Há também a burocracia para liberar a comercialização dos produtos no país, além da necessidade de se ter mercadorias para pronta entrega.
“Os supermercados preferem trabalhar com distribuidores locais para ter reposição imediata dos produtos”, afirmou. Trabalhar com um distribuidor, segundo o empresário, pode também facilitar os trâmites burocráticos.
Sua empresa, a Unitrading, representa, entre outros setores, fabricantes brasileiros de atomatados e vegetais em conserva. Chalita afirmou que já conseguiu colocar algumas mercadorias do gênero no mercado, por meio de distribuidores, e que obteve alguns resultados positivos, mas os volumes exportados são pequenos. Nessa seara, a concorrência de outros países fornecedores se faz sentir. “É preciso trabalhar para conseguir vender volumes maiores”, destacou.
Quem vende para lá, mas também em quantidades pequenas, é a Ruette Spices, que comercializa pimentas e cravos. De acordo com Fernanda Tavares, gerente de exportação da companhia, importar lotes reduzidos é uma característica dos clientes que a empresa tem lá, ao contrário dos importadores com quem ela trabalha nos Emirados Árabes Unidos, que costumam fazer encomendas maiores.
“Vendemos diretamente [para a Arábia Saudita], mas normalmente as quantidades não são grandes”, declarou Fernanda. As especiarias geralmente são distribuídas pelos importadores para o varejo local.
Adaptação – Alaby ressalta que é importante investir em certos diferenciais para conquistar o mercado saudita, como a certificação halal, que atesta que o alimento foi produzido de acordo com preceitos muçulmanos. A religião é um fator importantíssimo na Arábia Saudita.
Santin, da Ubabef, lembra, por exemplo, que todo o frango exportado pelo Brasil ao país árabe é halal e, além disso, adaptado ao gosto do consumidor local. Ao contrário das aves maiores comercializadas no mercado brasileiro, na Arábia Saudita, e no mundo árabe em geral, são vendidos franguinhos que pesam de 800 a 900 gramas, quase como se fossem porções individuais.
“Nós tentamos vender alguns produtos com maior valor agregado, como cozidos e cortes especiais, mas a demanda é [principalmente] essa (por frangos pequenos e inteiros)”, declarou Santin. Certas empresas, como a Sadia, comercializam na região itens processados desenvolvidos especialmente para o gosto árabe, como o shawarma, que no Brasil é conhecido como churrasco grego.
Chalita acrescenta que existem “fatias” do mercado saudita ainda não exploradas e que abrem chances para negócios. Ele cita produtos bastante conhecidos no Brasil, como doce de leite e goiabada, que são desconhecidos na Arábia Saudita, mas podem cair no gosto do consumidor.
“São produtos que podem ser explorados porque não existem no mercado. É preciso começar a levá-los para torná-los conhecidos e despertar o paladar do consumidor. Existe um potencial grande”, afirmou. Vale lembrar que os doces em geral são bastante apreciados pelos consumidores árabes.