Apesar de ser o maior exportador de carne bovina do planeta desde 2003, os riscos de o Brasil perder esta posição privilegiada não são nada desprezíveis. Este foi o alerta dado pelo médico veterinário do Programa Carne Angus Certificada, Fábio Schuler Medeiros, durante o Seminário de Pecuária da Carne, ontem (12), na Expo Londrina 2011.
No ano passado, o País exportou 1,8 milhão de toneladas da commodity, sendo que a segunda colocada do ranking, a Austrália, vendeu 1,3 milhão de toneladas e os Estados Unidos, 837 mil quilos. Mas, de acordo com Medeiros, o risco maior não é de o Brasil ser ultrapassado pelos australianos nem pelos norte-americanos. O perigo vem da Índia.
“A vaca é sagrada, mas nem todo indiano é hinduísta e a maior parte da carne do país é de búfalos”, justifica. Em 2010, o país asiático exportou 700 mil quilos de carne, sendo o quarto no ranking mundial. “O mercado indiano está crescendo e eles passam a ser um importante player internacional”, afirma.
Em favor da Índia, de acordo com ele, ainda pesa o custo mais baixo de mão de obra e a proximidade de países importadores. Sem contar que o rebanho indiano é o dobro do brasileiro, cerca de 300 milhões de cabeças. “Só não são mais fortes comercialmente por razões religiosas. O mercado interno indiano é bem restrito”.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), as exportações feitas pelo Brasil vêm caindo desde 2007, quando totalizaram 2,5 milhões de toneladas. “E o mercado internacional revisou para baixo a estimativa brasileira para 1,6 milhão de tonelada neste ano”, aponta o veterinário.
A crise financeira de 2008 e o dólar baixo são as principais razões para esta queda. Mas há outro fator importante em jogo. ”O Brasil precisa investir em melhoramento genético e oferecer uma carne melhor no mercado internacional. A carne brasileira é considerada de baixa qualidade lá fora”, alega.
Medeiros lembra que 80% do rebanho brasileiro é de zebuínos – espécie de origem indiana. “Não é segredo para ninguém que esses bois têm limitações bioquímicas para uma boa qualidade de carne, que é mais dura que a do gado europeu (taurino)”.
A saída para o problema, conforme afirma o veterinário, é o Brasil intensificar os cruzamentos entre as raças zebuínas, mais resistentes ao calor e a parasitas, e as taurinas, que são mais macias e apreciadas pelo consumidor internacional.
Para ganhar mais mercado, Medeiros indica que o Brasil também precisa investir em rastreamento do rebanho, pois isso proporciona maior segurança em sanidade animal e abre mais possibilidades de vendas externas. Outro ponto que, segundo o veterinário precisa ser melhorado, é a organização da cadeia produtiva brasileira. O País não conta com nenhuma entidade que represente desde o produtor até o exportador, ao contrário dos concorrentes.
Pontos fortes – Apesar dos fatores negativos, Fábio Medeiros diz que há uma série de pontos fortes na produção da carne brasileira. “Somos competentes, temos boas pastagens e um consumo interno muito grande. Somos um País comedor compulsivo de carne, cerca de 38 quilos por habitante ao ano”. De acordo com ele, 83% da produção brasileira é para abastecer o mercado interno, enquanto que, na Austrália, esse índice é de 34%.
Para o veterinário, outra vantagem brasileira é a sanitária. “A maior parte do nosso território é livre de aftosa com vacinação”. O fato de o País ter 95% da pecuária em pasto é também um ponto forte. “Nos Estados Unidos, a maior parte da pecuária é em sistema confinado”, explica.
Por último, ele destaca que o Brasil está avançando cada vez mais na incorporação de tecnologia nas propriedades rurais.