Para atender a demanda nacional e internacional do mercado de commodities agrícolas nos próximos dez anos, o Brasil precisará expandir sua área plantada em pelo menos 11,2 milhões de hectares. Para financiar a aquisição de terras, formação das lavouras e implantação da infraestrutura básica serão necessários recursos da ordem de R$ 93,5 bilhões, segundo estudo conjunto realizado pela Agroconsult e pela MB Agro.
As consultorias estimam que 5,5 milhões de hectares da área total projetada serão destinados às culturas de soja, milho e algodão, que consumirão R$ 31,2 bilhões. A cana-de-açúcar adicionará à sua área outros 3,1 milhões de hectares. Devem ser necessários R$ 43,8 bilhões para a compra das áreas e para a formação dos canaviais – o valor não leva em conta a construção de novas usinas. Para o segmento de florestas plantadas, serão outros 2,6 milhões de hectares, com investimento de R$ 18,5 bilhões.
“Dos recursos necessários para expandir a área nos próximos dez anos pelo menos metade teria que vir de investidores estrangeiros. O capital nacional não seria suficiente para promover esse crescimento no prazo de uma década”, afirma André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult. O consultor observa que nos últimos 30 anos, sem uma presença marcante de recursos estrangeiros, a área agrícola no Brasil passou dos 34 milhões de hectares em 1980 para os atuais 39 milhões de hectares.
A expansão da área plantada no Brasil via capital estrangeiro, no entanto, ainda está limitada pele Advocacia Geral da União (AGU). Em agosto do ano passado, um parecer da entidade impôs restrições a aquisições e arrendamentos de terras por empresas brasileiras que tenham sócios estrangeiros com participação superior a 51% em seu capital social. “Estimamos que devido ao parecer da AGU, desde agosto do ano passado cerca de US$ 15 bilhões deixaram de entrar no país”, diz Pessôa.
O estudo feito pelas consultorias foi encomendado pela Associação Brasileira de Marketing Rural&Agronegócio (ABMR&A) para medir o impacto econômico que o parecer da AGU pode ter sobre o setor nos próximos anos. “Ainda estamos analisando as informações, mas os dados servirão de subsídios para medidas que poderão ser tomadas por nossos associados futuramente”, afirma Maurício Mendes, presidente da (ABMR&A).
Mais do que simplesmente a aquisição e arrendamentos de terras por estrangeiros, o parecer da AGU vai além. Bancos e tradings estrangeiras que concedem empréstimos aos agricultores, por exemplo, costumam pegar como garantia exatamente as propriedades e estão sendo diretamente impactados pelo parecer da AGU. “Se essas empresas não podem mais passar as terras para seus respectivos nomes, elas terão que aumentar as exigências, pegar outras garantias ou mesmo deixar de conceder empréstimos para clientes do setor agrícolas”, afirma Pessôa.